XII

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Se estivesse em meu corpo, meu coração iria sair pela boca. Ele disse meu nome. Será que ele irá se lembrar de mim? Mas claro, ele não lembrou. Quando repetiu meu nome, eu pude notar uma mudança em seu olhar, um misto de curiosidade, surpresa ou até mesmo reconhecimento. Entretanto, foi algo passageiro.

Mas eu não podia ficar ali. Precisava ver meu irmão. Afinal, é muito desaforo ele vir me ver todos os dias e eu não estar presente, ainda que desse jeito. Enquanto saia, escutei atentamente sua avó narrando minha história.

- Sim...um dia desses eu desci com o irmão dele no elevador, e eu perguntei quem ele estava visitando e então ele me disse que era o irmão mais novo... – continuou ela

Cheguei ao meu quarto. Meu irmão estava lá sozinho, com mais alguns balões. Em cima da minha cama, perto da minha mão estava um embrulho. Um presente. Ele estava falando comigo sobre seu dia quando eu cheguei.

- Esse dia foi um dia longo dos inferno – continuava ele – aquela vaca deve me odiar, não é possível, minha mesa está sempre cheia de relatórios que ela me pede para analisar, todo dia isso.

Eu só ria das expressões que ele fazia. Eu sempre o admirei. Anthony sabia se expressar muito bem, as vezes até parecia que atuava e exagerava um pouquinho. Eu gostaria de me expressar tão bem assim e não ser tão recluso.

- Esse presente aqui é para você. Vou dar um spoiler, é um livro. Vou atiçar sua curiosidade, quem sabe assim, você não acorda né – disse ele e pude perceber que sua voz saiu um pouco abafada – É um livro, que eu sei, que você estava louco por ele, aliás, um deles né.

Se ele queria me deixar curioso, ele conseguiu. Eu estava com saudade de ler um bom livro. E tenho uma lista de livros que estou sempre querendo, então fica bem difícil de adivinhar. Meus amigos da escola chegaram, com mais balões e meu irmão saiu do quarto e ficou lá fora, enquanto eles me visitavam.

Um médico se aproximou do meu irmão e puxou para um canto. Eu os segui. Afinal, era sobre mim.

- O que foi doutor, teve alguma complicação com meu irmão?

- Até o momento não e é isso que me preocupa – disse o médico com pesar – Ele não está reagindo a nada. E já está há 3 meses nessa situação. Se ele acordar, poderá ter sofrido algum dano e ficar com alguma sequela.

- Doutor, com todo respeito, mas vamos falar sobre isso QUANDO ele acordar – disse meu irmão

- Me desculpe – disse o médico – Vou ser sincero com você, não sabemos até quanto tempo mais, poderemos mantê-lo com os aparelhos, pois ele está ocupando o leito que a qualquer momento, poderá ser necessário.

- O senhor me dá licença – disse meu irmão, já não conseguindo segurar as lágrimas e as colocando para a fora, se retirou da conversa.

Meu irmão passou por meu quarto e foi até o banheiro lavar o rosto. Durante esse caminho, passou pelo quarto de Bê, que quando olhei para ver, vi observando com muita atenção, meu irmão chorando. Sua vó também estava observando.

Quando estava a caminho do meu quarto, a avó do Bê estava parada a porta. Ela parou meu irmão e o abraçou. Meu irmão recebeu aquele abraço e se controlou mais uma vez para não derramar mais lágrimas.

- Deus está agindo com seu irmão, logo ele também irá acordar – disse Vera, avó de Bernardo

Meu irmão assentiu. Nesse momento, ele olhou para dentro do quarto e viu o Bernardo acordado, observando os dois.

- Meu Deus, ele acordou. Que maravilha – disse Anthony abraçando novamente a senhora.

- Sim, meu querido. Ele acordou hoje. E sei que logo será o seu irmão

- Posso dar um oi? – perguntou meu irmão

- Claro, claro, entre. Meu amor, esse é o Anthony, irmão do menino que te contei – disse ela entrando no quarto de Bernardo e dando passagem ao meu irmão.

- E aí, Bernardo né!? – disse meu irmão olhando para Bernardo e sua avó, esperando uma confirmação

- Isso mesmo – respondeu Bê

- Prazer, sou o Anthony, me encontrei com sua avó e conversamos sobre vocês dois. Quero dizer, sobre você e meu irmão

- Nicholas né? – Se tivesse como, meu coração teria saído do meu peito

- Isso, esse mesmo – disse meu irmão se esforçando para sorrir – Só queria dar um oi mesmo, e te desejar melhoras na sua recuperação. Bom, preciso voltar para meu irmão.

- Obrigado – respondeu Bernardo, olhando com atenção meu irmão – Você me parece familiar.

- Desculpe interromper – disse o médico, aparecendo na porta – Anthony, você pode me acompanhar? É sobre seu irmão.

Um amor do outro lado (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora