Depois de alguns dias fazendo exatamente a mesma coisa (criando histórias fantásticas das quais eu me gabaria para Sara e a irritaria com a hipótese de serem reais), apareceu um homem, batendo na porta.
- Olá, a senhora é a mãe do Paulo? - perguntou ele.
- Sou sim, ele aprontou na escola hoje? - disse minha mãe, preocupada, ciente de que eu aprontava bastante na escola.
- Não, não, eu preciso falar com ele - disse o moço, depois de dar uma risada discreta.
- Está bem, vou chamá-lo - e se virou para nos chamar.
Neste momento eu estava na melhor corrida que já apostara contra Sara, ela havia me desafiado a correr dez metros pelo sítio; na lama. E eu já tinha tropeçado várias vezes. Ela também.
- Paulo! Venha aqui! Vocês podem apostar essa corrida depois.
Eu estava imundo, e Sara também, mas não ligavamos, fomos até minha mãe desse jeito mesmo.
- Quem é você? - perguntei, enquanto o encarava.
- Preciso falar com você. Pode me seguir? Onde podemos ter privacidade? - minha mãe lhe deu um olhar desaprovador.
- Posso ir junto? - perguntou Sara, curiosa. O moço pensou um pouco.
- Pode. Paulo, por favor, nos leve para algum lugar mais calmo.
Seguimos ele até uma parte muito remota do sítio, que não tinha muita luz.
- Vocês podem começar a entender olhando para meus pés - e olhou para baixo. Nossos olhares o acompanharam.
- Nossa! - Sara e eu dissemos em uníssono.
- Eu posso explicar, mas não tenho tempo hoje.
- O que aconteceu? - eu, curioso, perguntei.
- Não tenho mais tempo agora. Afinal, me perdi no caminho e demorei a chegar aqui. Venho semana que vem contar pra vocês.
E saiu do sítio, acompanhado por nós, calados, pois sabiamos que ele não diria a nós ainda, e não queriamos estragar a chance com perguntas.
No resto da semana, ficamos muito ansiosos pelo resto do relato: comiamos pensando nisso, brincávamos pensando nisso, o único momento em que eu não pensava nisso era quando não podia encontrar Sara, então ficava observando-a comer bergamotas, sentada num dos galhos mais altos da árvore ao lado da de bergamota. Ela parecia não se importar com a sujeira da árvore ou com as formigas subindo em sua pele.
O que, afinal, se passava em sua cabeça? Esse pensamento invadia minha mente todas as noites, e me mantinha acordado por um bom tempo. Eu não sabia se os pensamentos dela eram sequer parecidos com os meus. Eu sabia que o jeito que ela raciocinava era diferente do meu.
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O Preço da Sinceridade
Fantasy(e da falta dela) [Sendo reescrito, sujeito a alterações] Paulo e Sara se conhecem desde sempre. São o porto seguro um do outro, e estão sempre buscando aventuras. Um dia um homem bate a porta da casa de Paulo, alegando precisar da ajuda única deles...