Acordei essa manhã com o cantar do galo, ao nascer do sol. Esse dia prometia muito. Fiquei curioso querendo saber se Sara havia se decidido.
Então desci para tomar café e ela ainda não tinha acordado.
Quando eu terminei de tomar café, fui as árvores idênticas dar um cochilo, ou só ficar admirando a beleza da paisagem. Talvez eu pense na Sara...
Acho que se passou meia hora, e Sara chegou em mim, sussurrando.- Está dormindo?
- Não, estou lavando os olhos.
Ela se fez desdenhosa com minha resposta mal humorada.
- Já comeu?
- Já.
- Por que veio dormir ao pé da árvore?
- Me deixe em paz, Sara.
- Pensei na proposta do homem. Tomei uma decisão.
Me levantei num pulo. É impressionante como algumas palavras nos deixam com mais vontade de levantar e escutar.
- Sério? - perguntei.
- Sim. Podemos ir, mas só se sua mãe deixar.
- Ela deixa...
- Você que sabe. Vamos fazer o que hoje?
- Sabe que Sofia virá hoje...
- Sei, o que faremos?
- Vamos ver com ela.
Depois do almoço, Sofia chegou.
- Olá! - Sara saiu correndo de encontro com ela.
- Oi! - Sofia correu de volta.
Se abraçaram de um jeito diferente... Não tão longo quanto os que eu e Sara dávamos quando estávamos mal, mas não tão curto quanto quando chegavam senhoras aqui e tínhamos que abraçar.
Não tinha tanto sentimento. Era algo mais parecido com saudade. Quem sabe?
Quando se separaram, Sofia finalmente notou a minha presença.- Olá, Paulo!
- Oi. Me lembre, por gentileza, por que você está aqui?
- Paulo! - me repreendeu Sara.
- Calma, Sara. Vim estudar, não se lembra de quando me convidou?
Acho que a convidei duas semanas antes. Quando gostava dela. É impressionante o quanto sentimentos são realmente fáceis de mudar. Não gostava mais dela agora. Vi que ela não poderia me ajudar a saciar meu desejo de aventura, sendo em casa ou fora. Essa história do homem com as rachaduras dos pés... Sofia não aceitaria. Sara aceitou, mas tínhamos que perguntar para nossas mães.
- Foi... Há três semanas? - disse, fingindo que não me importava.
- Duas. Duas semanas. Temos que estudar ciências, pela prova que vem aí.
- Está bem. Vamos.
Me lembrei nesse momento que a prova era somente na turma delas. Eu já havia feito-a. Não precisava estudar com elas, mas queria uma desculpa pra ficar em silêncio perto de Sara. Não importando que Sofia estivesse perto. Não quis atrapalha-las nos estudos. Então fiquei calado o tempo todo.
Durante as duas horas que se passaram com elas conversando baixinho sobre fórmulas ou leis, fiquei observando Sara. Como era possível que um ser humano pudesse ser tão próximo da perfeição?
Talvez ela não fosse, provavelmente era só coisa da minha cabeça. Minha professora de Religião, uma vez, disse que quando estamos apaixonados, nosso cérebro ignora completamente todos os defeitos da pessoa. Acho que isso estava acontecendo. Sara era tudo que eu poderia querer naquele momento.
Era simpática, meiga e não tinha medo de soltar farpas para mim de vez em quando, me provocando a responder no mesmo nível que ela. Era meu porto seguro e ao mesmo tempo meu porto inseguro, ela era a companhia perfeita. Podia me ajudar a superar meus medos, e também causar mais um medo: perde-la.
Quando terminaram de estudar, eu estava tão entediado que simplesmente tinha desistido de olhar para Sara, e estava observando o teto, e os bichinhos que pousavam na lâmpada.
- Paulo, se você quiser podemos brincar de pega-pega. - disse Sofia
- Pega-pega não... - Sara já havia brincado disso comigo um milhão de vezes. Até eu tinha enjoado.
- E se escalassemos aquelas árvores idênticas? - sugeri.
- Perfeito! - Sofia havia gostado da ideia.
- Vamos, então. - Sara não tinha ficado muito animada, mas sabia que seria divertido.
Chegando na árvore, eu subi primeiro, depois Sofia, depois Sara. Subimos na árvore da direita, ela era mais escura, por pouco, mas continuava muito parecida com a outra. De repente Sara disse:
- Sofia, você não vai acreditar, apareceu semana passada aqui um homem com uma mancha...
Bati nela o mais rápido que pude para calar sua matraca.
- Aí! O que foi?
- Não fale disso a ela, ela vai querer ir junto.
- Está bem... - disse revirando os olhos.
- O que não podem me contar? - perguntou Sofia.
- Apareceu um certeiro com uma mancha na mão e rimos bastante, não é, Sara?
Ainda bem que ela não era lerda, entendeu a deixa na hora.
- Sim, foi muito engraçado. Era uma mancha verde.
- Mas onde vocês vão? - perguntou.
- Queríamos saber onde ele mora para conhece-lo, mas é melhor não.
Ainda bem.
- Sim, isso mesmo - concordei.
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O Preço da Sinceridade
Fantasy(e da falta dela) [Sendo reescrito, sujeito a alterações] Paulo e Sara se conhecem desde sempre. São o porto seguro um do outro, e estão sempre buscando aventuras. Um dia um homem bate a porta da casa de Paulo, alegando precisar da ajuda única deles...