23. EMOÇÕES

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O tempo costuma passar mais rápido quando as pessoas se divertem ou estão vivendo um bom momento, sim, mas esse conceito pareceu ceder sua verdade para Henry e Jacqueline naquele dia. Como se tivesse simplesmente parado, as horas demoraram para passar e a sensação de despedida não os perturbava, ainda que fosse inevitável sua chegada.

E chegou. Após muito aconchego, beijos, risos e comida chinesa, Henry juntou os pertences de seu cão, que havia deixado com Jacqueline para entretenimento do mesmo, e se aprontou para encontrar a carona que o levaria para Budapeste. Além do tempo de espera proposto pela companhia aérea para o check in e despache de bagagens, levaria algumas horas de estrada até, de fato, chegar ao aeroporto na cidade em questão, então não poderia tardar com seu horário. Até esse momento, estava fácil e leve lidar com a ideia de partir, mas, ao colocar a guia no cachorro e caminhar na direção da saída, a ficha caiu. A realidade bateu - e sem dó alguma. Uma troca de olhar bastou para o casal se envolver em um abraço tão apertado quanto a saudade em seus corações.

Por alguns instantes, nada disseram. Apenas mantinham a menor distância possível um do outro, estando Jacqueline envolvida nos braços de Henry com o rosto apoiado em seu peito, enquanto o mais velho repousava o rosto sobre os fios negros dela. Era nítida a falta que um faria ao outro, bem como sentiam que era assim mesmo que as coisas deveriam seguir: temporariamente distantes, mas não separados. Era como se assistissem ao filme de sua história juntos, cada um em sua mente, relembrando todos os momentos desde que o ator entrou pela porta da clínica com seu akita machucado. Sorriam, apesar dos olhos marejados. Estavam felizes. Seriam felizes.

━ Liga assim que pousarem, ok? ━ Ainda acolhida e enterrada contra Henry, a espanhola pediu.

━ Fica tranquila, eu ligo. ━ O ator acariciava seus cabelos lisos com uma das mãos, depositando um beijo na testa feminina após confirmar o pedido da mesma.

━ Assim que pousar, e só não quando chegar no hotel! ━ Insistiu Jacqueline ao inclinar o corpo apenas para olhá-lo melhor, com uma expressão imperativa, cômica e preocupada. Adorável aos olhos do britânico, que não pôde deixar de sorrir ao vê-la franzir o cenho e fazer um bico retorcido nos lábios. ━ Mas quando chegar também! Os dois! E para de rir! Eu estou falando sério!

━ Não estou rindo! ━ Mentira, estava sim. Segurou pessimamente seu riso e, ao ouvi-la prosseguir em seu pedido, que mais parecia uma ordem maternal, caiu na risada. ━ Eu vou ligar, não se preocupa! ━ Abriu ainda mais seu sorriso ao retomar o aperto dela contra si, esmagando-a contra seu peito novamente e bagunçando seus cabelos. ━ Está parecendo até minha mãe, sabia? Vocês vão se dar muito bem.

━ Tsc... ━ Resmungou ao sentir o aperto forçado e impossível de se livrar. Sabia que ele se divertia com aquelas implicâncias bobas, não reclamava dessa troca afetiva. Muito pelo contrário, sentiria falta de ser esmagada por ele e ouvi-lo dizer como ficava fofa reagindo às suas brincadeiras. Essa energia descontraída mesclada aos momentos de maior emoção era o que os dois mais gostavam na relação, porque por mais sentimentais que estivessem, ainda encontravam motivos para rir. ━ Me deixa respirar, seu chato! ━ Tentou empurrá-lo para se soltar, cedendo ao riso por ele fazer questão de impedi-la ao pressionar ainda mais os braços contra si. Alguns tapinhas bobos e conseguiu se livrar, arrumando novamente seus cabelos e retomando o contato visual para respondê-lo. ━ Acha mesmo? Porque eu espero que sim.

━ Eu tenho certeza. Vocês são parecidas, na verdade... E ela não é do tipo que implica com nora, pode confiar. Aliás, tem mais quatro de prova! ━ Brincou ajudando-a a ajeitar os fios bagunçados, colocando uma das mechas atrás de sua orelha.

━ Além do fato de você ser o único que falta e ela quer te ver casado logo, acertei? ━ Entrou na brincadeira com um sorriso confiante, novamente guiando os braços ao redor do corpo de Henry.

Kal & ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora