VII

1.6K 256 2
                                    

Me perdi em meus pensamentos, quando dei por mim, já era de manhã e já havia começado o horário de visitas. A porta do quarto se abriu e por ela, surgiu a figura do meu irmão. Ele estava com os olhos vermelhos, como se estivesse chorado muito.

- Hey maninho... – começou ele se segurando – me desculpa por ontem, não consegui vir te ver.

Ele estava abatido. Triste por isso, dava para perceber. Me deu um nó na garganta. Ele estava se sacrificando por mim. Eu estava sendo o responsável por estar prendendo ele.

- A vaca da nova chefe me segurou após o expediente e acabei perdendo o horário de visitas – continuou ele

- Tudo bem Tony – respondi, apenas por força de habito, pois sabia que ele não me escutaria

Ele continuou me contanto sobre o trabalho, havia sido promovido na empresa, mas sua nova chefe é literalmente uma vaca. Então, o horário de visita acabou e meu irmão se despediu de mim. Sussurrou em meu ouvido "Volta logo Nico, não faz isso comigo" e beijou minha testa.

Mais uma vez, aquele nó em minha garganta se formou de novo. Segui meu irmão até a sala de espera. Parei assim que cheguei e ele continuou até o elevador, mas antes de entrar, ele olhou mais uma vez para traz e deu um leve sorriso, enquanto uma lágrima solitária rolava por seu rosto. Às vezes, tenho a impressão de que meu irmão sente a minha presença com ele, de alguma forma.

Ali na sala, estava Bernardo, olhando atentamente para mim e meu irmão. Acenei para ele, dei meia volta e segui para meu quarto, quando ele gritou para eu esperar ele e em alguns segundos já estava do meu lado.

Fomos andando em silencio até meu quarto. Chegando lá, perguntou se podia entrar e eu assenti com um levantar de ombros. Ele entrou e se aproximou do meu corpo, ali deitado e observou. Eu já não tinha nenhum hematoma no corpo e rosto.

- Então... – começou ele – já nos conhecemos a 2 dias, somos as únicas pessoas com quem podemos conversar...mas eu não te conheço, não sei nada sobre você – disse ele hesitante

- Nem eu de você – respondi abaixando a cabeça

- Você sabe mais de mim que eu de você – ele disse sorrindo

- Tudo bem, pergunte o que você quer saber

- Não quero assim – respondeu ele me olhando e eu o encarei sem entender – Quero que você me fale o que quiser falar, não como um interrogatório ou uma entrevista de emprego – disse rindo

- Tudo bem – disse abaixando a cabeça e meio hesitante, comecei a falar – Eu estou aqui mais ou menos 3 meses. Eu e meus pais estávamos voltando para casa, quando um caminhoneiro bêbado, avançou o sinal vermelho e acertou nosso carro. Aquele que vem me visitar é meu irmão Anthony e como você já deve ter se questionado sobre meu pais não aparecerem aqui, eles não resistiram ao acidente...

- Eu sinto muito Nicholas – disse ele – e doeu? Digo o acidente...

- Pra mim é como um borrão, não me recordo direito o que aconteceu. Então "acordei" – disse fazendo sinal de aspas com as mãos – assim. Na primeira visita, meu irmão me contou o que aconteceu com meus pais.

- E qual o problema com você? Digo, por que não acordou?

- Não sei...Alguns médicos acham que é um bloqueio meu, por meus pais não terem resistido, meu luto me impede de acordar. Outros dizem que única coisa que está me mantendo vivo são os aparelhos, mas meu irmão insiste em manter ligados.

- Claro – me interrompeu ele – não podem desligar ainda, seu irmão está certo.

- Será? – respondi – prolongar o sofrimento dele. Vale a pena?

Um amor do outro lado (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora