Capítulo 17

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Depois de uns dois dias já sabíamos o que iríamos dizer para Mel. Agora era esperar que ela aparecesse na casa de Sirius. Até lá, Myan não sossegou, e continuou falando conosco. Ensaiavamos, eu e Sara, o que diríamos:

- ...E ele se revelou mau. E nos disse que se não levassemos Sirius a ele para ser morta, ele ia nos matar. Surtamos, não sabíamos o que fazer... - disse eu, ensaiando, me lembrando de cada palavra.

- E aí você surgiu, coincidentemente, como um Lafo - Sara riu com seu pensamento de dizer "como um anjo" mas substituindo por "Lafo" por que, realmente - e pensamos no que dizer para você, para que você nos ajudasse a...? - Sara travou nessa parte. Ela sempre travava nessa parte.

- Engana-lo e impedir que ele mate Sirius - completei

- Ah, sim. Por que eu tenho tanta dificuldade nessa parte? - se questionou Sara.

- Só praticar.

Um pensamento que me consumia era se Mel:

1- acreditaria em nós.
2- não iria nos julgar.
3- nos ajudaria.

Confirmar todos era difícil, e ainda mais se você supostamente traiu a família que o hospedou.

Os dias passaram lentamente, eu me aproximando de Sirius, mesmo dizendo que não faria isso, Sara falando bastante com Malik...

E nós dois sempre conversando sobre o que fazer.

- Se ela nos dedurar, o que aconteceria? Como lidariamos com as acusações? Voltaríamos para o nosso mundo? - questionou Sara.

- Em primeiro lugar, vai funcionar, relaxa. Em segundo lugar, se isso acontecer é só a gente se despedir do pessoal, dizer não a Myan e dar o fora.

- Então por que não fazemos isso agora?! Para salvar Sirius?!

- Por que corremos o risco de que ele encontre outra pessoa para fazer isso. E de preferência o queremos morto para que isso não aconteça. E vamos matar ele, com certeza.

- Ta bom. E falta pouco para eu decorar o resto das frases, até ela chegar eu vou saber.

- Você já saberia se associasse as palavras ao que vivemos!

- Calma lá, eu sei o que a gente fez. Só esqueço das palavras que usamos para parecer convincentes.

Eu só estava estressado, Myan estava aqui - apontando para o pescoço - com a gente. Não podíamos arriscar.

A mãe de Sirius avisou para nós todos:

- Crianças, amanhã vai ter um tour no castelo do Rei Lafo ( havia também um castelo do Rei Sero, mas eles não atacavam entre si) para jovens de 10 a 13 e 14 a 17, separadamente. Eu não vou poder ir, nem o seu pai - disse, olhando para Sirius - então Mel vai com vocês. No caso, se quiserem ir.

- Eu quero ir - eu e Sara dissemos em unissono.

- Tá bom mãe, Malik pode ir junto? - perguntou Sirius.

- Claro, se a mãe dele concordar...

A mãe de Malik concordou, então todos fomos, no dia seguinte.

- Por aqui, gente, todo mundo junto comigo, se não vou acabar perdendo vocês e sua mãe não vai gostar disso, Sirius - disse Mel.

- Tá bom Mel, e pessoal, vai ser divertido, eu prometo - disse Sirius.

- E sua palavra vale alguma coisa? - rebateu Malik, com um sorriso malicioso no rosto.

- Para você, não sei, mas para eles vale tudo o que podem aprender sobre Kilian - disse Sirius - além disso, não sei se contei para vocês, mas no final podemos falar com o Rei, um por um.

- Sim, exatamente - concordou Mel.

Sara veio para mais perto de mim, e sussurrou:

- Paulo, e se falássemos com Mel agora?

- Não dá, Sirius e Malik estão aqui, na verdade, tem muita gente aqui - respondi.

- E se a puxarmos para o lado? Pode ser nossa única chance em um mês de ver ela, e ate lá Myan não vai mais ter paciência - deu uma pausa - ah, e eu já decorei o que eu tinha que dizer.

- Não, é arriscado. Alguém pode ver, estamos no castelo do Rei, Sara.

- Ei, Sara! Olha isso! - exclamou Sirius, apontando para uma estátua.

- Conversamos depois - sussurrou Sara para mim, e saiu andando para Sirius, ver a estátua, eu olhei para ela um momento, e parecia um leão, mas existiam leões em Kilian?

Passamos por corredores, salas de jantar. Era um luxo. Sara veio falar comigo quando tinha uma moça explicando a história de uma espada quebrada dentro de um vidro. Não prestei atenção, mas pelo que entendi, o próprio Rei a usou numa batalha, quando os Seros se rebelaram contra os Lafos. E a quebrou em dois para matar o Sero que liderava os rebeldes. Mas perdeu a outra parte.

- Podemos conversar agora? - sussurrou.

- Podemos, mas eu ainda acho que não é bom falarmos agora.

- Por que não? É nossa melhor chance, Paulo, não seja teimoso, você sabe que se não fizermos algo rápido Myan não vai só matar Sirius, como nós também. Mel é nossa melhor chance, você nunca me escuta, não vai dar errado. Você arquitetou tudo, pelo amor de Deus. Vamos acabar logo com essa agonia e culpa que eu sei que você tem nas suas costas. Eu sei que é arriscado, mas somos cuidadosos, e seremos cuidadosos. Por favor - ela estava me passando aquele olhar que normalmente me faria concordar na hora. Mas não naquelas circunstâncias.

- Não, Sara, é perigoso. Alguém pode ouvir e nos denunciar antes. Quem sabe o que aconteceria? Achei que você fosse a realista entre nós.

- Se eu não fosse a realista não estaria falando isso para você agora - seu olhar de desprezo me atacou por dentro. Mas me mantive forte, para que ela não percebesse que estava lutando contra todas as forças para não deixar que ela se arriscasse por algo que talvez nem dê certo.

- Não importa, Sara.

- Não estou te pedindo permissão. Se eu tiver que fazer isso sozinha, farei. Só estou pedindo que faça comigo, para que tenha mais chance de dar certo. Mas se você não está disposto a arriscar tudo para que ninguém morra, ao invés de três pessoas, sinto muito. Mas eu vou. Vou falar com Mel e contar sin-ce-ra-men-te - ela separou cada sílaba para que tivesse maior impacto, e teve - tudo o que aconteceu. E não me importa mais o que você pensa.

- Eu só quero te proteger dos riscos disso, Sara.

- Tudo que fazemos tem riscos, você só tem que decidir se os riscos valem a pena pelo resultado, e voce decidiu que não valem. Mas pra mim valem, por isso eu vou, nem que seja sozinha.

- Sara, você não pode ir. Vai dar errado, você será julgada, provavelmente alguém vai escutar. Pelo amor de Deus, não vai lá, eu sei que você quer ajudar Sirius e a mãe dela, mas não podemos arriscar que alguém que não deve descobrir, descubra - ela não olhava para mim. Estava com fogo nos olhos, não queria mais saber, ah, ela vai, e eu não posso impedir? - Sara, olha para mim. Eu te peço por tudo que já fizemos juntos e tudo que já dissemos um para o outro, por favor, não faz isso - ela já não escutava. Ou fingia que não.

Claro, Sara era teimosa demais. Não me escutava e seu gênio forte já tinha sido motivo de brigas entre nós. Quando a mulher parou de falar sobre a espada quebrada, Sara foi falar com Mel.

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