Capítulo 15

17 3 0
                                    

Abri meus olhos lentamente, tentando me adaptar a luz solar que atravessava as folhas da árvore acima de nós. Um passarinho cantava, e eu conseguia ver de longe mais dois deles brincando na água de um lago ali perto. O Sol era bem mais forte em Kilian, mas estava me acostumando.

O vento não soprava muito, apesar de noite passada ter ventado um bocado. Não havia mais ninguém. Sirius se mexeu, de encontro ao meu peito, e me lembrei da presença dela e de tudo que havia acontecido noite passada. Grande noite. Eu respirava lentamente, e a respiração de Sirius não era muito mais rápida que a minha.

Não havia barulho, além do pássaro cantando acima de nossas cabeças. A manhã começou silenciosamente. Eu podia ficar muito tempo só apreciando a companhia de Sirius enquanto meus olhos se adaptavam a luz do Sol. A grama não se movia por sobre meus dedos, mas a brisa suave atingia meu rosto e o revigorava. Olhei para Sirius e observei seu rosto sereno, provavelmente sonhando com animaizinhos que eu nunca havia nem pensado em imaginar.

A culpa me atingiu como um soco no estômago.
Uns dias antes, eu e Sara havíamos sido confrontados por Myan, e ameaçados a morte se não traissemos Sirius e sua mãe. E nesse exato momento, eu estava com uma delas em meus braços. Justamente a que seria morta pela vingança. Essa vingança provavelmente havia sido nutrida com um ódio escondido que ele cultivava pela mãe dela por tantos anos... Por que elas teriam que sofrer? Por que isso havia caído nas nossas costas? Por que Myan nos escolheu? Não teríamos nada a ver com isso se ele não tivesse nos chamado. Sara não tem culpa de absolutamente nada, e nem eu.

Então me ocorreu: Sara também tinha dormido na grama. Onde ela estaria agora? Por um tempo eu tinha começado a ter sentimentos por ela e por mais intensos que parecessem, não sei se agora estavam tão fortes. Estava tão confuso. Tanta coisa havia acontecido. Pensei: "se eu não nutrir sentimentos por Sirius, não vou sentir remorso se deixar que Myan a mate." Mas ela era tão legal... Tão inteligente e criativa. Bonita e educada, ah, era isso pra eu ser amigo dela. Ou mais. E, então, eu já tinha me afeiçoado a ela.

Uma folha da árvore caiu na minha cabeça. Essa estadia foi tão difícil... Eu pensei que não devia fazer mais difícil do que já é. Então deixaria que o destino me guiasse. O vento continuava, mesmo que sem tanta força. Meu cabelo caiu nos meus olhos, tapando a vista do Sol, e descansando-os.

De repente surgiu um corpinho a uns 10 metros de distância de nós. Ah, dois corpinhos. Eles se aproximaram rapidamente. Um deles era ruivo, e o outro, de cabelos pretos. Os dois eram pálidos demais, ou seria a luz do Sol? Depois de se aproximarem mais um pouco, os reconheci. Lá vinham Sara e Malik, nos espionar. Vi seus sorrisos maliciosos ao ver-me junto a Sirius. Sara me fazia sinais com as mãos, mas eu não conseguia ver o que significavam de longe. Mandei irem pra longe, com as mãos. Mas em reflexo desse sinal, e do movimento dos meus braços, Sirius acordou. Ela não havia se acostumado com a luz, pois havia acabado de acordar. Juntei-a a mim mais um pouco com a esperança de que voltasse a dormir.

- Demorei muito para acordar? - disse e logo depois bocejou Sirius.

- Não, e podia ter dormido mais, mas Sara veio aqui te acordar.

- Que horas são?

- Não sei. A recém acordei também. O que achou da noite passada?

- Legal. Podíamos fazer isso mais vezes, o que acha? Dessa vez já sabemos o que pode dar errado.

- Algo deu errado? Achei que havia sido perfeito.

- Não, mas vai ser meio difícil levar isso até a casa, temos que ver algo mais fácil.

- Entendo. Vamos nos levantar e ir tomar café.

Nos levantamos para ir tomar café, e trocamos palavras rápidas sobre como levariamos as almofadas e tudo que haviamos levado para fora, de volta para dentro.

Alguns dias se passaram, e Myan passava perto da casa delas para olhar para nós, e quando nos atreviamos, íamos até ele

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Alguns dias se passaram, e Myan passava perto da casa delas para olhar para nós, e quando nos atreviamos, íamos até ele. As palavras dele eram sempre as mesmas.

- Estão esperando o que para me entregarem ela?! - sua expressão de impaciência não ajudava no nosso raciocínio, ainda mais depois de tudo que ele havia nos feito.

- Ah... Nós... Não temos... - a cada palavra, Sara travava. Ela tinha mais medo dele que eu - a... Confiança... Delas... Ainda.

- Depois de tanto tempo?!

- Uma semana é tanto tempo?! Uma semana é o suficiente para conquistar a confiança de alguém?! - gritei. Sara me olhou fixamente com medo.

- Precisei de apenas dois encontros para conquistar vocês. - e sorriu maliciosamente.

- É diferente. Faremos quando tivermos a confiança delas.

- Não vou esperar demais... - e sumiu pelas árvores.

Sara veio me dar um tapa, logo depois, no ombro.

- Maluco! Ele é mau, não devia ter feito isso com ele. O que nós poderíamos fazer para nos defender de Myan caso ele ficasse bravo?

Não respondi. Ela estava certa.

Dias se passaram sem que nada de interessante acontecesse. Eu e Sirius conversávamos. Malik e Sara conversavam, brincávamos todos juntos... Até que um dia, o pai de Sirius chegou em casa, fazendo barulho.

- Bom dia para quem chegou de uma viagem de mais de duas semanas! - e abriu os braços, que rapidamente foram preenchidos com Sirius e sua mãe, obviamente com saudade. Então o seu olhar nos encontrou.

- Maya, quem são essas duas crianças?- sua expressão era de desconfiança.

- Ah, são crianças que precisam de proteção contra um Sero - disse a mãe de Sirius.

- Estão aqui há quanto tempo?

- Mais ou menos uma semana. Você não vai enxota-los, não é? - interviu Sirius.

- Não. Não se preocupem com isso. Eu vou tomar um banho e ir dormir, estou esgotado.

- Tá bom, pai - disse Sirius.

Ele tinha a mesma cor de Sirius e os mesmos olhos. Que genética forte.

O Preço da SinceridadeOnde histórias criam vida. Descubra agora