Capítulo 8

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Não consigo descrever em palavras o quanto eu estava ansioso pela chegada do homem.

Quando deu sete da manhã, nos levantamos, cientes de estar num horário bom. Tomamos café e nos sentamos no banco a frente do sítio para espera-lo.

- Ah, Paulo, não dormi muito bem essa noite. Estou com dor nas costas e nas pernas.

- Eu também, será que isso será um problema?

- Acho que não. Tudo já está preparado. Nossa mãe acha que é um encontro de amigos nas férias, que durará um tempo incerto, e Sofia confirmou. Ela está acreditando.

- Ótimo. Sabia que fica linda quando está dormindo?

- Olhos fechados, boca aberta...?

- Tem razão. Mas você fica, de algum jeito incrível.

Sara riu.

- Bom, não vou reclamar disso.

Um tempo depois o moço chegou e conversou com a nossa mãe.

- Eles podem ir, então?

- Podem sim, vai ser bom pra eles rever os amigos.

O homem nos olhou, provavelmente dizendo que havíamos escolhido um bom álibi.

- Está bem. Vamos, crianças, vamos pelo caminho do riacho.

E saímos pra caminhar.

Quando chegamos no riacho, achei que estava delirando. A água, do nada, começou a ficar arroxeada, e as árvores mudavam de lugar.

- O que é isso? - perguntei.

- Estamos saindo daqui - o homem disse.

Aí que tudo se concretizou. Eu via uma planície verde, muito bonita por sinal. E um rio um pouco depois, com a água roxa. E alguns seres alados, animais e tudo que eu um dia havia imaginado. Sara foi mais rápida que eu:

- São Lafos?

- São sim. Mas lá no seu mundo minhas asas não apareciam.

Olhei pra ele, e então vi finalmente suas asas acinzentadas.

- São lindas, senhor.

- Todas são - disse o senhor.

- Mas porque estamos tão longe?

- Fui pego. Até morrer não devo aparecer lá. Por isso preciso me curar.

- Ah, sim, então temos que ir indo - exclamou Sara.

- Nós vamos sim. Sigam-me - e deu meia volta, entrando na floresta aos poucos.

Se passaram uns minutos.

- Ele vive na floresta? - perguntei.

- Bom, estamos indo pra lá - ele respondeu.

Se passou um tempo.

- Precisamos saber seu nome - quis saber Sara.

- Myan.

- Que nome bonito!

- Obrigado.

E assim fomos por boa parte do caminho.

Depois do que eu achei ser duas horas, encontramos uma casa simpática, feita de madeira e enfeitada com flores que eu nunca havia visto

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Depois do que eu achei ser duas horas, encontramos uma casa simpática, feita de madeira e enfeitada com flores que eu nunca havia visto. Quis saber se já havíamos chegado.

- É aqui?

- O que?

- É aquela a casa do seu amigo? - apontei para a casa.

Myan abriu a boca para olhar para onde eu tinha apontado, e um sorriso se abriu.

- Não, isso me lembra... Eu tenho que ver um amigo, é importante. Não posso ser visto por ninguém, de jeito nenhum, nem sequer mencionado. Julgamento, sabem? Mas vocês podem.

- O que está insinuando? - perguntou Sara.

- Entrem lá e façam amizade. Eu demorarei uns dias.

- Mas você não ia só ver seu amigo?

- Você não ia ficar quieto? Estou indo num amigo que é médico para tratar a dor. Daqui uns dias volto para retomarmos nossa viagem.

- Entendido - disse eu.

Sara me fez uma cara de desapontada, e quando olhou para Myan, ele havia sumido.

- Teremos que entrar então... - disse Sara.

- Vamos logo, vamos dizer que escapamos de um Sero e nos perdemos.

- Brilhante!

Fomos até a porta e Sara bateu nela, fizemos cara de cansado.

Atendeu a porta uma criatura que eu nunca tinha visto ou imaginado. Era roxa, mas mais clara que a água, era bonita, estranhamente. Tinha a nossa altura, e suas feições eram humanas...
Tinha o nariz arredondado na ponta, e fino.

Os olhos eram verdes e misteriosos, e me peguei observando seus cílios cumpridos mais de uma vez, no decorrer da história. Sua boca era daquele tipo relativamente grande, mas com o lábio de cima sem divisão.

- Olá, em que posso ajuda-los?

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