Capítulo 10

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   Aproveitei que Sarah e Bruna, foram dormir e decidi ir embora desse lugar o mais rápido possível. Ainda mais com a ausência de Apolo, para mim, ficaria mais fácil de fugir. O relógio marcava 01h00 em ponto e sem mais delongas, abro as enormes portas da janela da sacada do meu quarto e imediatamente, eu as fecho, não levantando suspeitas. Ando em direção ao parapeito da sacada e avisto as trepadeiras, que logo me sento ao topo da saca e arqueio cuidadosamente, o meu corpo para trás, segurando fortemente pelos cipós que ainda estão bem firmes, entremeio as raízes. Desço devagar, tentando não olhar para baixo. 

   Da última vez que estive aqui, eu tive um acidente e não quero ter que relembrar desse momento trágico. — Penso, em silêncio pegando em meus devaneios.

   Mais algumas pedras no caminho e então, finalmente eu sinto os meus pés no chão. Não vejo a hora de sair desse lugar, de sumir pra bem longe. Antes que o Apolo, chegue de viagem.

   Corro os olhos para todos os lados e me escondo atrás de um dos arbustos, para que não me vejam e com sucesso, não há ninguém à espreita. Não há seguranças no local vigiando a casa e ando em disparada rumo aos enormes portões de grades e escalo até o topo, para finalmente sair desse lugar. Olho para o chão e respiro fundo, pronta para pular, mas um piso em falso, arqueio o corpo para trás e mesmo segurando nas grades, minhas mãos deslisam pelas barras de ferro e me encontro com o chão. Me levanto, segundos depois e sinto uma leve ardência, ao ver que esfolei um dos joelhos. Mesmo sentindo esse desconforto, dou de ombros sem olhar para trás e corro o mais rápido que posso.

   Não posso permitir que Apolo volte a me machucar. Eu não o amo e isso jamais vai acontecer. Mas também, não posso voltar para a minha família. São um bando de traidores, incluindo o Ícaro. A pessoa que eu nunca imaginaria, que um dia fizesse isso comigo e de todas as pessoas, ele foi quem mais me machucou. — Penso, em silêncio ao andar pela estrada sozinha.

   Estou andando a horas sem rumo, apenas seguindo por uma rua deserta, onde não há nenhuma alma viva no caminho. Encolho os meus braços, cruzando-os sentindo o vento que bate em mim e depois de virar a cabeça para o lado contrário da rua, observando as lojas fechadas, o mesmo vento, chicoteia os meus cabelos. Desvio os olhos para o céu, comprovando que realmente virá chuva e eu apresso os passos, procurando um lugar pra ficar.

   O sinal do trânsito fecha, assim que um carro desacelera o motor onde a poucos minutos, estava em uma velocidade moderada. Bufo, sem tirar os olhos do sinal e atravesso a rua, voltando a andar pela calçada. 

   Mesmo que eu tente, Apolo vai me procurar onde quer que eu esteja. Mas se eu não tentar, nunca saberei se vou conseguir ficar livre desse casamento forjado pelos meus pais. — Penso, em silêncio ao ver um depósito de combustível abandonado ao lado de um terreno baldio.

   Paro em frente e corro os olhos pelo lugar, assentindo com a cabeça.

— Não é o melhor lugar, mas por enquanto, é onde eu vou passar essa noite. — Digo, baixinho para mim mesma.

Enquanto isso...

Apolo

   Trago mais uma vez o charuto e deixo queimá-lo no cinzeiro, o resto que falta até se transformar em cinzas. Sinto o toque suave das mãos de uma das strippers, mas não se compara como as mãos da minha Valentina. Rick se aproxima sorridente e ergue as sobrancelhas, satisfeito pelas armas e quebra o silêncio.

— Podemos fazer mais negócios como este, Apolo. Quem sabe, poderíamos colocar a vinícola... — Eu o interrompo, balançando a cabeça em negação.

— Você tem negócios comigo e com o meu tio, relacionados à máfia. A vinícola, jamais entrará em negócios envolvidos com o que fazemos, Rick. É a minha última palavra. — Retruco, totalmente ríspido fuzilando-o com os olhos.

— Calma, Apolo. Calma! — Rick afirma, fazendo sinal com as mãos e sorri sem graça. — Eu estava só brincando. Você está precisando relaxar. Porque você não reserva um quarto, com uma das minhas garotas? Pode ter, qualquer uma delas... O que acha?

   Eu o fito com os olhos, tentando não perder a paciência e me levanto da cadeira roçando a barba.

— Eu não preciso de nenhuma das suas garotas. Eu tenho uma esposa maravilhosa em casa. — Digo, apenas dando de ombros.

***

   Por fim, chego no hotel e destravo a porta adentrando em meu quarto, terminando de tirar o paletó, quando me deparo com ela deitada na minha cama, usando uma lingerie vermelho-sangue. Reviro os olhos, pensando na merda que vai acontecer e respiro fundo, tentando assimilar as coisas e bufo, me aproximando erguendo as sobrancelhas.

— O que faz aqui, Catrina? — Questiono, apenas totalmente sério.

   Catrina enrola uma madeixa do cabelo no dedo e balança a cabeça.

— Gostou da surpresa, meu amor? — Ele pergunta, me ignorando.

   Eu mostro o dedo onde está a minha aliança e sorrio em linha reta, dando de ombros abrindo a porta do quarto.

— Catrina, vá embora!

   Ela se levanta e se aproxima de mim, franzindo o cenho e quebra o silêncio.

— Porquê você fez isso? Você acha mesmo, que só porque está casado, vai deixar de me procurar, Apolo? Você vai implorar, pra estar comigo. — Ela diz, com um sorriso no rosto.

— Já acabou? Agora, vá embora, Catrina! Não me faça ter que chamar os seguranças. — Digo, totalmente frio e a pego pelo braço, a tirando do quarto a força.

— Você me paga, Apolo Carmona! 

   Eu a olho pela última vez e bato a porta, mesmo que ainda esteja parada me encarando e tiro a roupa andando até o chuveiro. Nada melhor, que esfriar a cabeça. Mesmo com tantos problemas, eu só consigo pensar na minha esposa e imaginar o rosto angelical. E aqueles olhos por quem me apaixonei.

— Como ela pode pensar que eu seja um homem ruim e sem sentimentos? Sou de carne e osso e sofro pelo que ela faz comigo, me dizendo coisas pesadas... Ah, Valentina! Se você soubesse o que eu já passei. O que eu já fui antes de te conhecer. E o que eu me transformei. Se você soubesse... — Digo, baixinho para mim mesmo, pegando em meus devaneios enquanto deixo a água escorrer pelo meu corpo.

   Depois de um banho relaxante e demorado, volto para o quarto enxugando as madeixas loiras que deslisam pelos ombros e ouço o celular tocar. Ando em direção ao criado-mudo e pego o celular, atendendo a chamada da minha tia Sarah.

— Tia? Eu não esperava a sua ligação... — Ela me interrompe, em um suspiro profundo e preocupador.

— Você precisa vir embora, Apolo. A Valentina fugiu!

   Meu coração estremesse e meu corpo vibra, onde a raiva me consome por dentro. E, ao mesmo tempo, me vejo preocupado em saber onde Valentina deve estar agora.

   Sem me importar, encerro a ligação não dirigindo a palavra para minha tia e visto qualquer roupa que vejo pela frente, dando de ombros ao sair do quarto. A camisa está mal abotoada, preenchendo apenas o botão do meio, deixando à mostra, meu abdômen definido e saio pelo corredor estreito do hotel, a procura do meu tio.

   Bato várias vezes na porta, sem me conter e por fim, vejo meu tio, a minha frente,  abotoando os botões da camisa de cetim azul-marinho. Ele assente, confirmando que já sabe o que está acontecendo e me mostra que a hora que quisermos, podemos ir, onde ele alugou um jatinho particular.

— Eu preciso encontrá-la, tio... — Digo, fazendo uma breve pausa. — Eu preciso.

— É claro que você vai encontrá-la. E eu te ajudarei, Apolo. É melhor irmos, meu filho. — Tio Thomas fala, me levando para fora do quarto.

   Com a ajuda dos seguranças do hotel, seguimos em direção ao terraço, onde o jatinho nos aguardava prontamente, para voltarmos para Palermo.



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