12. A CARTA

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O dia começou cedo para Jacqueline, e terminaria longe da confortável cama. Porém, estava animada, por mais sonolenta que estivesse ao receber a ligação na noite anterior, sentia-se contente de cuidar de Kal. Haviam feito brincadeiras sobre o cão causar no hotel, mas não se passavam disso: brincadeiras. E deixar trilhas de pelos era bem diferente de destruir todo o quarto... Aquilo era demais! E estranho, considerando o histórico relatado pelo ator.

Ah, o ator... Não o via desde a grande noite e não podia negar que sentia certas borboletas no estômago ao pensar em encontrá-lo agora. Seria tudo diferente Estranho? Melhor? Apesar da conotação desesperadora da ligação recebida na noite anterior (e dos inúmeros pedidos de desculpas), tudo pareceu normal. Normal era bom.

Porém, o destino lhe pregou uma grande peça ao chegar na clínica, e esta não tinha nada a ver com Henry Cavill. Era sobre ela mesma - e somente ela. Ao entrar no local de trabalho, perto das oito e meia da manhã, o horário que trocava de turno com Dominik, percebeu algo muitíssimo curioso em sua recepção: mal havia passado pela porta e o colega iluminou-se dando um grito contente.

━ Bom dia...?! ━ Cumprimentou em um tom baixo e devagar, o arquear das sobrancelhas corroborava para a desconfiança.

━ Muito bom dia! Ah, que lindo dia! ━ O rapaz praticamente pulou em seus braços, apertando-a em um abraço afetuoso e muito... Orgulhoso?

Eram muito próximos, de fato, mas aquilo era incomum. Sempre havia uma brincadeira ou outra, mas ele estava realmente mais entusiasmado que normal. Nem mesmo quando Henry esteve lá estivera tão saltitante.

━ Dominik, desembucha. ━ Não sabia dizer se era sua curiosidade ou o "sangue quente" que o amigo teimava em lhe aflorar, mas o tom de voz era urgente e mais sério. Ainda assim, abraçou-o, então tomou distância para prestar atenção e pôde assistir ao revirar de olhos do amigo, justamente por já esperar essa postura dela.

━ Ugh, você estraga tudo com sua falta de ânimo, sabia? ━ Apertou as bochechas dela com ambas as mãos, gesto esse totalmente contrário ao tom repreensivo em sua voz.

━ É alguma coisa com o Ian? Só pode ser... ━ Desvencilhou dele com uma expressão pensativa, chutando a possibilidade do namorado tê-lo feito feliz na noite anterior, enquanto acomodava seus pertences por trás do balcão ━ Aniversário seu não é, nem de vocês dois... Fala logo!

━ Muito perspicaz, chica! Mas não, não é sobre mim ou ele. ━ Dominik debruçou sobre o balcão da recepção, acomodando o rosto nos braços cruzados sobre a superfície e lançando a ela um olhar muito travesso e ansioso. ━ Ok, ok! Se eu fosse você, respirava fundo, sentava aí nessa cadeirinha e abria a primeira gaveta.

━ Meu Deus, o mistério...

O olhar dele era de pura animação, enquanto o dela, receio. Era sempre assim, especialmente quando se trava de algo sobre si mesma, ainda que nada específico lhe vinha à mente, pensava sempre na tendência do pior. Fez exatamente o que ele disse, então, e ao abrir a gaveta seu coração parou por um instante. Sentiu o sangue esvair de seu rosto e não conseguiu emitir uma sílaba sequer, tampouco se mover. Por longos segundos, encarou o envelope que continha seu nome no destinatário e o selo mais do que conhecido da Universidade de Medicina Veterinária - a única da Hungria.

Não podia ser. Não depois de tanto tempo. Teve de tomar coragem em um profundo suspiro para pegar o pedaço de papel, por mais trêmula que estivesse. Piscou várias vezes para se certificar de que não era coisa da sua cabeça, mas estava realmente ali. Apesar da emoção à flor da pele, conseguiu se surpreender com o fato do envelope estar lacrado, afinal, Dominik estava tão ansioso se inclinando sobre o balcão - inclusive sombreando sua visão - que poderia muito bem tê-lo feito.

Kal & ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora