Não consigo descrever em palavras o quanto eu estava ansioso pela chegada do homem.
Quando deu sete da manhã, nos levantamos, cientes de estar num horário bom. Tomamos café e nos sentamos no banco a frente do sítio para espera-lo.
- Ah, Paulo, não dormi muito bem essa noite. Estou com dor nas costas e nas pernas.
- Eu também, será que isso será um problema?
- Acho que não. Tudo já está preparado. Nossa mãe acha que é um encontro de amigos nas férias, que durará um tempo incerto, e Sofia confirmou. Ela está acreditando.
- Ótimo. Sabia que fica linda quando está dormindo?
- Olhos fechados, boca aberta...?
- Tem razão. Mas você fica, de algum jeito incrível.
Sara riu.
- Bom, não vou reclamar disso.
Um tempo depois o moço chegou e conversou com a nossa mãe.
- Eles podem ir, então?
- Podem sim, vai ser bom pra eles rever os amigos.
O homem nos olhou, provavelmente dizendo que havíamos escolhido um bom álibi.
- Está bem. Vamos, crianças, vamos pelo caminho do riacho.
E saímos pra caminhar.
Quando chegamos no riacho, achei que estava delirando. A água, do nada, começou a ficar arroxeada, e as árvores mudavam de lugar.
- O que é isso? - perguntei.
- Estamos saindo daqui - o homem disse.
Aí que tudo se concretizou. Eu via uma planície verde, muito bonita por sinal. E um rio um pouco depois, com a água roxa. E alguns seres alados, animais e tudo que eu um dia havia imaginado. Sara foi mais rápida que eu:
- São Lafos?
- São sim. Mas lá no seu mundo minhas asas não apareciam.
Olhei pra ele, e então vi finalmente suas asas acinzentadas.
- São lindas, senhor.
- Todas são - disse o senhor.
- Mas porque estamos tão longe?
- Fui pego. Até morrer não devo aparecer lá. Por isso preciso me curar.
- Ah, sim, então temos que ir indo - exclamou Sara.
- Nós vamos sim. Sigam-me - e deu meia volta, entrando na floresta aos poucos.
Se passaram uns minutos.
- Ele vive na floresta? - perguntei.
- Bom, estamos indo pra lá - ele respondeu.
Se passou um tempo.
- Precisamos saber seu nome - quis saber Sara.
- Myan.
- Que nome bonito!
- Obrigado.
E assim fomos por boa parte do caminho.
Depois do que eu achei ser duas horas, encontramos uma casa simpática, feita de madeira e enfeitada com flores que eu nunca havia visto. Quis saber se já havíamos chegado.
- É aqui?
- O que?
- É aquela a casa do seu amigo? - apontei para a casa.
Myan abriu a boca para olhar para onde eu tinha apontado, e um sorriso se abriu.
- Não, isso me lembra... Eu tenho que ver um amigo, é importante. Não posso ser visto por ninguém, de jeito nenhum, nem sequer mencionado. Julgamento, sabem? Mas vocês podem.
- O que está insinuando? - perguntou Sara.
- Entrem lá e façam amizade. Eu demorarei uns dias.
- Mas você não ia só ver seu amigo?
- Você não ia ficar quieto? Estou indo num amigo que é médico para tratar a dor. Daqui uns dias volto para retomarmos nossa viagem.
- Entendido - disse eu.
Sara me fez uma cara de desapontada, e quando olhou para Myan, ele havia sumido.
- Teremos que entrar então... - disse Sara.
- Vamos logo, vamos dizer que escapamos de um Sero e nos perdemos.
- Brilhante!
Fomos até a porta e Sara bateu nela, fizemos cara de cansado.
Atendeu a porta uma criatura que eu nunca tinha visto ou imaginado. Era roxa, mas mais clara que a água, era bonita, estranhamente. Tinha a nossa altura, e suas feições eram humanas...
Tinha o nariz arredondado na ponta, e fino.Os olhos eram verdes e misteriosos, e me peguei observando seus cílios cumpridos mais de uma vez, no decorrer da história. Sua boca era daquele tipo relativamente grande, mas com o lábio de cima sem divisão.
- Olá, em que posso ajuda-los?
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O Preço da Sinceridade
Fantasi(e da falta dela) [Sendo reescrito, sujeito a alterações] Paulo e Sara se conhecem desde sempre. São o porto seguro um do outro, e estão sempre buscando aventuras. Um dia um homem bate a porta da casa de Paulo, alegando precisar da ajuda única deles...