VIII

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Ficamos em silêncio o restante da tarde. Agradeci silenciosamente por isso. Não queria falar mais sobre isso, mas gostava da companhia dele. Na verdade, era a única companhia que tenho.

Quando começou a escurecer, ele me disse que iria para seu quarto, pois logo iria começar o horário de visita. Antes de sair, ele olhou para mim e disse:

- Depois, vá até meu quarto. Você me contou sobre você e agora, vou te contar sobre mim – lançou um sorriso e saiu.

Agora, ele sabia minha história e logo eu conheceria a dele. Eu estava ansioso por isso, conhecer mais sobre o Bernardo. Eu admito estar curioso para saber sobre ele.

Logo depois que saiu, meu irmão entra no quarto, acompanhado da namorada. Ele estava mais feliz que de manhã e isso me deu um alivio. Ele gostava muito dela e ela também parecia gostar muito dele. E ela irradiava felicidade nele. Então, eu estava feliz por isso.

Ele me contou sobre seu dia, sobre a chefe vaca de novo enquanto a Tatiane ria. Eu estava rindo também, mas claro, só eu sabia disso.

Eu tinha medo de que quando acordasse, se eu acordasse, esquecesse de tudo isso. Passar por um luto de novo, ficar sem saber o que aconteceu com meu irmão, meus amigos, com o mundo nos últimos meses. Esquecer até mesmo de Bernardo.

O horário de visitas acabou. Meu irmão e cunhada se despediram de mim. Ambos deram um beijo em minha testa. Sai com eles e acompanhei até o elevador. Com eles, entrou também no elevador a avó de Bernardo. Percebendo assim, sua presença ao meu lado.

- Vou para meu quarto, se você quiser ir... – disse ele virando e seguindo para seu quarto

Segui ele até seu quarto. Havia falado para mim mesmo, para não ser curioso e olhar diretamente para o corpo de Bernardo naquele leito. Mas assim que entrei, não resisti e acabei olhando. Ele ainda estava com bastante hematomas no rosto: olhos roxos e inchados, bochecha e boca cortadas, braço quebrado. Também, havia se passado apenas dois dias da surra.

- Feio né !? – Comentou ele, me observando

- Não, pelo contrário – respondi distraído – quer dizer...

- Relaxa – disse ele rindo - Então, o que quer saber?

- Sabe, me falaram mais cedo que não era uma entrevista – falei rindo e abaixei a cabeça ao ver ele me encarando

- Olha que atrevimento dele. Ele está ficando ousado – disse ele dando risada – Então vamos aos fatos. Mas já aviso, talvez você não queria mais falar comigo. Como te falei, não conheço meu pai e minha mãe morreu quando eu ainda era pequeno. Ela morreu de leucemia. Eu acompanhei o tratamento dela todo, mas nunca tive a chance de me despedir

- Eu sei - interrompi – Sempre achamos que temos tempo e por fim, nunca fazemos isso.

- Exatamente – disse ele me olhando nos olhos – Eu pensei que poderia me despedir, que teria tempo para isso. A partir daí, fui criado pela minha avó. Escolhi caminhos errados, que me levaram a pessoas erradas. Comecei a usar drogas e a me endividar. E por isso, passei a passar droga para um traficante local, para pagar a dívida. Até que um dia, caiu a ficha do mal que estava fazendo para minha avó quem se sacrificou tanto por mim. Então resolvi parar com isso e foi quando me espancaram e tentaram me matar. Afinal, eu sabia demais.

Ele me olhou para ver como eu estava reagindo, pois estivera calado. Mas eu realmente, eu não sabia como reagir e o que falar.

- Eu vou entender se quiser ir embora agora – disse ele ainda me olhando

- E por que eu iria?

- Você é todo fofo, tímido, aparenta ser certinho. Não deveria estar andando com um sujeito todo errado assim– disse ele desviando o olhar

- Para com isso – respondi sério – Como você disse, ficou desse jeito porque quis parar com isso, todos merecemos uma segunda chance

Então como se uma ficha tivesse caído dentro da minha cabeça e minha voz interna estava gritando dentro dela "ELE DISSE QUE VOCÊ É FOFO". Sorri com essa voz e ele percebeu. No mesmo instante abaixei minha cabeça envergonhado.

- O que foi? Por que está com vergonha agora?

- Então, melhor eu indo – respondi já dando meia volta para sair da sala

- Não senhor – disse ele antes que eu pudesse dar um passo – tenho mais uma pergunta para você. Quem é Tyler?

Um amor do outro lado (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora