Capítulo 41

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Araceli estava vestida em um vestido de seda azul petróleo; a pele, branca e delicada, brilhava contra a suave luz da noite enquanto a lua se aproximava de seu apogeu e a hora da metamorfose da princesa se aproximava. Ela fazia seu discurso de forma confiante, buscando acalmar o coração dos mais temerosos e recompensar aos que acreditavam em seu potencial. O povo praticamente vibrava com a expectativa de uma nova rainha se erguer.

— O destino tece o tempo de formas que jamais poderemos compreender. Tece-o para que seja memorável, inigualável e inesquecível. Eu sou mais do que grata a ele por ter me dado vocês, não como meu povo, mas sim como minha família. Sei que muitos de lembram do governo de minha mãe, Rainha Zara, o qual foi imaculado e onde nosso povo prosperou contra todas as adversidades. Não posso prometer o futuro, não sei como serão as eras que se seguem, mas eu lhes prometo o presente. Um que não faltará compreensão e comprometimento, justiça e compaixão, lições e aprendizado. Cresceremos juntos em um presente que será simplesmente glorioso.

Araceli sorriu ao receber a chuva de aplausos que se seguiu; uma que não foi longa. A hora de iniciar a metamorfose finalmente chegara e todo o futuro de Elfee dependia daquele momento. Seria doloroso de formas inimagináveis, dores que ultrapassavam o físico e o espiritual, tornando carne e alma uma só coisa.

Os chefes estavam ao redor dela no palanque enfeitado inteiramente com flores e folhas brancas e azuis. Eles a reverenciaram quando ela se virou de costas para o povo e subiu o primeiro degrau, depois mais um e mais outro, até enfim estar exatamente abaixo do arco transado com plantas e pedra que fora construído unicamente para aquele momento.

Todos assistiam com ansiedade, silenciosos naquele momento crucial. Araceli abriu as enormes asas e cobriu seu corpo como se usasse um manto. Duas fadas, crianças que mal haviam aprendido a voar, planaram até ela e desataram os laços do vestido em seus ombros, permitindo que o tecido deslizasse pelo corpo protegido pelas asas e caísse como pluma ao redor de seus pés. Ela fechou os olhos, sussurrando algumas palavras e o ar se encheu de magia e tremor. Eles assistiram quando ela, ainda com as asas ao redor de seu corpo, flutuou até estar rente ao arco. O palanque foi retirado de onde estava, de forma que apenas o nada separasse a princesa do chão. Muitos prenderam suas respirações, mas logo arfaram quando uma membrana branca azulada começou a se formar ao redor da princesa, cintilando contra a luz suave. Em instantes, Araceli havia desaparecido dentro de um gigantesco casulo. Como se apenas estivesse aguardando o momento certo, o ar ao redor da cidade vibrou e tudo mais pareceu perder parte do brilho, como se um interruptor de magia houvesse sido desligado.

— Agora é só esperar.

Maria interrompeu o silêncio em que ela e os amigos adotaram durante toda a cerimônia. Estavam perto do palanque, em um local estratégico onde poderiam ver tudo o que estava acontecendo e agir antes de serem pegos de surpresa. O ambiente, após a estranha transformação da princesa, se enchera de gritos e comemorações apressadas e, em instantes, a música antes etérea se tornou algo vivo e animado, puxando todos os corpos que conseguisse alcançar para a festa dançante que se formara ao redor do casulo de Araceli, como se tudo já estivesse concluído.

— Por favor, alguém me diga que não sou apenas eu que estou traumatizada. Isso foi muito, muito estranho. — Rose resmungou, fazendo careta ao encostar a cabeça no peito de Daniel, o qual tinha ambas as mãos em sua cintura.

— Alguns diriam que sua fixação por roupas é estranha, princesa. — Ele retrucou em tom zombeteiro.

Rose sorriu, revirando os olhos em seguida e o cutucou com o cotovelo.

— Fala sério, em qual cultura isso daí é normal? Ela virou uma lagarta gigante.

— Eu gostei. É único e característico das fadas. Muitos dos costumes delas derivam dos mistérios da natureza. — Cassie sorriu, retirando alguma sujeita invisível do vestido azul como o céu noturno. — E o certo é casulo, Rose. Você nunca prestou atenção nas aulas de biologia?

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