21. O COMEÇO DO FINAL

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Nada como uma longa e deliciosa noite de sexo para a reconciliação de um casal... Repetitivos pedidos de desculpas verbais jamais iriam realmente resolver sozinhos, era preciso selar o acordo de forma mais intensa, especialmente quando o tempo não está ao seu favor. Nem dele e nem dela. Em poucos dias Henry partiria para gravar em outro canto belo e desconhecido do mundo e Jacqueline recomeçaria sua vida em algum lugar que ainda não sabia qual, então aproveitariam cada minuto juntos ao máximo. Não era mais sobre se afastarem e tudo mudar, mas sim sobre fazer cada momento valer a pena. E foi com esse pensamento que desperdiram-se pela manhã.

Aproveitando do tempo sozinha durante o dia, Jacqueline organizou sua mente e começou a planejar seus próximos passos. Com certeza começaria ligando para a universidade para dar sua resposta, e mal havia se despedido de Henry quando pegou o celular para fazê-lo. Sentada no sofá junto de Kal - distraído com um de seus brinquedos - digitava o número e aguardava a ligação. Foram longos minutos de conversa e informações, até levantou-se para anotar tudo em uma folha de papel a fim de não perder nenhum detalhe. Documentações, orientações, datas... Ah, sim, as datas estavam definidas e muito próximas, Jacqueline precisaria correr contra o relógio e ainda visitar a instituição naquele mesmo final de semana - ou seja, no dia seguinte.

Pensava que seria questão de semanas até tudo se encaixar, mas em poucas estaria, de fato, começando o curso, então sua regulamentação deveria ser feita o quanto antes. Apesar da correria, Jacqueline sentia-se muito bem. Sentia-se viva. Não era o tipo de ansiedade que te prende no chão e impede de respirar, mas sim uma que te dá forças para agir e esperança de um amanhã melhor. Ao desligar o telefone, juntou todos os documentos exigidos, especialmente o diploma de conclusão de curso e os certificados de suas conquistas, e focou completamente nessa nova etapa. Sorria por dentro e por fora, como um pássaro prestes a voar pela primeira vez após estar há muito preso em uma gaiola apertada.

Tudo ia bem. Mais do que isso: estava perfeito. Porém, não poderia se esquecer de um detalhe muito importante em sua jornada: Dominik. Foi ele quem abriu as portar pra que Jacqueline tivesse um emprego logo que se formou e perdeu seus pais, quem lhe ensinou muito e deixou a própria clínica em suas mãos inúmeros dias e noites. Anos de parceria não poderiam ser esquecidos do dia para noite, muito menos abandonados sem apoio. Sua gratidão precisava ser expressada, ainda que soubesse que o colega iria incentivá-la a sair correndo para Budapeste o quanto antes, então novamente pegou o telefone e ligou para a universidade. Tinha um plano em mente e estava de dedos cruzados para que fosse possível, pensava que, dessa forma, não haveriam perdas e mais de uma pessoa sairia ganhando. Sucesso! Conseguiu expressar com clareza e respeito sua proposta, afinal não poderia ser prepotente ao estar aceitando um convite como aquele e ainda pedindo por mais, mas foi muito perspicaz na escolha de palavras e em algumas semanas Dominik teria mais ajuda em seu pequeno empreendimento.

Após algumas horas de organização, malas feitas, minutos bobos com Kal para descontrair e um longo período ao telefone para anunciar sua decisão e partida breve para Mei, avisou Henry que precisava fazer algo muito importante naquela noite, mas levaria o akita consigo e ele poderia ficar tranquilo. Enfatizou que se tratava de uma coisa positiva e explicou o que faria, o ator compreendeu completamente e ainda a elogiou por isso. De qualquer forma, os últimos dias de Henry ali se aproximavam mais do que os dela, então tinha muitas cenas finais para gravar e precisaria focar em seu trabalho ao invés de virar a noite sobre ela outra vez. Tudo fazia sentido e colaborava para acontecer com odeveria, era uma sensação inédita para a espanhola normalmente tão aflita. aos poucos, descobria que poderia gostar de mudanças.

Ao cair da noite, prendeu a guia na coleira de Kal e seguiu para a pizzaria da cidade, fazendo um pedido muito especial ao chegar e partiu com duas caixas quentinhas que emanavam um delicoso cheiro. Colocou-as no carro ao lado do banco do motorista e deixou o espaço traseiro livre para Kal, sempre o alertandode não meter o focinho nas caixas do banco da frente, embora ela mesma lutava para não roubar um pedacinho do recheio ali mesmo. A estrada estava deserta, então conseguiu chegar até antes do horário programado.

Kal & ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora