É bom conhece-lo, Nico

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A ideia de que agora seus amigos sabiam sobre ele e Nico, para Will, era como se estivesse apresentando-o a eles pela primeira vez. Oque era estranho, desde que quem o apresentara a Nico, de certa forma, haviam sido eles.
Pela manhã do outro dia, Will não conseguia parar de pensar em como seria esse encontro. O que deveria fazer quando o encontrasse? Agora que todos sabiam não havia mais a necessidade de sentar discretamente ao lado dele, ou apenas de um cumprimento distante. Will podia ir diretamente para ele.
Mas fazer o que diretamente?
Iria cumprimentá-lo com um beijo?
Ficaria estranhamente parado ao lado dele?
Will não podia suportar mais pensar nisso. Do livro que estava em suas mãos, ele não havia lido uma linha, e se estivesse de cabeça para baixo esse tempo todo, ele também não teria percebido. Com um suspiro, ele deixo-o de lado, jogou a cabeça para trás no sofá e fechou os olhos para refletir.
  Desde quando estar com alguém havia se tornado tão estressante? Ele tinha quase certeza que Nico não se preocupava tanto com essas coisas como ele. Mas Nico sempre possuía aquela fachada calma, Will nunca saberia dizer se ele estava escondendo o nervosismo ou não. Só havia lhe pegado na mentira uma vez, mas sabia que, se ele quisesse, Will nunca saberia que ele estava pensando naquilo.
  Will era diferente, suas emoções explodiam como fogos de artifício, as vezes mal faziam barulho, outras vezes parecia que iam arrebentar o teto da casa.
   Seus olhos estavam pesando, quando o celular vibrou. Will saltou com o susto, levando a mão imediatamente ao aparelho. Ele o tirou do bolso e checou a mensagem recebida:
  "Já tem vergonha de surfar com a sua tia?"
  Will riu da mensagem. Pelo menos uma coisa comum na sua vida.
  Ele respondeu:
  "Nunca. Mas você vai roubar os meus holofotes"
  Artemis respondeu imediatamente.
  "Você só precisa de um, meu bem. E ele vai ficar bem sentadinho na areia te assistindo."
  Will sentiu o rosto esquentando, mesmo sabendo que ela não poderia vê-lo. Tentando trazer o seu lado mais destemido de antes, ele respondeu:
  "Espero que sim, ou estarei fazendo alguma coisa errada"
  "Claro que não", ela respondeu.
  "Nos encontramos após o almoço, na praia?"
  "Estarei lá. Prepare-se para o meu show. Beijinhos."
  Will a respondeu com um coração e devolveu o celular ao bolso. Seria uma boa forma de manter a cabeça sem pensar demais nos seus problemas e... claro, impressionar um pouco. Ele estaria mentindo se dissesse que não havia pensado na ideia excitante de Nico assistindo-o como um ponto positivo.
  Recarregado pela proposta da tia, Will levantou e foi anunciar aos seus amigos o programa da tarde.

***

O pátio antes da praia era um dos lugares mais pacíficos do clube. Era lá onde as pessoas se encontravam para conversar ou se encontrar brevemente antes de partir para a praia.
Ao longe, antes mesmo de chegar no pátio, Nico reconheceu seu grupo. Eles eram os únicos com mais de três pessoas ao redor de uma das mesas de pedra.
Infelizmente, naquele dia, Nico não havia se juntado a eles no almoço porque seu pai decidiu um almoço "em família" de última hora. Era assim que ele chamava os almoços de negócio com a presença de Hazel. Era um almoço bem desagradável para falar a verdade, comer ouvindo os preços dos novos caixões não fazia bem para digestão, mas era melhor ter essa conversa com o pai na hora do almoço do que deixar que ele roubasse horas de outra parte do seu dia.
Nico acelerou o passo e chegou ao pátio, então foi desacelerando. Não tinha se dado conta que era a primeira vez que os outros veriam ele e Will como um casal. Will devia estar uma pilha de nervos.
Ao se aproximar, procurou por uma cabeleira loira, mas a primeira que encontrou foi Lindsay. Ela pulou sobre ele como um tigre de espreita.
-Nico! Você chegou! -ela puxou-o pelo braço até a mesa. -Estávamos ansiosos para que você chegasse.
-Mesmo? -ele perguntou desconfiado.
Sentada na ponta da mesa, Silena concordou veementemente.
-Sim, e você chegou na hora certa. Enquanto o Will ainda não está aqui.
Nico franziu a testa.
-Ele saiu com a tia dele para resolver alguma coisa na praia. -explicou Silena. -Mas a gente percebeu que ele está muito nervoso.
-Ele está distraído. - completou Lindsay. -Ele... -ela respirou fundo, como se tentasse não rir, mas seus músculos das bochechas contraiam teimosamente. -Ele ia sair de casa de sunga, camiseta e tênis. -ela tomou mais fôlego. -Eu não quero rir por respeito, mas foi uma das melhores cenas que eu vi na vida.
Nico olhou ao redor da mesa e percebeu que todos eles seguravam a risada. Jake especialmente, com seu tom de pele bronzeado, havia conseguido a proeza de ficar vermelho. Katie e Charles apenas mantinham sorrisinhos para segurar a risada. Silena também respirava fundo, assim como Lindsay.
-Então vocês queriam que eu chegasse antes dele porque... -Nico incentivou.
-Porque a gente não sabe oque fazer. Acho que ele ainda tem medo da gente. -disse Jake, parecendo aborrecido. Nico percebeu que seus olhos castanhos normalmente cheios de travessura, estavam um pouco magoados.
-Não tem nada que vocês possam fazer. -disse Nico. -Ele ainda está se acostumando.
  -Mas não precisa de todo esse nervosismo. -garantiu Silena. -Me diga, você sinceramente acha que a gente ia te tratar mal?
  -Eu não acho que esse seja o problema dele. -Nico respondeu.
  Silena franziu a testa.
  -E do que ele ia ter medo então?
  -Não é medo, é timidez.
  Jake começou a rir, mas quando seus olhos foram para o rosto de Nico a risada foi sumindo.
  -Está falando sério? A gente conhece aquele idiota há anos, e ele está tímido com a gente? - quando ele viu que era exatamente isso, espelhado no rosto de todos, Jake soltou um longo suspiro. -E o que vamos fazer então?
  -Nada. -disse Nico.
  -Nada? -Jake protestou. -Ah, Charles, não me impeça de bater no Will só um pouquinho. Quem já se viu ter vergonha do melhor amigo?
  -Eu sou a melhor amiga dele. -disse Lindsay.
  Jake voltou-se para Lindsay com um olhar desafiador.
  -Claro que não.
  -Claro que sim. -retrucou Lindsay.
  -Não comecem! -Silena levantou e foi até Nico. -Eles são muito idiotas, vamos conversar ali. -ela puxou Nico gentilmente até outra mesa mais distante, tão longe que mal ouviam a pequena batalha entre Lindsay e Jake. -Certo, você já deve saber que ele nos contou ontem. -ela pausou, os olhos verdes focados na mesa. -E depois que eu percebi oque eu tinha feito, eu me senti um pouco responsável por ele ter feito isso tão de repente. -Silena olhou para Nico cheia de culpa. -Desculpa pelo Thomas.
  Nico fez um gesto para que ela esquecesse.
  -Ele não foi incômodo nenhum. Não para mim.
  Silena riu de um jeito gracioso, com a mão sobre a boca. Nico se surpreendia todas as vezes em como ela era diferente de Piper.
  -Eu não sabia que ele era ciumento. -disse Silena, parecendo ter aliviado um peso das costas. -Eu nunca tinha visto ele com ninguém. Pelo menos não de verdade.
  -Vocês nunca perceberam?
  Silena hesitou, abriu a boca e a fechou umas duas vezes.  
  -Sim. E não. Eu sabia que havia alguma coisa. Se fosse o caso de ele não querer namorar ninguém, ele teria parado na primeira pessoa e mais ninguém. Mas ele continuou, e isso sempre me deixava confusa. Por que ele estava namorando com outra menina se ele claramente não gostava dela? Achei que ele só não estivesse conseguindo encontrar alguém que se identificasse. -ela balançou a cabeça, como se imagens daquelas meninas estivessem passando na sua cabeça. -E ele nunca demonstrou interesse por nenhum dos meninos, então... ele soube esconder muito bem. Deve ter sido horrível.
  -Sempre é.
  Silena assentiu. Quando ergueu o rosto para Nico, ela lhe ofereceu um sorriso gentil.
  -Eu espero que vocês dois funcionem bem. Parece que eu nunca tinha visto ele feliz antes, e se você consegue fazer isso então é porque vai dar certo.
  Nico ficou sem palavras por um instante. Que tipo de afirmação era aquela? Ela achava que estava dizendo uma coisa boba? Nunca tinha visto ele feliz antes, ficou ecoando na sua cabeça.
  Ele piscou tentando focar no presente e sorriu de volta para Silena.
  -Imagino que sim.
  -Eu sempre soube! -gritou uma voz.
  Nico e Silena pararam e se voltaram para onde estava o grupo. A voz havia sido de uma mulher loira, com o corpo muito bem estruturado e que usava uma blusa preta sem mangas sobre o biquíni e sandálias. Nico a reconheceu de longe como a tia de Will. Ao lado dela, Will estava parado com o rosto enfiado entre as mãos.
  -Você tem razão. -disse Silena. -Ele está tímido com a gente.
  Nico assentiu devagar, vendo o seu atual... alguma coisa, olhar desesperado ao redor como se quisesse fugir dali.
  -Salvo ele? -perguntou Silena. -Posso ir lá e dizer para ele vir para cá.
  -Acho que ele se sentiria melhor. -concordou Nico.
  Silena pôs o plano em prática imediatamente, levantou e foi em direção a mesa. Nico assistiu ela parar ao lado de Will e indicar a mesa. Os olhos de Will rapidamente o focaram, e ele assentiu para Silena sem realmente olhá-la.
  Silena começou a distrair os outros enquanto Will saia de fininho até Nico, sem precisar responder aos outros para onde estava indo.
  -Bom dia. -Nico disse, assim que ele se aproximou.
  -Bom dia. Você viu como eles são? Um pesadelo. -Will sentou na cadeira onde antes estava Silena. -Eles te perturbaram?
  -Não. Na verdade me perguntaram o que deviam fazer para você não ficar nervoso com eles.
  Os olhos de Will pararam em Nico.
  -Eu não estou nervoso.
  -Você está visivelmente nervoso.
  Por baixo da mesa, Nico bateu no pé dele que estava balançando sem parar. Ele então parou.
  -Desculpa.
  -Você não tem que pedir desculpa. É normal se sentir nervoso.
  -Eu só não sei... não sei como agir. Parece que abriu um espaço no meu cérebro que eu ainda não explorei.
  -Agir em relação a mim ou a eles?
  Will mexeu a cabeça de um lado para o outro, fazendo os cachos dourados pularem, brilhando com a luz do sol.
  -Ambos.
  -O que estava preocupado sobre mim?
  Will hesitou em falar, seu rosto tomando uma cor leve de vermelho.
  -Eu não sabia como chegar em você. Hoje.
  -Ah... -fazia sentido para Nico. Ele mesmo não era muito bom nisso. -Não precisa me beijar toda vez que me vir, se é isso que está pensando.
Will riu.
-Eu poderia te beijar todas as horas do dia, mas é que eles me deixam nervoso. Parece que eles estão me observando o dia todo.
-Só diz isso porque os contou ontem. -disse Nico. -Isso passa daqui a pouco.
Will cravou os olhos nos dele por um instante. Os olhos de Will estavam em um tom claro de azul por causa da luz, mas continuavam impecavelmente belos. Os cílios tinham uma curva delicada, fazendo sombra nas bochechas quando ele fechava olhos.
-Você é muito compreensivo comigo. Não deveria me mimar. Vou me tornar uma pessoa insuportável.
Nico riu, e Will sorriu satisfeito.
-Então... o que devo fazer quando te encontrar? -Will apoiou os cotovelos na mesa, quebrando a distância fantasma que ele havia colocado entre eles e se afastando do pensando que seus amigos estavam com os olhos grudados na sua nuca.
-Da forma que você quiser.
Will encarou-o mais um instante antes de assentir, como se concordasse com seus pensamentos.
-Qual a conclusão? -Nico perguntou.
-Que as vezes nos encontramos em lugares muito cheios, minha mãe pode estar por perto.
Nico assentiu.
-Mas eu disse que ia parar de fugir dela. -Will suspirou. -Então eu tenho que deixar isso para lá. Se ela nos vir...
-Will, você não precisa...
-Preciso. -Will interrompeu. -Você está me mimando de novo. Eu tenho que me acostumar com a gente, comigo, não é? -ele esticou a mão por cima da mesa até a mão de Nico e brincou com o anel no dedo médio dele. -Você não acha?
