O resto do dia foi tranquilo. Eu e Sara ficamos intimidados com a presença do pai de Sirius em sua casa. Myan aparecia cada vez mais. A pressão estava aumentando, e tínhamos que pensar em algo.
Dariamos Sirius e sua mãe entregues a morte, para poupar que ele matasse a nós? Isso parecia egoísta, e Sara também achava isso. Nossos diálogos começaram a girar em torno disso. Não conhecíamos quase ninguém em Kilian, então como pediriamos ajuda? Sei que é uma coincidência, mas depois de uns dias, uma mulher bateu na porta da família de Sirius. Seu pai atendeu a porta.
- Sim? Ah, Mel, que bom vê-la! Como você está? - perguntou o pai de Sirius, feliz, abrindo a porta.
- Estou bem, e você? Vim fazer a observação mensal. Alguma novidade? - Disse a voz feminina do outro lado da porta.
- Não, quer entrar? Podemos tomar alguma coisa. Maya estava falando de você hoje.
- Ah, acho que posso, vocês são a última casa de hoje mesmo. Como está Sirius?
- Está ótima, Mel.
Me aproximei lentamente da porta do quarto de Sirius para dizer que havia chegado uma tal de "Mel"
- Ei Sirius, tem uma mulher chamada Mel aqui na sua casa. Acho que é pra você falar com ela, não sei. Ela parece ser legal - disse, meio atrapalhado.
- Ah, a Mel! É uma amiga da família, ajudamos muito ela no passado, e ela como Lafo nos protege hoje. São como a polícia. Todo mês ela vem aqui, e as vezes vem a toa para conversar. Ela é muito importante para nós e nós para ela. Eu amo ela. Já vou lá.
- Está bem. Eu vou procurar a Sara.
Fui procurar Sara não para avisar algo, mas a toa, pra ter algo que fazer. Ela estava lá fora conversando com Malik. Suas risadas eram altas, mas rapidamente se dissolviam através das árvores. Fui até eles. Podia estar atrapalhando, mas sinceramente não me importava. Sara era antes de qualquer coisa, minha amiga. Antes, principalmente, dele. E eles estavam todos os dias conversando, eu só falava com ela sobre Myan mesmo.
- Oi gente - disse, interrompendo a risada deles. Por que diabos riam tanto?
- Oi! - disseram em unissono. Ainda estavam sorrindo, aparentemente se divertindo com a minha aparição repentina.
- Como estão? - ah, a falta de assunto. Eu não tinha intimidade com Malik. Só com Sara. Logo, era difícil criar assuntos interessantes que durassem.
- Bem. Hein, eu escutei uma voz... Familiar lá dentro. Quem está lá? - perguntou Malik. Todos aqui eram familiares, por que ele disse isso de Mel?
- Sim, uma tal de Mel veio aqui. Um lafo. Ela está lá dentro conversando com a Sirius e a mãe dela, provavelmente o pai também - eu até queria um pouco, lá no fundo, conhecê-la. Mas era melhor não me meter.
- Ah, eu vou pra lá, espero que não se importem - e saiu saltitando.
- Então Sara, novidades? - perguntei, logo depois que Malik saiu.
- Vou falar logo, tá? Quando você veio aqui tão rápido e disse algo sobre essa Mel, e disse que ela é um lafo, me ocorreu se ela não nos ajudaria... Talvez seja estupido da minha parte pensar isso, mas, sei lá, e se pedissemos ajuda? Pra deter Myan. Ele é um Sero, ela é um Lafo... Ela como Lafo não conhece alguém mais poderoso? Ou, talvez, ela mesma possa destrui-lo? Nós não temos culpa, não iam nos colocar como vilões da história. E se conseguirmos aliados não corremos o risco de Myan ganhar e nos matar. Podemos armar uma armadilha. E mata-lo. Não deixar que fuja para fazer isso com mais ninguém. Sinceramente, eu não sei se isso é muito genial ou muito burro, mas... Pensei nisso.
Ah, a genialidade de Sara.
Acontece que eu também não sabia se era útil ou não.Dei um longo suspiro. Pude ver através de sua expressão que ela estava com medo de ser julgada. Então quis falar diretamente.
- Eu não sei exatamente se ia sair do jeito que você disse. Mas se planejarmos direitinho talvez dê - abri um sorriso fraco, e o fechei - mas será que ela é de confiança o suficiente para que peçamos isso?
- Não sei, podemos conhecê-la.
- Ok, se ela for de confiança. Contamos para Sirius e sua mãe? Ou lutamos contra isso sozinhos? O "sozinhos" - eu realmente fiz aspas com os dedos - seria eu, você e Mel.
- Podemos contar. Mas não sei como. E se acharem que traimos elas? - Sara, sempre pensando nas pessoas.
- Acho que elas entenderiam que estávamos sob risco de morte, e Myan nos manipulou - tomara.
- Espero que sim. Contamos hoje? - disse Sara, apressada.
- Melhor não. Vamos esperar um ou dois dias pensando no que dizer. Se dissermos repentinamente ia ser estranho.
- Tem razão. Mas podemos conversar com a Mel e nos aproximar dela - boa estratégia, até.
- Boa, vamos, só se lembre de não parecer insolente, Sara - sem uma brincadeira entre nós, não nos reconheceriamos.
Sara esboçou uma risada sarcástica, que se calou rapidamente, enquanto me puxava para dentro da casa, cumprir o que havíamos dito que faríamos.
Quando chegamos dentro da casa, todos estavam sentados no sofá, conversando calorosamente com uma intimidade realmente impressionante. Até Malik estava lá.
Nos perceberam espreitando nas sombras, observando.
- Ei Paulo, Sara! - chamou a mãe de Sirius - venham aqui, conheçam a Mel.
- Oi crianças! Maya me contou que vocês tinham sido perseguidos por um Sero e chegaram aqui. Parabéns pela coragem - Mel tinha uma voz feminina, porém firme. De certa forma, aconchegante.
- Sirius nos falou muito bem de você - respondi prontamente, com um sorriso forçado (incrivelmente forçado, mas totalmente convincente)
- Ah, sério? - Mel encarou Sirius com um sorriso genuíno no rosto, em que sua pele se esticava em volta da boca e formava ruguinhas.
- Hmm, sim - disse timidamente Sirius.
Sara finalmente entrou na conversa.
- Você é um Lafo? - muito discreta, Sara. Muito discreta mesmo.
Mel soltou uma risada. E disse logo depois:
- Sou! Venho aqui mensalmente ver se está tudo bem, e acabo batendo papo - e riu de novo, dessa vez olhando para a mãe de Sirius.
A conversa se estendeu, Malik entrou nela. Até o pai de Sirius se rendeu às risadas que dávamos e deu uma parada no mau humor para conversar também. A noite fomos dormir cedo, Mel já havia ido embora.
- Boa noite, Paulo - sussurrou Sirius, quando fomos dormir.
- Boa noite Sirius. Durma bem.
- Obrigada - esse último "a" ela estendeu por alguns segundos, provavelmente com o desejo de parecer mais educada.
Adormeci rapidamente. Finalmente minha consciência havia perdido um pouco de peso, por que eu e Sara tínhamos um plano. Não fiquei pensando em possibilidades. Poderia? Poderia. Mas para que se agora tínhamos um plano?
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O Preço da Sinceridade
Fantasy(e da falta dela) [Sendo reescrito, sujeito a alterações] Paulo e Sara se conhecem desde sempre. São o porto seguro um do outro, e estão sempre buscando aventuras. Um dia um homem bate a porta da casa de Paulo, alegando precisar da ajuda única deles...