Capítulo 2

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No dia seguinte, Sara me desafiou a pular o pequeno rio para escalar árvore de jabuticaba do outro lado. Mas a correnteza estava muito forte. Depois de muito insistir, Sara me convenceu. Havia me prometido uma recompensa: se eu atravessasse o rio, ela me daria uma prova de seu chocolate caseiro, cuja receita só ela sabia e ela mesma cultivava o cacau e misturava tudo. 

- Sara, isso é patético! - gritei, me equilibrando numa pedra escorregadia no pequeno riacho.

- É patético só pra você, que não consegue pular um mísero riacho pra escalar uma árvore!

Eu já havia provado ele uma vez, e era tão bom. E a chance de come-lo de novo não devia ser desperdiçada. Com dificuldade pulei pelo riacho por cima das pedrinhas escorregadias. Comemos jabuticaba até não querer mais na árvore do outro lado, e, quando voltei para casa, cobrei meu favor:

- O chocolate, por favor? - perguntei, ansioso, estendendo a mão como se Sara já tivesse o chocolate na palma das mãos. 

Ela foi buscar, devia ter demorado um minuto, mas para mim, esse instante demorou muito, eu estava muito ansioso para provar o chocolate. Depois de um minuto, ela chegou, carregando uma barra do que (disse ela) seria o melhor chocolate que eu algum dia eu iria provar. E era mesmo, sua coloração se estendia entre tons de marrom escuro como madeira de pinheiro, a tons de marrons mais claros, pouco mais escuros que caramelo. Seu sabor era uma mescla de chocolate ao leite, branco, amargo, com avelã e tudo mais, era impossível explicar. E parece até estranho considerar que era tão bom. Mas eu era novo e não tinha experimentado muita variedade de sabores em minha vida. Aquele chocolate foi para mim como um bom livro e chá num dia tempestuoso, do tipo que a água ricocheteando nas janelas faz mais barulho do que o som da minha voz. Foi como se fadinhas estivessem incrementado milhares de partículas de sabores de chocolate que combinavam perfeitamente e derretiam na boca. E o cheiro não chegava muito longe da  glória que o resto do chocolate exalava só pela aparencia. Ou talvez eu tivesse sentido isso por que tinha apenas 14 anos e não tinha muita noção de sabores...

- Nossa! Que chocolate maravilhoso! Ele é ótimo. - disse, após engolir o chocolate delicioso.

- Pois é! Faço desde os onze. - exclamou Sara, provavelmente se gabando de uma habilidade que ela desenvolveu sozinha.

- Onze?! - perguntei, ficando boquiaberto de repente. Eu só sabia que fazia há uns dois anos.

- Sim, e fica muito melhor com frutas... - disse ela desviando o olhar e dando mais uma mordida na barra dela. O melhor do chocolate dela era que fazia Sara avermelhar suas bochechas.

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