Nico ergueu os dedos prendendo os  dele entre os seus.
-Acho.
Will sorriu vendo seus dedos presos entre os nós fortes dos de Nico. Não tentou liberta-los. Gostava dessa sensação.
-E qual foi a sua conclusão? -Nico insistiu.
Will usou a mão presa a dele e puxo-a para perto indicando que ele também se aproximasse. Nico se inclinou, ainda suspeitando, mas cedeu até onde Will queria que ele se inclinasse. Will por fim quebrou o restinho do espaço e o beijou.
Do outro lado do pátio ouviu-se um grito. Will reconheceu a voz de Jake e começou a rir. Ele se virou a tempo de ver várias mãos voando para bater nas costas dele.
  -Jake se impressiona muito fácil. -Will sussurrou para Nico.
  -Ou você quis testar se eles estavam observado?
  Will deu de ombros.
  -Claro que estavam. Pelo menos um estava.
   Nico olhou o rosto orgulhoso de Will, como se tivesse quebrado uma grande barreira. Nico sentia-se feliz por ele, e saber que estava fazendo parte disso o deixava ainda mais feliz. Ainda que se separassem no fim do verão, gostaria de saber que pelos menos havia contribuído na liberdade de mais uma pessoa no mundo.
  Com a outra mão, Will tocou uma mexa do cabelo de Nico, fazendo-o ficar paralisado com o toque.
  -Você sempre enrola os dedos no meu cabelo. -disse Will, fazendo a mexa escura rodopiar no seu dedo. -Percebi que nunca tinha feito isso no seu.
  -Da última vez que tocou no meu cabelo você pediu desculpas por ter puxado com força.
  Will riu de vergonha, sem conseguir controlar que o sangue subisse ao rosto.
  -Você tinha que dizer isso agora?
  -Eu não podia perder essa brecha.
  Por birra, Will puxou de leve a mecha que estava na sua mão. A cabeça de Nico inclinou um pouco para o lado com o puxão. Com a mão livre Nico bateu no braço dele.
  -Não vou pedir desculpas dessa vez. -disse Will, soltando o cabelo. -Foi merecido.
  Nico esfregou a raiz do cabelo que havia ficado coçando após o puxão.
  -É isso que eu ganho por ser uma pessoa compreensiva?
-Não, isso é oque ganha por quebrar o clima.
-Não devia ter me dado a oportunidade.
Will apoiou o cotovelo na mesa e levou a mão até o rosto de Nico, fazendo carinho na bochecha dele com o polegar. Nico cedeu depois de um instante, deixando a cabeça apoiar na mão de Will.
  -O que você está planejando com a sua tia?
  Will balançou a cabeça.
  -Não posso contar. É surpresa.
  Nico ergueu uma sobrancelha.
  -E eu espero que você goste da surpresa. -Will continuou.
  -Eu não duvido disso.
  -Irmãozinho! -uma voz chamou do outro lado do pátio.
  Will virou a cabeça lentamente, vendo o Lee acenar alegremente do outro lado, parado ao lado dele estava Dylan, com os braços cruzados e parecendo se divertir com a situação.
  Para Will, Lee parecia muito alegre.
  -"Irmãozinho" nunca é um bom sinal. -ele murmurou para Nico, sem mexer muito os lábios.
  -Vai me ignorar? -Lee perguntou.
  Will respirou fundo, revirou os olhos e se virou com um sorriso para Lee, que se aproximava rapidamente.
  -Fico muito feliz por vocês. -Lee disse, bagunçando o cabelo dos dois.  -Mas eu soube que teremos uma competição hoje?
  -Não é uma competição.
  Lee deu de ombros.
  -Não é o que Tia Artemis disse, mas eu estou dentro de qualquer jeito.
  -Você não foi convidado.
  Nico assistiu a troca de farpas dos irmãos quase como se observasse um quadro pintado. Will e Lee tinham uma breve similaridade, mas era muito breve. Tinham o mesmo sorriso, oque incluía a forma que seus olhos apertavam suavemente. Nico as vezes ainda pensava no que Jason havia o dito na loja de fantasias sobre Will ser parecido com ele e com Percy. Ele sinceramente não os achava parecido, mas talvez Jason tivesse tentado dar uma evasiva sobre um assunto maior.
