O9. PONTO DE VISTA

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Com o casaco masculino ao redor da cabeça e uma mão entrelaçada na do ator, Jacqueline conduzia a corrida contra o (mau) tempo em direção ao seu apartamento. Foi o primeiro lugar que veio na mente, poderiam se secar e tomar algo quente para evitar um resfriado, além de que ele poderia esticar a perna e poupar o tornozelo por um tempo. Não foi uma caminhada tão longa, mas teria sido muito mais rápida e fácil se a chuva não caísse tão intensa.

Subiram as escadas segurando o riso pelo rastro de água deixado em cada degrau e então entraram, de fato, no apartamento. Henry desculpou-se de antemão como se fosse o único responsável por trazer a água para dentro, mas caminhou direta e rapidamente para a estreita sacada coberta junto da sala.

━ Você vai se resfriar e se molhar ainda mais, volte para dentro! ━ Jacqueline negou com cabeça ao vê-lo na área externa. ━ Vou pegar uma toalha para se secar. E fazer um chá ou alguma coisa quente. ━ Comentou um pouco angustiada já indo em direção ao guarda-roupas.

━ Jackie, relaxa! Tome um banho quente primeiro. Eu espero, sem problemas. ━ Contrariou Henry, esperando ela se aproximar para encará-la com um olhar insistente. Por mais encharcado que estivesse, iria priorizá-la.

━ Mas...

━ Jacqueline!

━ Ugh, tudo bem! Aqui está. ━ Entregou a toalha com um suspiro pesado e descontente, porque não parecia certo deixá-lo ali só com um pedaço de pano que mal contornava suas costas enquanto estaria plena em um banho quentinho. Seria breve. ━ Fique à vontade.

Dito isso, tornou ao guarda-roupas para pegar um agasalho e fechou-se no banheiro. Por mais deliciosa que estivesse a água do chuveiro, levou o mínimo de tempo possível. Enquanto se ensaboava e enchaguava aflita, não podia deixar de pensar em como era estranho ter Henry Cavill plantado em sua sala de estar. Superman. Geralt. E mais outros vários personagens que ainda precisava conhecer. Ele ainda era o mesmo cara doce com quem dava boas risadas e se sentia confortável, mas também era tudo isso. A mistura de sensações fez seu coração bater forte e acelerado contra o peito, e, assim que desligou o chuveiro, respirou tão fundo que teve medo de ter sido audível.

━ Pronto... ━ Abriu a porta ainda secando os cabelos, liberando todo o vapor quente que lhe cercara no cômodo. Vestia agora um conjunto de moletom acinzentado e um rubor involuntário nas bochechas sardentas, pois sentia-se entranha. Envergonhada. Nervosa. Era muito mais fácil pensar nele fora de seu ambiente, mais distante e programado. Aquela situação a fazia agir completamente sem jeito e não queria fazer papel de boba como tanto vinha se segurando. ━ Deveria fazer o mesmo...

Ela não era única que ficou muito mais pensativa e acanhada com a visita. O próprio Henry não contava com aquele desfecho, por mais que estivesse contente por tê-la beijado - e querendo repetir o ato -, estar na casa dela, nesse mundo tão particular e solitário que ela crescera... Ah, isso tinha um peso! Porém, no meio tempo em que ela se banhava, não se conteve em percorrer os olhos pela decoração do apartamento. Não estava ali para julgar (sentia que nem deveria estar ali, para começo de conversa), mas haviam porta-retratos no aparador e quadros nas paredes que mostravam um pouco do ciclo de Jacqueline. Pôde notar como era parecida com a mãe pelas recordações emolduradas, e havia uma bela foto junto também do pai em que os três se abraçavam sorridentes e tentavam enquadrar no espaço da câmera. Cavill curvou um pequeno sorriso por saber que ao menos tiveram boas memórias, mas era triste que não pudesse construir outras novas. Haviam também duas fotos com uma garota e um gato, pelas caretas e sorrisos, sabia que era a tal grande amiga que, felizmente, ela ainda tinha por perto. Algo naquelas fotos lhe fez perceber algo a mais sobre ela, ou ao menos acreditava ser verdade: apesar da insegurança, era muito afetiva.

Kal & ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora