Capítulo 44

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Apolo

   A médica que acompanhou toda a gravidez da Valentina já estava na sala de cirurgia. Eu queria muito entrar, mas ela terá que fazer uma cesárea para salvar tanto o meu filho quanto a minha esposa.

— Vai dar tudo certo, Apolo! Sei que a médica vai fazer um ótimo trabalho e logo logo, você verá a Valentina e o bebê. — Tia Sara fala, me abraçando.

   Balanço a cabeça nervoso e jogo as madeixas para trás respirando fundo.

— Eu não posso perdê-los, tia. Eu já perdi muitas pessoas importantes na minha vida. Eu não posso escolher entre a Valentina e o meu filho... P-porque eu... Necessito dos dois ao meu lado. Eu preciso dos dois comigo. — Digo, apenas cabisbaixo.

   Bruna se ajoelha na minha frente com os olhos cheios d'água e ergue meu queixo com o polegar, quebrando o silêncio.

— Você não vai terá que escolher um dos dois, Apolo. Disso, eu tenho certeza... — Alguém se aproxima, interrompendo Bruna e eu inclino a cabeça olhando para o lado.

— Senhores. Senhoras... — Ela fala, fazendo uma breve pausa. Me levanto na mesma hora, pronto para saber como eles estão e os seus olhos se viram para mim. — A Valentina e o bebê, não correm risco de vida. Não teve complicações em realizar a cesárea, mas eu entrarei com pedidos de exames para o bebê. Como ele não nasceu no dia previsto, preciso garantir o máximo, que ele não corra problemas futuros.

   Sorrio de alegria ao receber a notícia e não vejo a hora de vê-los. Recebo palavras de carinho da minha tia, da Bruna. Romanos também me parabeniza e o meu tio se aproxima, estendendo a mão para mim.

— Felicidades, Apolo. Se for possível e eu sei que a Valentina não vai... Mas, diga a ela que eu posso esperar o tempo que for para ela me perdoar. — Ele diz, apenas erguendo o cenho.

   A minha vontade, era de dizer tantas coisas para ele por tudo que fez. Mas uma coisa eu sei que, se não fosse por ele, eu e a Valentina, não teríamos nos conhecido. E nada, vai estragar a minha felicidade, muito menos o que aconteceu horas antes.

— Apolo me acompanhe por favor!

   Agradeço a todos e dou de ombros seguindo a médica. Ando mais um pouco e ela abre a porta do quarto, onde me deparo com a Valentina segurando o nosso filho. Me aproximo com o sorriso de orelha a orelha e lágrimas nos olhos sem acreditar que o que estou vendo é verdade.

   Valentina sorri ao me ver e estende a mão para mim. Pego em sua mão trêmula e eu a beijo na testa, sem perder o contato com o meu filho.

— Meu filho. Ele é meu filho, Valentina? — Pergunto, sem jeito com as palavras de tanta emoção.

   Ela assente, apenas e sorri fazendo um carinho no seu nariz tão minúsculo, menor que o meu dedo mindinho e quebra o silêncio.

— Sim, meu amor. Ele é seu filho. Heitor. — Ela fala, baixinho para não acordá-lo.

   Desvio os olhos para ela e franzo o cenho surpreso. 

— Heitor?! É um nome lindo, Valentina... — Digo, pegando em meus devaneios. — Heitor Carmona... — Ela me interrompe, ao me entregar nosso filho.

— Porque não o segura? — Valentina pergunta, apenas me olhando.

— Segurar? E-eu não sei como segurar ele. É tão pequeno e... — Novamente ela me interrompe e balança a cabeça sorridente.

— Se você pegou a mãe dele no colo, você sabe como pegá-lo também! — Ela afirma, colocando o meu filho em meus braços cuidadosamente. — A diferença é que terá que segurá-lo firmemente. 

   Recuo com cuidado, ao ver o Heitor em meus braços e vejo o quanto se parece comigo. Lindo e charmoso como o pai, é claro, isso não poderia faltar nele. Mas tem a tranquilidade da mãe e principalmente os olhos pequenos.

   Me aproximo novamente de Valentina, quando sinto algo diferente ao pegar em sua mão. Está fria e ele não se mexe. Valentina me olha sem expressão alguma estendendo as mãos e quebra o silêncio.

— Apolo, traz ele pra mim? Quero pegá-lo outra vez. — Ela fala, como um extinto maternal dentro de si.

   Não penso duas vezes e dou de ombros caminhando em direção a porta do quarto chamando qualquer pessoa do hospital desesperado.

— Apolo, traga o Heitor para mim agora! — Valentina fala, em voz alta.

   Eu a olho em desespero e balanço a cabeça em negação.

— Vai ficar tudo bem, meu amor! — Digo, apenas e saio do quarto a procura de um médico.

   Logo mais, o Phillip caminha para minha direção e eu entrego o meu filho em seus braços sem entender o que está acontecendo.

— Faça alguma coisa, Phillip! O meu filho acabou de nascer e quando eu o peguei a temperatura do corpo mudou... — Phillip me interrompe, se afastando cada vez mais com o meu filho.

— Chamem a equipe médica agora! — Ele diz, ao correr com Heitor nos braços.

— Apolo, o que houve? É a Valentina? — Tia Sara questiona, com a voz indagada.

— É o meu filho, tia! A Valentina me entregou ele nos braços e quando eu o peguei, ele começou a esfriar. 

— Deus do céu! Que não seja nada de mais! — Romanos fala, apenas preocupado.

— EU QUERO O MEU BEBÊ! — A voz de Valentina ao berros, soam pelos corredores do hospital.

   Corro em direção ao quarto ouvindo os passos da minha família logo atrás de mim, quando me deparo com Valentina se soltando do soro que recebia na veia. Me aproximo, tentando acalmá-la, mesmo debatendo contra mim várias vezes, aos prantos.

— O que aconteceu com o meu filho, Apolo? Porque o levou de mim? — Ela berra, aos gritos furiosa.

   Aperto os seus braços, fazendo com que olhe em meus olhos e quebro o silêncio.

— Eu tive que levar porque ele estava frio, Valentina! O Phillip o levou para salvá-lo, mas você precisa se acalmar! — Digo, olhando em seus olhos lacrimejados de tristeza.

— Eu só vou me acalmar quando eu ver o Heitor nos meus braços... Traga o nosso filho, Apolo? Por favor?

   Em seguida, a enfermeira entra no quarto e eu a olho esperando por uma resposta, mas ela abaixa a cabeça e a inclina novamente desviando os olhos para mim, quebrando o silêncio.

— Eu sinto muito. Nós não conseguimos trazê-lo de volta... — Eu a interrompo, me aproximando dela e pego em seu braço furioso.

— Cadê o Phillip? Eu confiei nele... — Ela se afasta se soltando de mim.

— Senhor, o Dr. Phillip precisava de fazer uma cirurgia de última hora em um paciente que acabou de chegar! Nós que tentamos salvar o seu bebê. Me desculpem!

   A enfermeira dá de ombros e me viro ao olhar Valentina, que novamente está descontrolada se levantando da cama.

— HEITOR! HEITOR! EU QUERO O MEU FILHO! TRAGAM ELE PRA MIM! 

   Eu a abraço, mesmo que ela me evite e mesmo parecendo forte por fora, me sinto fraco por dentro, por não ter feito nada para salvar o meu filho. A culpa é minha e eu não fiz nada para ajudá-lo.

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