  Nico sabia que Piper e Jason estavam preocupados com ele. Da última vez que havia se envolvido com alguém seus sentimentos terminaram em frangalhos. A pessoa a quem ele havia os confiado fizera o favor de explodi-los de última hora com uma simples frase: "Acho que não é isso oque quero".
  Como se Nico estivesse oferencendo um objeto qualquer, não seu coração. 
  Ele afastou os pensamentos nebulosos, voltando aos irmãos loiros  que discutiam os motivos de ser uma competição.
  -Meninos! -uma voz se agigantou sobre a dos dois. Ambos pararam de falar e olharam para trás. Parado a alguns metros estava Apolo, Nico o reconheceria mesmo se nunca tivesse o visto, seus filhos eram como suas cópias com leves diferenças. -Não acredito que vocês iam competir sem mim. Sorte minha sua tia ser sensível o bastante para se importar com os meus sentimentos.
  -Não estou competindo com ele. -Will argumentou, de repente parecendo um irmão mais novo, Nico tinha experiência em reconhecê-los. -Ele que se intrometeu nos meus planos.
  -Porque você não se importa com os meus sentimentos. -Lee apoiou os punhos nas cintura e olhou para o pai. -O senhor não acha que ele deveria parar de birra? Só está agindo assim porque quer se mostrar para o namoradinho novo...
  Então ele parou.
  Para Nico parecia que alguém tinha arrancado a tomada de Lee enquanto ele estava a todo vapor. Suas palavras sumiram. Os olhos paralisaram. E ele se virou lentamente para Will, como se estivesse gastando os últimos resquícios de energia.
  -Will, me desculpa. -ele disse, lívido.
  Do outro lado da mesa, Will engoliu em seco. Nico sentiu que ele havia começado a balançar o pé novamente.
  -Ah, -disse Apolo, como se algo não estivesse fazendo sentido para ele. -Eu não estava sabendo.
  Nico tentou se manter o mais neutro possível, entre Lee que havia entrado em curto-circuito e Will que parecia prestes a começar a pular de nervosismo, ele tinha que ser a zona de calmaria. Era óbvio que Apolo não diria nada, afinal, ele apoiava Lee, mas Will parecia incrivelmente nervoso da mesma forma.
  Aproveitando o silêncio que agora pairava sobre o pequeno grupo. Nico estendeu a mão para Apolo, tentando fazer Will ver que não havia problema nenhum.
  Apolo instintivamente a apertou. Nico tentou parecer um pouco simpático, mas sem exagerar.
  -Sou Nico Di Ângelo.
  Apolo abriu seu sorriso brilhante.
  -É bom conhecê-lo, Nico. -ele desviou o olhar para Will, enquanto soltava a mão de Nico. -Mas sinceramente, eu não estava esperando isso.
  -Espero que seja uma surpresa agradável. -Nico disse, mantendo o tom calmo e olhando diretamente para Apolo, quase desafiando-o a contradizê-lo. -Will ainda está nervoso com isso, mas eu tenho certeza que, com o apoio certo, ele vai entender que está tudo completamente bem, não é?
  Ele viu Apolo engolir em seco, como Will havia feito a poucos minutos.
  -Claro. -disse Apolo, com um sorriso vacilante. -Por acaso você é filho de um cara chamado Hades?
  Nico assentiu.
  Apolo exalou, com um sorriso que não dizia muito oque estava pensando.
  -É, você... tem o jeito peculiar dele.
  -Pai. -disse Lee, em aviso.
  -Eu não disse que era ruim. -Apolo se defendeu. -Já andamos com o mesmo grupo quando éramos jovens por aqui, bem, eu era uma criança. Seu pai e os irmãos dele eram quase donos disso aqui, todos faziam o que eles diziam. Seu pai dava medo em todo mundo.
  Nico sorriu.
  -Meu pai não sabe ser muito social.
  -Se ao menos ele parasse de agir como se preferisse tratar com nossos corpos mortos...
  -Pai! -Will e Lee o repreenderam ao mesmo tempo.
  Mas Nico havia começado a rir.
  -Não tem problema. -disse Nico. -As vezes eu acho que isso é verdade.
  Apolo riu, em parte aliviado por Nico não ter levado para o pessoal.
  -Gostei de você. Seu pai teria me feito sair correndo com um comentário desse. Enfim, -Apolo bateu as mãos, olhou para cada um dos filhos e então apontou para a praia. -Os meus belos filhos vão para a praia agora, unidos como os irmãos  que devem ser. Sim?
