Kal & Ela

O8. A CHUVA DO DESTINO

Os dias se passaram - mais precisamente dois dias -, e, no meio da correria de ambas as agendas, eles encontravam tempo para conversar. Pequenas trocas sobre o dia a dia, na verdade, e com intervalos de horas que não permitiam aprofundar em grandes assuntos. Ainda assim, Jacqueline arriscara perguntar sobre possíveis spoilers da série, recebendo uma única novidade apenas: foto do figurino e maquiagem de Geralt diretamente dele no camarim. E não precisou de esforços para admitir que conteúdo algum sobre a história poderia ter sido melhor do que aquela foto. Foi completamente inesperado, considerando o sigilo sobre a imagem do personagem até que permitida a divulgação pelo estúdio, mas ele lhe confiou isso. "Um bom sinal, não?", pensou a morena.

Ao final do mesmo dia, foram vários suspiros os que não conteve ao se pegar olhando de novo e de novo para a tal foto, aproveitando o pouco movimento da clínica para analisar cada detalhe da imagem. Estava jantando ali mesmo quando conversaram mais um pouco, e Jacqueline sentia-se cada vez mais à vontade para falar com ele (exceto para chamá-lo para sair) - e com mais vontade, é claro (principalmente sobre saírem). A ideia de vê-lo outra vez crescia em sua mente e, felizmente, viu a oportunidade perfeita naquela mesma noite.

"Honestamente? Seu elogio ao Geralt foi a melhor parte do dia. Hoje não foi nada produtivo, vamos ter que regravar muita coisa por conta de uma falha técnica e ainda me machuquei em uma cena. Basicamente vesti aquilo tudo à toa. Ou só para você ver."

O tom de voz na mensagem gravada de Henry dizia muito mais do que as palavras em si. Ele realmente parecia cansado... E decepcionado. Não pôde deixar de pensar que um atraso não seria tão ruim se o fizesse ficar ali por mais tempo, mas logo repreendeu a si mesma pelo sentimento egoísta.

"Eu fico feliz que tenha sido uma parte boa, então! E sinto muito pelo resto, você está bem? Machucou como?"

"Tudo bem. E não foi um ferimento muito grave, eu acho... Só torci ou dei mal jeito no tornozelo quando fui me esquivar em uma cena de luta, ao menos desviei da espada antes de tropeçar. Nada grave, só um incômodo a mais."

"Meu Deus, Henry! Hoje não foi um bom dia, hein? Aliás..." - o suspiro de Jacqueline naquele áudio fora tão audível e profundo que Henry franziu o cenho em curiosidade para Kal, que deitava consigo na cama. - "Aliás, eu queria te perguntar uma coisa... Já que teve um dia ruim... Mas se não estiver se sentindo bem, entendo completamente! Você deveria descansar e não se forçar... Então só se puder, de verdade! Mas, se quiser, e puder, e... Enfim! Podemos dar uma volta um dia desses ou tomar alguma coisa só para evitar muita caminhada... O que preferir... Ou deixar para quando se recuperar. O que for melhor..."

O nervosismo bobo da garota fez com que o britânico risse para o telefone enquanto balançava a cabeça. Havia notado que ela falava muito mais rápido e em tom mais agudo quando envergonhada, sem mencionar o sotaque ainda mais evidente. Henry descobriu que achava aquilo extremamente adorável. Jacqueline, por outro lado, julgou ter sido o pior áudio que já enviara em toda sua existência.

O ator notava que ela se esforçava para dizer o que queria ou sentia, e considerava respeitoso o fato dela mostrar (tanta) cautela em não ser tão direta ou invasiva. Gostara mais ainda de vê-la, ou melhor, ouvi-la, tomar a frente, pois estava a imaginar quando teria tempo livre para propor um segundo encontro e a espanhola foi muito perspicaz ao sugerir naquela situação.

"Eu adoraria dar uma volta e tomar alguma coisa com você, Jacqueline. Isso seria ótimo e realmente veio em boa hora! Sei que tenho a noite de amanhã livre, e no dia seguinte só filmo pela madrugada, então tenho o dia todo. Como estão as coisas aí?"

"Mesmo?! Quer dizer, que bom...! Eu queria ter uma tarde toda livre também, mas vai ter que ser amanhã pela noite mesmo. Pode ser às 19hs ali no centrinho?"