Seis Dias

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  -Eu entendo se você ficar com raiva. -Nico continuou. -Mas é uma possibilidade, não é?
  Will respirou fundo. Era uma possibilidade. Claro que era. Talvez eles terminassem até antes disso. Talvez Nico quisesse terminar agora e ele não estivesse entendendo o fora, sempre fora muito ruim em entender entrelinhas.
  -É uma possibilidade. -Will respondeu, tentando manter a voz estável.
  Will pensou nas vezes que viu sua mãe na sala de estar e pensou se deveria contá-la. Mas o rubor nas bochechas dela e a aparência, em geral, saudável, o faziam desistir. Sabia que, depois que ele a contasse, sua mãe definharia novamente. E ela estava agindo tão bem com ele, não haviam gritos nem irritações. Ela nunca mais havia se inflamado por causa de Lee ou do seu pai. E ele sabia que vez ou outra eles se esbarravam, era impossível andar pelo clube sem se ver. Ela podia ignora-los, mas os via e não dizia nada. Isso para Will era sinônimo de paz, e ele não queria jogar uma bomba nas mãos dela de novo. Só que ele teria que fazer aquilo.
  -Eu sei que estou demorando muito para contar a ela. -Will disse.
  -Não estou o pressionando a fazer isso. -Nico se adiantou. -Apesar de... parecer bastante que é o que estou fazendo.
  Will ergueu a cabeça, vendo Nico recostado nas paredes do tubo escorrega, com olhos brilhantes e escuros observando-o.
  -Você vai me esperar até quando?
  Nico franziu a testa.
  -O que quer dizer?
  -Você está terminando comigo ou você vai esperar mais um pouco para isso?
  A expressão no rosto de Nico era de confusão e um pouco de choque. Will não sabia dizer o porque estava sentindo raiva, mas estava. Sua parte racional dizia que não era raiva de Nico, mas ao mesmo tempo alguma partezinha sua dizia que Nico não estava tentando entender o seu lado.
  -Não estou terminando com você. -Nico afirmou.
  -É o que parece que está fazendo.
  Nico o observou por um instante.
  -Não estou fazendo isso. Estou explicando nossa situação e perguntando se você consegue lidar com isso.
  -Não sou eu quem não consegue lidar com isso. -ele rebateu.
  Assim que as palavras saíram da sua boca, Will entendeu o que Lee queria dizer com "coisas que fazemos sem perceber". Quando parou de falar, sentiu como se tivesse machucado Nico.
  Nico também parecia um tanto machucado.
  -Se está procurando um motivo para acabarmos, não precisa se esforçar tanto. -Nico respondeu, com a voz fria.
  Will estava acostumado a ouvi-lo assim falando com as outras pessoas, não com ele.
  -Afinal, o que estamos terminando? -Nico continuou.
  -Nico...
  -Will, eu não suporto quem brinca comigo, e quero que você saiba disso muito bem. Eu não tolero brincadeiras de mal gosto, e eu lido muito mal com elas.
  Will suspirou.
  -Eu sei disso.
  -Então?
  -Não estou brincando com você.
  Will entendeu o que Nico estava fazendo depois que o viu escorregar pra fora do brinquedo do parquinho. Ele seguiu atrás. Quando saiu para a noite fria, Nico já estava alguns passos na frente , já alcançado o caminho de pedras.
  Will correu atrás dele e o ultrapassou, parando na sua frente.
  -Não leve as coisas tão a sério.
  -Não levar as coisas a sério? Então o que estamos fazendo? Você acabou de me dizer que eu não consigo lidar com todo esse nosso problema, o que não é o caso, porque até agora eu sou o único que não quis desistir. E eu não suporto quem me acusa do que não estou fazendo.
  -Eu sei. Eu sei. -Will suspirou. -Eu... não posso retirar o que eu disse porque eu sei que você já gravou isso para sempre na sua cabeça, mas... você tem que me entender também.
  -E eu entendo.
  -Então qual é o nosso problema agora?
  -Que aparentemente você não quer lidar com isso.
  Will ficou parado, sentindo o vento gelado esfriando até suas orelhas.
  -Você está com medo de se apegar e já está pensando em ir embora, não parece um problema que eu possa resolver.
  Nico o encarou por um instante antes de o contornar e continuar a andar.
  -Parece que tudo que eu falo está errado para você. Poderia me fazer o favor de explicar? -Will perguntou às  suas costas.
  Nico parou no arco do parquinho e olhou para trás.
  -Eu tenho medo de não significar nada para você, certo? Eu odeio pensar nisso. E odeio ainda mais a possibilidade de que, em alguns dias, você pode simplesmente se esquecer de mim. E eu não quero te forçar a nada, então, Will, o nosso problema é, você nos leva a sério?
  Will ficou parado, olhando-o, perplexo pela quantidade de informações que havia recebido de uma vez.
  -Claro que levo! -ele se irritou. -Eu estou disposto a contar tudo por sua causa. Precisa de mais provas?
  Nico deu de ombros suavemente.
  -Eu não sei.
  -Então você não confia em mim?
  -Você não entendeu até agora que eu não posso confiar?
  Will arfou, sem palavras.
  -Então como eu posso confiar que você também não vai me deixar sem mais nem menos?
  -Porque eu não tenho nada a esconder, Will.
  -Eu...
  Nico acenou para que ele parasse. Ele parecia cansado, de um jeito triste. Will queria pedir desculpas e retirar tudo que havia dito, mas seus nervos ainda estavam a flor da pele. Não conseguia entender porque Nico não confiava nele. E sabia que parar havia sido o certo, não queria acabar falando besteiras.
  -Nos exaltamos. -disse Nico, evitando o olhar. -Amanhã nós conversamos. Ou depois de amanhã. Quando estivermos mais calmos.
  Will ainda queria continuar, mas parou quando viu o semblante dele tão afastado.
  -Não estamos terminando, não é? -Will perguntou, ainda temeroso quanto ao fim daquela conversa.
  Nico abriu a boca, então a fechou e a abriu de novo, procurando pelas palavras certas.
  -Espero que ainda não.
  Will engoliu em seco.
  -Nico...
  -Pense no que você disse e eu vou pensar no que eu disse. Quando conversarmos de novo, vamos tentar não gritar, sim?
  Will assentiu, sem ver outra saída. Nico balançou a cabeça, deu as costas e foi embora.

Summer Strange Love - Solangelo Onde histórias criam vida. Descubra agora