Kal & Ela

O6. MESA PARA DOIS

~ PARTE 1 ~

Ambos os carros mal haviam saído do estacionamento da clínica e o celular de Jacqueline notificava como um louco no banco do passageiro, não iria dar atenção em plena estrada, até porque já sabia muito bem quem era a pessoa desesperada a lhe chamar naquela manhã. Desesperada e curiosa. Dominik, caso haja dúvidas. Apenas sorriu balançando a cabeça, tentando absorver aquilo, pois não tinha um encontro há tempos, e "voltaria ao jogo" logo com Henry Cavill. Sentiu um arrepio só de relembrar o som das palavras saindo da boca britânica. Ele, por sua vez, não estava nervoso dessa forma, mas animado para conhecê-la melhor. E gostava de primeiros encontros - da energia dos mesmos -, pois havia um sentimento mútuo de perdão caso algo embaraçoso acontecesse e era divertido reagir a isso.

Enquanto o ator voltava para o set, a garota estacionava o carro em frente ao edifício em que morava. Não era muito grande, apenas três andares e quatro apartamentos em cada, e do tipo em que todos se conheciam. Dois lances de escada e entrava em seu lar, respirou fundo e, pensativa, foi logo se jogando no sofá. Tinha um dia para pensar em como iria, aonde iriam e como seria. Não era a mulher mais confiante e segura de si, apenas buscava levar a vida sem fingimentos. "Antes ser sem graça do que não viver minha verdade", pensava.

Começou a organizar as ideias, literalmente, do começo: onde iriam. Henry disse que mandaria uma mensagem, mas não quando, então achou melhor ter algo em mente o quanto antes. Morava em um lugar pequeno, com poucas opções ali mesmo no "centrinho agitado" em que ficava seu apartamento, mas imaginou que algo típico dali poderia agradá-lo. Novidades culinárias são sempre bem-vindas, não? E, pelo o que havia visto no instagram do ator, a culinária húngara, com suas carnes e temperos, ganharia pontos. Isso lhe fez pensar em uma opção, bem como uma sugestão de prato só ali servido.

Segunda etapa: como iria. Tinha que ser coerente com o local, que desviava da formalidade e era bastante aconchegante. E, mais do que isso, condizente consigo mesma! Levantou-se, então, e caminhou para seu quarto, onde vasculhara o guarda-roupas em busca de opções. Gostava de um suéter fino e acizentado que tinha, pois não era quente - mas abrigava caso a brisa ficasse mais presente no ar. Junto dele, combinou um short preto de alfaiataria, cujo comprimento valorizava suas longas pernas sem avançar na vulgaridade. Mas... E os sapatos? Tênis não combinava, salto parecia formal demais para a ocasião e, por menor que fosse, acabaria sendo exagerado e desnecessário para alguém de 1.80m.

━ Onde você se meteu....? ━ Repetia para si mesma enquanto procurava pela opção que tinha em mente: uma rasteirinha preta com detalhes em dourado. ━ Onde você... Ah! ━ Um estalo de lembrança lhe ocorreu, fazendo com que se levantasse e, conferindo o horário por garantia, fosse até o apartamento da vizinha. Aproveitou para devolver alguns recipientes da mesma, que um dia trouxeram doces semanais maravilhosos.

Mei Chen era mais do que uma moradora ao lado, havia se tornado sua irmã de coração ao longo dos anos. Uma baixinha bastante extrovertida, bem humorada e corajosa o bastante para deixar sua família tradicional e viver a vida como o coração desejava. Ambas se mudaram para aquela cidadezinha mesma época, o que foi um acontecimento e tanto já que nada ali acontecia. Jacqueline viera da capital por questões familiares, mas Mei havia deixado seu país natal - China - para explorar as pequenas cidades (até mesmo os menores vilarejos) da europa e escolheu a dedo aquele lugar, alegando que se apaixonara por sua calmaria e aconchego. E justamente pela família de Jacqueline elas se uniram, mais precisamente sua avó - antiga dona da confeitaria que a asiática agora gerenciava.

━ Já vai! ━ Exclamou a garota do lado de dentro ao ouvir a campainha. ━ Aproximou-se da porta, reconheceu a amiga pelo olho mágico e abriu a porta com um sorriso empolgodo. ━ Jackie! Finalmente uma folga! Entra aí.