  Com um suspiro, ambos concordaram.
  -Ótimo! Nos vemos lá.
  Com isso, Apolo deu meia volta e seguiu para a mesa onde os outros estavam.
  -Will, eu peço mil desculpas, eu não devia ter falado aquilo. -disse Lee, desesperado, assim que o pai não podia ouvir. -Mas é que você me tira do sério!
  -Não tem problema. -ele abriu os dez dedos e abaixou nove. -Menos um para minha lista.
  -Ainda assim, eu não devia.
  -Não ligue para isso. -Will voltou seu sorriso luminoso, assim como o de Apolo, para o irmão. -Dylan vai descobrir como o noivo dele é um péssimo surfista hoje, você devia ir avisar a ele.
  Lee deu uma risada e começou a andar em direção a outra mesa.
  -Você que pensa.
  Quando Lee também já estava distante o suficiente, Will deixou sair uma respiração tão longa que Nico achou que não era possível.
  -Meu Deus, o que acabou de acontecer? -ele passou as mãos nos cabelos e as desceu para o rosto. -Você acabou de se apresentar para o meu pai?
  Nico riu, enquanto assentia.
  -E pelo visto temos mais coisas em comum, nossos pais se conhecem.
  Will estava o encarando fixamente. Nico devolveu o olhar.
  -O que foi?
  -Estou chegando a conclusão que você tinha razão. -Will deixou as mãos caírem do rosto e riu. -Mais que ontem, menos que amanhã.
  Nico piscou. Havia sido pego desprevenido com mais uma declaração repentina.
  Will então gargalhou, como se lembrasse de algo.
  -Você acabou de ameaçar meu pai?
  -Eu não o ameacei.
  -Ah, seus olhos dizem tudo, meu amor, tudo.
  Nico paralisou brevemente mais uma vez. Will não parecia ter percebido, continuava rindo e achando incrível tudo que havia acabado de acontecer.
Meu amor, pensou Nico, não havia sido uma expressão qualquer. Nunca ouvira Will chamando outras pessoas assim para ser algo com que ele se referisse aos outros normalmente. Meu amor.
  Seu amor.
  Nico era o amor dele?
  Não se importava em ser. Gostaria até demais em fazer esse papel.
  Will esticou a mão e pegou a dele.
  -Aconteceram tantas coisas tão rápido. -ele suspirou. -É o verão.
  Nico balançou a cabeça, passando os dedos pelas costas da mão de Will. Definitivamente era o verão. Um verão tão inusitado assim.
  -Os pombinhos vão para a praia ou não? -gritou Lindsay, já a última no grupo que estava indo para a praia.
  -Estamos indo. -Will gritou de volta, ela fez que sim e seguiu correndo atrás dos outros. Ele voltou a olhar para Nico, e seu sorriso alargou. -Agora, posso te impressionar um pouco? Como disse Lee, quero me mostrar para o namoradinho novo.

***

Nico estava impressionado.
Eles haviam formado um grupo grande com a adição da família de Will. Todos estavam sentados sob três guarda-sois largos e tomando refrigerante para aliviar o calor. Nico, que não gostava muito de luz forte, havia sutilmente roubado os óculos de sol de Jason assim que ele e Piper chegaram. O clima entre eles havia mudado, Nico sentiu, todos pareciam em uma sintonia melhor, como se algo que pesasse sobre eles simplesmente tivesse desaparecido. Will podia não perceber, mas ele tinha grande influência no humor daquele grupo.
Mas não era com nada disso que Nico estava impressionado.
Enquanto todos estavam tomando refrigerante, o grupo formado por Will, Lee, Apolo e Artemis sumiu por alguns minutos. Quando voltaram, cada um trazia uma prancha.
Eles pareciam ter roubado todo o brilho do sol para si. Os cabelos loiros brilhavam, a pele bronzeada chegava a fazer o sol refletir. Lee era o menos bronzeado, mas não deixava de ser parte do grupo. Todos eles usavam camisa UV com mangas longas.
-Estou ansiosa. -dizia Artemis, dando batidinhas no rosto após passar o protetor solar, depois, enxergando uma oportunidade, virou para Apolo e deu um soquinho no ombro dele. -Mas é óbvio que eu vou ganhar de novo, como sempre.
-Você só ganhou uma vez.
-Isso era antes, Apolo, agora você é um senhor velho.
