Quando Sofia foi embora, ainda não tinha anoitecido. Não sei como ainda me lembrava do sabor do chocolate que ela havia me presenteado uma semana atrás, mas tinha vontade de comer de novo. Então chamei-a para um canto quando Sofia se foi:
- Sara...
- Oi.
- Você teria mais daquele seu chocolate?
- É claro, faço sempre que acaba.
- Poderia me dar um pedaço?
- Posso pensar - suspirou - oque você me dará em troca?
- Posso lhe dar todo o meu amor e ainda assim não sei se seria o suficiente para pagar seu chocolate.
- Me convenceu! Já volto.
Ela saiu correndo para buscar um pedaço. Não imaginava que cedesse tão fácil, mas não estava reclamando.
Quando Sara voltou, não havia demorado tanto quanto da última vez.Na verdade, por já ter experimentado, não estava tão ansioso, mas claramente ainda queria.
Quando comi e me deliciei com todos aqueles sabores, Sara me propôs:- E se dormissemos a luz das estrelas hoje?
- As estrelas não iluminam nada...
- Sabe o que eu quis dizer.
- Claro que quero. Mas sua mãe vai deixar?
- Vai, se nos abrigarmos bem.
- Está bem.
Uns tempos depois nos encontramos no pé de uma das árvores idênticas, com alguns cobertores e repelentes.
- Olá! - sussurrou ela, alto o bastante para que eu ouvisse.
- Oi! Vem, estou aqui.
Estava muito escuro aquela noite, mas as estrelas estavam lindas. Ela se deitou ao meu lado, perto o bastante para que eu pudesse ouvir sua respiração, mas ela com certeza não sabia disso.
- Ainda não acredito que faremos isso - disse eu.
- O que? Recriar esse clichê de dormir entre cobertores na grama, a luz do luar, mesmo com apenas catorze anos? Concordo.
- Ir até Kilian para ajudar o homem.
- Também não acredito nisso ainda. Mas estou relativamente ansiosa.
- Também estou.
- Você fica ansioso por qualquer coisa!
- Ah, mas há muitas coisas pelas quais anseio e você não sabe!
- Você vai me contar por que sou sua amiga!
- Veremos.
Sara me deu um tapa no ombro, que não doeu. Pelo contrário, senti sua curiosidade por trás de seus olhos.
Claramente, queríamos que essa noite fosse muito divertida, e foi mesmo.- Sara...?
- Sim?
- Você quer dormir agora ou ficar conversando?
- Você que sabe, mas não estou com sono. Gosto de olhar para o céu escuro.
- Eu também gosto. Vamos conversar então.
- Só que baixinho, minha mãe acha que dormiremos cedo mesmo aqui.
- Certo.
Uns minutos em silêncio se passaram. Suspirei alto.
- Paulo.
- Eu penso como cada uma dessas estrelas - disse, interrompendo-a, e apontei para algumas - fosse alguém, me dando um conselho, mesmo que eu mesmo não acredite nele. Elas me dizem cada coisa, e algumas estão se confirmando com o tempo.
- Você sabe que as estrelas são, na verdade, bolas de gás explodindo a milhões de quilômetros de nós, não é? - disse Sara, querendo rir.
- Claro que sei, mas gosto de pensar nisso.
- Entendo seus devaneios - piscou lentamente - as vezes faço isso também.
- Sério? - me levantei um pouco.
- Claro, todos temos pensamentos incomuns.
- Fico feliz em saber disso.
- Que bom - logo após que disse isso, bocejou, e eu entendi que era hora de dormir.
- Boa noite, Sara.
- Boa noite, Paulo.
Eu normalmente demorava para dormir, e Sara se mexia muito enquanto dormia. Como ela adormeceu rapidamente, tive a chance de vê-la em meu ombro cansado, com seus olhos grandes descansando, e em seu estado mais vulnerável. Dormi sorrindo nessa noite.
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O Preço da Sinceridade
Fantasia(e da falta dela) [Sendo reescrito, sujeito a alterações] Paulo e Sara se conhecem desde sempre. São o porto seguro um do outro, e estão sempre buscando aventuras. Um dia um homem bate a porta da casa de Paulo, alegando precisar da ajuda única deles...