Kal & Ela

O5. CARREGADOR DA SORTE

De fato, Jacqueline aproveitou o tempo livre para procurá-lo no Instagram, mais precisamente, na parte da noite após um dia agitado com os pacientes internados ou emergências que chegaram - há quem diga que no interior ocorrem muito mais acidentes do que em grandes cidades, e esse dia sustentou a teoria. Sentada atrás do balcão da recepção com seu jantar devidamente esquentado, deslizou os dedos pela tela do celular em sua busca... Logo na primeira foto a morena curvou um sorriso. Algumas selfies, divulgação de filmes, comidas, Kal e... Um dia montando computador? Aquilo foi inesperado. Uma surpresa e tanto, pois perdeu alguns minutos nele. Por mais que não fosse de fantasiar coisas com celebridades ou se quer gastar tempo pensando sobre elas, tinha uma imagem diferente dele. Henry parecia ser alguém mais simples do que teria julgado sem a "pesquisa". E não podia negar, ele tinha um belo sorriso.

Alguns quilômetros dali, Henry se encontrava deitado na cama do hotel com Kal ao seu lado, angustiado, cheirando a tala que lhe incomodava. Estava mais manhoso com o dono também, lançando aqueles olhares irresistíveis que o faziam parecer um filhotinho em apuros. Ganhava longos e caprichados afagos do ator, que não precisava de muito para ficar bobo perto do seu amigo.

━ Está se sentindo melhor, cara? ━ Perguntou o britânico com um sorriso direcionado ao animal, e, em resposta, ganhou uma lambida no braço. ━ Vou tomar isso como um sim! ━ E mais uma. Várias, lambidas e cheiradas afetuosas. ━ Bom garoto. Logo vai tirar isso aí e correr por aí.

Da mesma forma que Geralt falava com seu cavalo, Henry conversava com Kal. Eram um time. E pensar na retirada da imobilização automaticamente levara sua mente para Jacqueline, permitindo-se distrair com ela enquanto balançava os dedos na frente do akita para entretê-lo.

(...)

Uma semana se passou. Longos dias e madrugadas de filmagens para Cavill e emergências interessantes e algumas quase desesperadoras para Padilla. Sim, esse era o sobrenome da morena, Henry lembrou de ter visto a identificação brevemente no jaleco... Ou pensou que poderia ser outro similar, mas era esse mesmo. E o dia de confirmar essa observação havia chegado, mas o andar das filmagens fugiram do previsto e acabou atrasando um tempo considerável. Cenas diurnas tiveram de ser adiadas por conta da claridade exigida, mas outras noturnas foram antecipadas. Já passava das 21hrs quando Henry deixou o trailer, e estava exausto demais para pegar estrada no meio da noite. Assim como já era tarde para avisar do seu imprevisto, mas fez questão de se desculpar.

Não era como se a garota tivesse esperado o dia todo pelo paciente especial... Imagina! Apenas prendeu os olhos no relógio desde cedo e deu graças pelo pouco movimento do dia - como se fosse planejado -, aproveitando para deixar a sala pronta para recebe-los... E percebeu que não seria naquela vez, deixando um suspiro ser soprado e sentindo-se uma tola por isso, porque não era sensato alimentar expectativas ou se portar daquele jeito... Imaturo? Infantil? Errado. Nem precipitado, apenas tolo.

Não era uma noite de plantão, na verdade, tinha um dia de folga pela frente e seu corpo agradecia imensamente por conta do cansaço - embora quisesse estar ali pela manhã seguinte, por garantia. Enquanto arrumava suas coisas, ouviu o sino da recepção soar e inclinou virou o olhar na direção da porta com certa rapidez e ânimo, porém, era apenas Dominik Bartok, o outro veterinário e melhor amigo da morena que chegara para a troca de turno. Um homem na casa dos seus trinta anos, pele negra, olhos castanhos grandes e alegres, e de estatura esguia. Ele havia chegado mais cedo, o que era bom para Jackie.

━ Nossa, nunca te vi tão animada com a porta e tão decepcionada em me ver! Resolvi me antecipar para te liberar antes, mas já me arrependi! ━ Brincou arqueando as sobrancelhas com um leve inclinar de cabeça após fechar a porta. ━ Me diga, o que eu ainda não sei? ━ Perguntou o colega de trabalho com sua entonação curiosa e divertida.