Kal & Ela

11. VERDADES & PROBLEMAS

Uma noite e tanto, sim. Ficaram acordados por longas horas e trocaram carícias e toques como se não houvesse o amanhã. Até mesmo o tornozelo machucado de Henry fora completamente esquecido. Por melhor que tivesse sido, a manhã requeria disposição de Jacqueline, afinal, trabalharia normalmente com ou sem chuva. Despediram-se pela manhã, após um café juntos e cada um seguiu seu caminho. Não sentia-se exausta, mas radiante, e nunca esteve de tão bom humor quanto no dia que se seguiu. Henry, por sua vez, tivera um dia de folga por conta do clima e aproveitou-o junto de sua companhia predileta: Kal.

~ PARTE 1 ~

Voltando para casa após o dia na clínica, só conseguia pensar que já tinha passado da hora de compartilhar sua maravilhosa noite anterior com a melhor amiga. Não iria contar como uma vitória, Henry estava longe disso na sua vida, mas sim como um momento de glória para si mesma. Ela se sentiu bem consigo. Realmente bem. Mais do que isso. Durante aquela noite inteira, não se julgou uma mulher sem graça - ou fraca.

De banho tomado e uma caneca de chocolate quente feita 'para viajem', bateu na porta de Mei, que a recebera com o entusiasmo de sempre - talvez um pouco maior por conta da bebida. A asiática vestia um pijama estampado de girafas, tinha os cabelos negros soltos e bagunçados, estando acompanhada pelo gato acinzentado ao receber a amiga.

━ Jackie! Ah, como adivinhou? Estava implorando por um desses, mas não tinha achocolatado. ━ Abriu um largo sorriso dando espaço para que a mais alta entrasse.

━ Que tipo de confeiteira não tem achocolatado em casa? ━ Brincou Jacqueline com uma careta, logo abaixando para pegar no colo o gato que pedia por afagos. ━ Oi, bebê!

━ O tipo que deixa na confeitaria! ━ Riu revirando os olhos. Levou a garrafa do chocolate quente na mesinha de centro e pegou suas canecas. ━ A engraçadinha vai ficar para beber comigo, não vai?

━ É óbvio!

Sentaram-se no sofá da sala de estar e partilharam daquela deliciosa bebida. Jacqueline havia acertado em cheio não só pela vontade da amiga, mas pelo clima frio que pedia por aquilo. E nada melhor do que um chocolate quente para acompanhar boas notícias.

━ E então, como anda com o Henry? Viu ele outra vez?

━ É exatamente isso que queria te contar. Vi, sim.

O sorrisinho da veterinária por trás da borda caneca ao assoprar de leve o conteúdo foi extremamente sugestivo, e Mei captou no mesmo instante que havia algo muito interessante por trás da fala. Questionou sem demora e obteve uma resposta que, apesar de parecer um sonho impossível, não lhe surpreendeu em nada. Torceu muito para isso e acreditava no potencial da amiga. Sempre lhe disse que qualquer cara que não ficasse interessado nela seria um completo idiota - nem mesmo Henry Cavill seria exceção.

Detalhes algum fora omitido. Entre as duas, tudo era cristalino. E, se não haviam conversado antes sobre o jantar que tiveram, era porque realmente desencontraram-se nas agendas. Agora tinham tempo e Jacqueline contaria tudo: as risadas e boas conversas no Farkas, a volta que deram dias depois, o fato de que até falou sobre o acidente de seus pais com ele - e isso sim surpreendera Mei, porque a amiga nunca comentava com ninguém -, o beijo sobre o toldo que os abrigara na chuva, os elogios que recebera dele em sua casa... E, é claro, o restante daquela noite.

Por mais emocionante que fosse Jacqueline ter transado com Henry Cavill, e é claro que soltou um grito de alegria por isso, o melhor de tudo foi saber que ele a enxergava como ela merecia e que a fizera agir como ela mesma sem medo. Saber que sua irmã de coração havia se permitido aquilo. Elas não poderiam realmente saber o que se passava na cabeça de Henry, mas a intuição de Jacqueline, e agora de Mei, tendiam ao melhor (e para a verdade).