Apolo pareceu profundamente ofendido, e ainda mais quando os filhos começaram a rir.
-Somos gêmeos!
-Não me lembro disso. -disse Artemis com um suspiro.
Nico olhou-os mais um tempinho, antes de perceber que Lindsay havia se aproximado dele e agora estava do seu lado.
-Bonitos, não são?
-Bastante. -Nico concordou.
-Eu sempre achei interessante como eles se parecem.
-Você poderia ser um deles.
Lindsay riu e negou.
-Eu não sei se eu gostaria. Você sabe como é difícil ser um deles?
Nico franziu a testa.
-Não.
-Tem mais um deles. -disse Lindsay, olhando-o com um sorriso curioso. -Michael Yew. Também é irmão do Will, você talvez o conheça um dia. Mas ele é muito diferente deles. Moreno, baixinho, raivoso, mas tem um coração bom. Só que... a competição fica dura quando os três estão juntos. Michael é o mais velho, é médico em Oklahoma, mas sempre competiu com os irmãos por achar que havia favoritismo entre eles.
-Will me disse que tinha mais irmãos.
-Ah, sim. Ele tem alguns. Sorte o Tio Apolo ter dinheiro, não sei como ele conseguiria sustentar tantos filhos sem ser assim.
Nico pensou no próprio pai, com a chegada de Hazel ele ficara desesperado com a comoção que mais uma filha seria para os filhos mais velhos.  Nico passara algumas semanas sem falar com ele. A morte da sua mãe havia sido recente e de repente ele havia ganhado uma irmã. Mas ao saber que Hazel também não tinha mãe, seu coração amoleceu assim que a viu. Um montinho de panos com olhos dourados e choro contido, como se tivesse medo de incomodar. Nico não conseguiria imaginar como era ter tantos irmãos assim.
-São todos mais velhos que ele? -Nico perguntou.
Lindsay suspirou.
-Não, alguns tem a idade dele. Tio Apolo... não é uma pessoa com o coração muito fiel. -ela então parou e balançou a cabeça afoitamente. -Isso não é de família, caso esteja pensando.
Nico riu.
-Não estou preocupado com isso.
-Mesmo? -ela disse, surpresa. -Que bom então.
Nico observou cada um tirar a prancha do chão e, enquanto Artemis e Apolo discutiam algo, Lee e Will tentavam se provocar jogando areia um no outro ou dando empurrões.
-Eles não param nunca? -Nico perguntou.
-Não. -disse uma voz mais atrás dele.
Nico e Lindsay se viraram para ver Dylan, com um saco de amendoins na mão, sentado em uma cadeira de praia. Ele parecia despreocupado. Nico achava que ele mantinha aquela expressão o dia todo, afinal ele era piloto, as pessoas precisavam confiar nele.
-Eles nunca param até que um se machuque e o outro fique culpado. -disse Dylan, colocando mais um bocado de amendoins na boca. -Se você esperar mais um pouco, vai cair areia no olho de um deles, e esse vai acusar o outro de fraudar o jogo.
Lindsay riu.
-Exatamente.
Nico olhou de volta para os dois, que agora chutavam nuvens de areia mais fortes.
-E como é essa competição? -Nico perguntou.
-É uma coisa bem narcisista, para te falar a verdade. Temos que dar nota para quem for melhor. Mas eles só querem elogios. -explicou Lindsay. -Will diz que não, mas eu sei que é. E agora temos você na plateia oque aumenta o nível.
  -Dylan também está aqui. -Nico replicou.
  Dylan riu.
  -Ah, não, Nico. O show de hoje é todo seu. -disse ele. -Já tive o meu há alguns anos atrás. Agora eu já fui amarrado. -ele deixou o pacote vazio de amendoins dentro da bolsa e se apoiou com os cotovelos nos joelhos. -Eles podem ser exibidos e estranhos as vezes, sinceramente eu quase desisti do Lee quando eu soube que todos eles tinham tatuagens iguais e essas coisas, fiquei com medo de estar metido em um grupo terrorista ou alguma coisa assim. -ao lado de Nico, Lindsay gargalhou. -É sério! São todos parecidos, com tatuagens de Sol, é estranho. Mas a vida com eles nunca fica entediante. As vezes isso é bom. As vezes... bem, nem tudo são flores.

Summer Strange Love - Solangelo Onde histórias criam vida. Descubra agora