Capítulo 45

790 51 5
                                    

Meses depois...

   Hoje faz três meses, que o meu filho faleceu. Tão pequenino e indefeso, ainda me culpo de não ter feito nada para salvá-lo. Valentina está melhor depois de se conformar pela morte do nosso bebê e ao contrário de mim, ela não me acha culpado. Não foi fácil para ela nesses três meses, quer dizer, para nenhum de nós dois. Valentina entrou em depressão pós-parto e teve várias recaídas ao longo do tratamento. Mesmo assim, eu não deixei de estar ao seu lado. Agora mais que tudo, precisamos ficar juntos.

   Superamos tantas coisas. Resolvemos todas as brigas. Mas perder o nosso filho, foi o suficiente para sabermos que mesmo que o Heitor não esteja presente, é a prova, de que ainda existe amor entre nós dois. Poderíamos ter mais filhos futuramente, formarmos uma família até já conversamos sobre isso, mas Valentina não deseja. E por um outro lado, eu também não quero substituir o meu filho por outro. Não quero preencher esse vazio que sinto dentro de mim, porque sei que agora não é hora.

   Olho para ela, enquanto o vento chicoteia as madeixas do seu cabelo. Seu sorriso é o mesmo, desde quando nos conhecemos e vê-la feliz, pra mim, não tem preço. Valentina, cheira a rosa que lhe dei antes de entrarmos na balsa e ela me olha, dando algumas piscadelas. Sorrio de lado e ela quebra o silêncio, erguendo as sobrancelhas.

— Que foi? — Ela questiona, apenas sem entender.

   Balanço a cabeça e a inclino, olhando em seus olhos.

— Nada. Só estou te olhando. Não posso? — Pergunto, sorrindo.

   Ela revira os olhos como se estivesse pensando e sorri de volta.

— Acho que está tentando me seduzir. — Valentina brinca, girando a rosa na mão.

— Eu te seduzindo? Tá bom! 

   Valentina se aproxima e eu enlaço os meus braços em seus ombros por trás, ao observarmos juntos, o pôr do sol.

— Quanto tempo não me sentia tão bem! Sabe, eu precisava disso. De me sentir livre. De refletir tudo que passamos juntos. E hoje sei, que foi um aprendizado, Apolo. — Ela diz, se virando para mim e me olha nos olhos. Tiro a madeixa do seu cabelo na frente de seus olhos e ela engole em seco. — Eu quero dizer que o meu amor por você, nunca vai mudar. Nunca vai mudar o que sinto por você, Apolo. Pode passar anos, mas sempre será você aqui dentro. — Valentina acrescenta, colocando a minha mão sentido ao seu coração.

   Eu a beijo com carinho, afundando os meus dedos em seu cabelo e finalizo com um beijo na testa.

— Eu te amo, Valentina.

   Meu celular vibra dentro do bolso e resolvo atender, ouvindo um chiado do outro lado da linha. Aproveito que a minha esposa volta a olhar para o horizonte e me afasto.

— Enfim, eu consegui falar com você. — A voz familiar, soa do outro lado da linha, mas não reconheço por completo. — Se quiser a sua família viva, na verdade pensando bem, se quer ver a Valentina viva, é melhor que deixe a Itália pra sempre. E é melhor faça isso rápido, porque em algum lugar da balsa, há uma bomba. É melhor se despedir dela, porque você só tem três minutos. A não ser que queira vê-la morta.

— Youssef! Youssef! — Eu o chamo, mas a ligação cai segundos depois.

Valentina

   Me aproximo de Apolo e franzo o cenho, quebrando o silêncio.

— Quem era? — Questiono, apenas olhando em seus olhos.

   Apolo me olha como se estivesse preocupado, percebendo que aproximamos do cais e quebra o silêncio.

Destinos RoubadosOnde histórias criam vida. Descubra agora