A Chegada de Lee

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  Will não sabia ao certo quando havia dormido, mas quando acordou no outro dia, deitado na sua cama, ainda estava com as roupas com que havia ido à praia e abraçava o livro contra o peito. Aos poucos ele foi se dando conta que era uma nova manhã, um novo dia. E de repente todos os acontecimentos do dia anterior voltaram.
  Ele gemeu e enfiou o rosto no travesseiro.
  Era verdade, Lee estava vindo.
Will amava o irmão, apesar de terem visto muitas famílias onde os irmãos não se suportavam durante a vida, além de implicâncias ocasionais, os dois se davam muito bem. Mas ele não estava pronto para lidar com um embate entre sua mãe e o irmão depois de tanto tempo. A lembrança do sangue tão vermelho que parecia preto escorrendo pela testa de Lee era o suficiente para recorda-ló de como era ter os dois ao mesmo tempo.
  A última vez que os dois haviam se visto fora no aniversário de um primo, e, ainda que tivesse sido um tanto pacífico, nada se comparava com o clima horrível que eles haviam criado através de olhares hostis um para o outro.
  -Bom dia. -uma voz disse à sua direita.
  Will se virou devagar e viu Lindsay parada em frente à janela, a luz que delineava a prima o informava que ainda era cedo.
  -Bom dia, Lind. -Will se apoiou nos cotovelos e olhou o resto do quarto. Estava vazio. -Onde estão os outros?
  -Já foram para a piscina. -ela disse, sentado na beira da cama de Will. -Você está bem?
Nos últimos dias Lindsay sempre parecia tensa antes de falar com ele, o que obviamente não era comum, e quando falava seu rosto perguntava mais do que as suas palavras essa mesma pergunta. Ela sabia o ler tão bem quanto a si mesma, portanto sabia que alguma coisa dentro de Will havia mudado, e a pergunta era só uma cortesia para não dizer de cara que ela sabia que ele estava diferente. E ele sempre respondia da mesma forma:
  -O suficiente.
  Ela aceitou a resposta e desviou o olhar para o livro caído ao seu lado.
  -O que aconteceu com você ontem enquanto não estive aqui?
  Will respirou fundo e a explicou toda a situação de Lee, pulando a parte de ter encontrado com Nico na praia.
  -Não se preocupe muito. -ela disse, apertando as mãos de Will. -Todos somos adultos agora. Precisamos saber nos comportar em determinadas situações.
  Will suspirou.
  -Você tem razão.
  Ele parou e a frase o levou para a noite anterior no pátio. Havia sido alucinação sua ou Nico realmente havia tentado uma investida naquela conversa?
  -Will? -chamou Lindsay, estalando os dedos na frente dele. -Por que o sorrisinho?
  -O que?
  Ela estreitou os olhos para ele.
  -O sorrisinho.
  Will o apagou do rosto rapidamente.
  -Não, não, não. -ela segurou o rosto dele entre as mãos. -Você está me escondendo algo. O que você fez ontem?
  -Li na praia.
  Lindsay apertou ainda mais os olhos.
  -Com quem?
  Ele franziu a testa, se fazendo de inocente.
  -Ninguém. Como você é estranha, você costuma ler em companhia? -ele disse, se fazendo de inocente.
  -Mentiroso!
  Will revirou os olhos, desistindo de se safar, e afastou as mãos dela para longe dos seu rosto.
  -Eu estava lendo na praia e... -ele puxou os cabelos para trás e seu rosto corou até a ponta das orelhas. -E o Nico apareceu e conversamos.
  Lindsay estava com os olhos arregalados.
  -Que tipo de conversa?
  Will piscou.
  -O que você quer dizer?
  Lindsay revirou os olhos, como se fosse óbvio.
  -Foi tipo um... flerte? -ela sugeriu cuidadosamente.
  Will sentia todo o rosto pegando fogo e ele não queria olhar para Lindsay agora.
  -Não. -ele disse. -... e sim.
  Lindsay estava estarrecida.
  -E sim? -ela ecoou.
Will esfregou o rosto com as duas mãos e respirou fundo. Não sabia se estava pronto para admitir isso.
  -É. Algo do tipo, mas não assim.
  -Você não quer me contar detalhes? -ela insistiu, com grandes olhos de cachorro pidão.
  -Agora não, eu ainda não sei bem oque aconteceu.
  Ela engoliu a curiosidade e balançou a cabeça.
  -Quando você quiser. Tipo, daqui a vinte minutos.
  Will riu e a empurrou.
  -Não. Quando eu quiser.
  -Foi oque eu disse. -ela levantou rindo, e um pouco perdida ainda. Como se a notícia tivesse amolecido suas pernas. -Vou te esperar na sala. Temos que encontrar os outros. Eu... vou indo.
  Ela saiu do quarto fechando a porta.  Will respirou fundo. Mais um dia estava começando.

Summer Strange Love - Solangelo Onde histórias criam vida. Descubra agora