Will diria que, depois do momento no térreo, a noite passara em um piscar de olhos. De repente o filme havia acabado, a pizza havia acabado, e eles estavam todos de volta no apartamento de Will.
Deitado na cama, Will pensava no que ele e Nico haviam conversado.
Não conversado.
No que ele havia sugerido.
Era uma droga estar no mesmo quarto que todos seus amigos. Se estivesse sozinho enquanto pensava nisso, estaria enfiando o rosto em uma almofada e gritando de vergonha. Por enquanto, com todos eles perambulando pelo quarto, tudo que podia fazer era parecer pensativo e quieto.
-Qual o seu problema? -perguntou Katie que, forçada por Silena, esfregava hidratante nos cotovelos rapidamente sentada na cama de Lindsay. -Está tão quietinho ultimamente.
Will sorriu para ela. Katie era sem dúvida uma das suas amigas mais gentis e amorosas, mas ela demonstrava diferente, só quando não havia ninguém estranho por perto.
-Estou pensando no Lee. -ele respondeu, simples.
Ela assentiu, limpando o hidratante na barra da blusa.
-Tenho certeza que tudo vai ficar bem.
-Espero que sim.
-Sabe o que resolveria isso? -disse Jake, se jogando no colchão dele. -Se você saísse com a gente pelo menos uma vezinha.
-Eu sai com vocês. -Will respondeu.
Jake se sentou, ofendido.
-Uma vez!
-Jake. -chamou Charles, em tom de aviso. Ele estava esperando Silena escovar os dentes, apoiado no batente da porta.
-Eu não estou falando nada, Beckendorf.
-Mas pode falar mais do que deve.
Jake revirou os olhos e deitou.
-Quando vocês planejam sair? -Will perguntou, para a alegria de Jake.
-Amanhã. -ele respondeu, animado, dando uma olhada para Charles antes de voltar a falar com Will. -Você vai?
Will pensou e repensou em segundos. Não havia sido ele quem organizara aquelas férias?
-Vou.
Jake bateu os pés no chão animado, como Tambor do Bambi.
-Você tem certeza? -perguntou Katie.
-Não tente manipular ele, Katie. - Jake gemeu, caindo de lado sobre o travesseiro. -Ele já disse que vai.
Will riu e se escondeu embaixo do cobertor.
-Eu vou, Katie, não se preocupe. -Will respondeu, abafado.
-Hum.
Will não voltou a sair de debaixo do cobertor naquela noite, ali mesmo dormiu. Sentindo-se cansado e... eufórico.***
-Bacon? -perguntou Lindsay, mostrando a frigideira com vários pedaços de bacon muito cheirosos.
Will franziu a testa.
-Não era você a musa fitness?
-Você me fez repensar nisso. -ela puxou a frigideira de volta e serviu dois pratos. -Eu me cansava muito sendo musa fitness. Assim, não que eu vá deixar de ser saudável, é só que eu quero me permitir pelo menos umas besteirinhas para alegrar a vida.
Will, sonolento, apoiado na bancada, sorriu.
-Que orgulho de você.
Ela deu um sorrisinho e o estendeu o prato.
-Quero saber quando eu vou ficar orgulhosa de você. -ela olhou ao redor para ver se não tinha ninguém vindo e sussurrou. -Vocês demoraram muito ontem.
Will encheu a boca rapidamente com dois pedaços de bacon.
-Mnn' dercupe, boca cheia.
Lindsay revirou os olhos.
-Você vai ter que falar disso comigo. Com quem mais você vai compartilhar?
Will terminou de engolir e respirou fundo.
-Eu tenho vergonha de falar disso ainda.
-Pois trate de perder essa vergonha. -ela pegou o prato e se dirigiu ao sofá. -Sou sua prima, sua melhor amiga e, nas horas vagas, sua namorada falsa.
Will riu e sentou ao lado dela.
Era estranho ter essa perspectiva agora. Sua namorada. Depois de Nico... Will achava muito difícil que um dia tivesse uma namorada de novo.
Era esse o problema de assumir para si mesmo oque havia escondido por tanto tempo. Era uma daquelas portas que você só abre, mas não pode fechar de novo.
Agora só havia um caminho e um fim. O que aconteceria após esse fim... isso já era matéria para outra coisa.
-Will? -Lindsay chamou.
Will acordou do devaneio segurando um pedaço de bacon a meio caminho da boca.
-Tudo bem?
Ele fez que sim.
-Só estava pensando.
Lindsay levantou uma sobrancelha desconfiada.
-Não quer compartilhar?
Will hesitou, abrindo a boca duas vezes antes de falar.
-Eu não tenho mais chances de desistir.
-Como assim?
-Não tem como voltar atrás. Eu já... decidi. Não é? Se eu estou com ele, então quer dizer que não tem como eu negar novamente algum dia da minha vida.
Lindsay mastigou pensativa.
-É. Você é oficial agora.
Oficial.
-Oficial. -Will ecoou.
Lindsay assentiu, resoluta. Então ela se inclinou de lado para perto dele e começou em voz baixa:
-Eu estava pensando enquanto cozinhava hoje, e... -Will assistiu o rosto dela ficando vermelho. -Você vai precisar ter uma segunda conversa?
