No Deserto

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  Naquela tarde, o grupo inteiro rodou alguns quilômetros até finalmente encontrarem o local dito no panfleto. Era uma casa de madeira com uma enorme placa azul indicando "passeios com guia no deserto".
  -Eu ja estava morrendo de tédio. -reclamou Lindsay, enquanto o carro parava no estacionamento.
  Apesar da distância ter sido parcialmente longa e o Sol estar quente como se pretendesse cozinha-los, Will já considerava aquelas umas das melhores horas que havia vivido.
Primeiro, estava com seus amigos e todos eles sabiam que ele e Nico estavam juntos.
Segundo, estava indo fazer um passeio com todos eles.
Terceiro, Nico estava dirigindo um dos dois carros que os levaram para o deserto.
Aos olhos de Will, Nico estava simplesmente lindo. Ele usava óculos de sol com as lentes escuras, mas que ainda pareciam incomoda-lo. Sob a armação, Will via a pele cheia de pequenas sardas geradas pelo sol. As sombras que a luz forte gerava marcava todos os traços e curvas do rosto dele. Além de que algum anjo havia o convencido a usar uma camisa de botão de manga curta. Will desejava desesperadamente que tivessem um momento a sós.
-Você é um péssimo copiloto, Will. -Nico comentou, enquanto saía do carro.
-Por que?
Nico sorriu, para estraçalhar ainda mais os sentidos de Will.
-Teoricamente, quem senta no banco do passageiro também deveria manter os olhos na estrada, não no motorista.
Will riu, sem conseguir evitar que o sangue lhe subisse ao rosto.
-Prefiro olhar o motorista.
-Ah, eu adoraria ficar olhando o passageiro, mas então todos nós morreríamos.
-Não diga coisas assim.
  -Mas é a verdade.
  Nico se aproximou dele e então parou. Will assistiu seus olhos se movendo minimamente mas bem rápido pelo seu rosto.
  -Não tive tempo de dar uma olhada em você antes. -disse Nico, em voz baixa, só para eles dois. -Mas saiba que eu acho uma lástima que o deserto seja um local tão aberto.
  Will sorriu, sentindo um milhão de coisas ao mesmo tempo. Mas tudo que pode fazer foi soltar um suspiro.
  -Oi, bonitinhos. -disse Lindsay, se aproximando cuidadosamente. -Vamos. Vocês precisam assinar os termos também.
  -Estamos indo. -disse Nico a ela, que assentiu e saiu correndo para dentro da casa. -Vem, vamos sair do Sol, ou minha cabeça vai começar a doer.
  Nico esticou a mão para ele, e por um instante Will sentiu seu coração palpitar. Uma hesitação já intrínseca na sua mente quis fazê-lo negar o toque.
  -Não precisa se não quiser. -Nico disse, notando algo estranho. -Você está bem?
  Will piscou, afastando aquele sentimento ruim de medo. Ele pegou a mão de Nico e entrelaçou seu dedos.
  -Estou.
  Nico parou um instante olhando-o um pouco mais.
  -Tem certeza? Se não estiver pronto para sair andando por aí assim, não vou te pressionar.
  Will balançou a cabeça, um sinal de "não se preocupe", acariciou a mão dele com o polegar e indicou a casa com a cabeça.
  -Temos que ir.

***

  Era estranho como Nico percebia que, mesmo depois da intimidade que haviam dividido no dia anterior, Will ainda sentia-se tímido de segurar na sua mão. Ele não demonstrava nada, nem tentava soltá-lo, mas a inquietação era o suficiente para que Nico percebesse.
Ninguém havia dito ou lançado nenhum olhar de contradição quando eles entraram na casa e foram até o balcão para assinar uns papéis de responsabilidade, mas se Nico apertasse mais um pouco a mão de Will, poderia sentir o pulso dele e ver como estava acelerado.
Enquanto o guia - um senhor de meia idade, usando uma farda caqui - saía para se preparar, Nico aproveitou o momento para puxar Will até a máquina de lanche perto da porta, longe o suficiente para que ninguém os ouvisse.
-Segurar minha mão te deixa muito nervoso?
-Não.
Nico riu. Will também era um péssimo mentiroso.
-Mesmo?
  A incredulidade na voz de Nico fez Will baixar os olhos para ele.
-Como assim?
Nico pensou se Will ficaria ainda mais vermelho se o tocasse no rosto, mas supôs que isso não fosse possível. Will já estava vermelho demais, quase como se estivesse com insolação.
-Você está tão vermelho que poderia ser usado como uma placa de trânsito. -Nico disse, suavemente, enquanto tocava a bochecha dele.
Will abriu a boca e a fechou.
-Eu não controlo isso. -respondeu.
-Claro que não, mas se você não se sentir confortável você pode me dizer.
Will assentiu. Parecia que a coragem que ele havia tido de beija-lo na frente dos amigos mais cedo havia evaporado com o calor que fazia naquele dia.
-Pode parecer estupido, -Will disse, de repente. -Mas... é que eu nunca fiquei de mãos dadas com ninguém dessa forma.
Foi a vez de Nico ficar sem palavras.
-Com certeza você ficou de mãos dadas com alguém. -Nico disse. -Você já namorou antes.
-Sim, mas eu evitava muito contato, dizia que minhas mãos suavam demais, coisas assim.
Nico segurou um início de riso e assentiu para disfarçar. Era uma característica que ele havia aprendido sobre Will. Ele ficava surpreso com coisas pequenas, como andar de mãos dadas, toques no cabelo e beijos rápidos.
  -Me corrija se eu estiver errado. Mas acho que você pulou muitos estágios do início de um relacionamento. Pelo menos os mais... sutis.
  Will franziu a testa.
  -O que quer dizer?
  -Não sei se você se lembra, mas depois que nos beijamos pela primeira vez, antes de sair do quarto, você pareceu muito impressionado com o selinho e não com o beijo.
  Will balançou a cabeça sorrindo, relembrando o momento.
  -Eu fiquei impressionado.
  -É disso que estou dizendo.
Will ficou pensativo por um momento.
  -Você quer dizer que eu pulei a parte mais inocente? É isso?
  Nico meneou a cabeça.
  -De certa forma. Você não acha?
  Will ficou em silêncio por um instante, mas antes que pudesse dar uma resposta a Nico, ouviu seus nomes serem chamados do outro lado da sala. Era Charles, avisando que o guia estava esperando.
  -Conversamos sobre isso mais tarde. -disse Nico, antes de começar a levá-lo para onde Charles estava.

Summer Strange Love - Solangelo Onde histórias criam vida. Descubra agora