Will franziu a testa.
-Conversa?
Lindsay bufou e revirou os olhos.
-A Conversa.
Por ter acordado a pouco tempo, Will sentiu o cérebro lutando para juntar as peças do que Lindsay dizia. Mas um instante depois compreendeu.
A Conversa.
A conversa mais constrangedora que se tinha durante a adolescência.
-Claro que não. -ele passou as mãos nos cabelos sentindo a pele pegando fogo aonde quer que tocasse. -Não. Não. Definitivamente não.
-Mas...
-Lind, não.
Ela fechou a boca como se estivesse freando uma enxurrada de palavras.
-Eu não preciso de uma conversa.
-Nem com o Lee? -ela disse baixinho, quase um sussurro.
-Lee disse que não faria isso desde o momento que o contei. E eu também não quero.
-Hum. -Lindsay suspirou, pensando melhor. -Então você vai pesquisar no Google?
-Lindsay! -Will se controlou para não falar alto e alarmar os outros, mas sentiu o rosto livido enquanto escorria pelo sofá.
-William, você não pode ser completamente despreparado. O Nico deve saber...
Will cobriu o rosto com as mãos.
-Chega.
-Ele já tem vinte e quatro anos, deve saber alguma coisa. E você sabe que eu tenho um bom radar para virgindade, vou te dizer, ele não parecer ser nem um pouquinho...
Will afundou mais no sofá, sentindo-se torturado.
-Lindsay, eu não quero ouvir isso. Por favor.
-Ah, você vai se fazer de puro agora?
-Não é pureza. -Will se endireitou, exasperado, mas mantendo a voz baixa. -Eu só não quero pensar nisso.
-Ah... -um sorrisinho surgiu lentamente no rosto de Lindsay. -Você está com ciúme?
-Eu não consigo falar sério com você. -ele disse, já se levantando, mas Lindsay o segurou pelo pulso.
-Sexo é sério.
-No momento não estou aberto à ser sério.
Lindsay segurou uma risada, cobriu a boca e respirou fundo.
-Não acho que seja você quem vai ser aberto.
Will se soltou de Lindsay e correu para a cozinha, mas ela vinha atrás, claro.
-William, pare de fugir de mim.
Will dava voltas na bancada, com Lindsay no encalço.
-Como você pode dizer algo assim sem um pingo de sangue no rosto?
-Porque eu te conheço muito bem. E teoricamente, não faria sentido se...
Ele parou e se virou para ela antes que ela terminasse a frase.
-Não fale disso.
Lindsay revirou os olhos.
-Will, eu te falo de tudo da minha vida, literalmente tudo. Com detalhes sórdidos as vezes...
-Que eu não peço.
-... e você não diz nada da sua vida.
Will abriu a boca, sem argumentos, oque só deu mais moral ao ponto de vista de Lindsay.
-Viu? Você sabe que eu estou absolutamente correta.
-Absolutamente não.
-Por que? -ela franziu a testa, mas sua expressão logo clareou. -Ah... você prefere ser...
-Essa conversa acabou.
Will voltou pelo corredor para a segurança do seu quarto cheio de amigos, onde Lindsay não tentaria trazer o assunto de volta, enquanto ela rolava de rir na cozinha.
-Vocês estavam brigando? -perguntou Silena, quando ele entrou no quarto, ela estava ocupada organizando uma caixa de maquiagem que mais parecia uma maleta do MIB.
-Lindsay está me culpando por deixar de ser musa fitness. -ele mentiu, se apoiando na parede ao lado da porta.
-Você é completamente culpado... -Lindsay apareceu no quarto e se apoiou no ombro de Will. -Você tem que entender Will, que nem todo mundo gosta de bacon, mas tem uns que amam comer bacon e tem outros que querem ser o bacon.
Se Will não estivesse presente na conversa da sala, teria ficado com a mesma expressão de todos os seus amigos quando ouviram essa declaração: surpresos, assustados, confusos e considerando que Lindsay talvez estivesse perdendo os dois neurônios que ainda tinha.
Lindsay suspirou.
-Desculpem, não sou boa com analogias.
Não, Will pensou, você foi incrivelmente clara.
-Eu não quero ser um bacon. -ele disse, fazendo os outros olharem de Lindsay para ele como se ele também estivesse enlouquecendo.
-Pois bem, foi oque pensei.
Lindsay atravessou o quarto para entrar no banheiro. E Will recebeu todos os olhares questionadores que o perguntavam: você entendeu isso?
-É a Lindsay. -ele respondeu, como se fosse claro oque queria dizer. Ele se sentou na sua cama, e respirou fundo.
-Okay... -Jake balançou a cabeça como se pretendesse esquecer a conversa que acabara de acontecer. -Você vai na festa, não vai?
-Vou.
-Não estou o obrigando a ir, lembre-se disso.
-Katie está te forçando a dizer isso?
Jake deu uma olhada rápida para Katie, depois para Charles e assentiu brevemente. Will riu. Charles e Katie eram os amigos que davam limite, e pelo visto Jake andava sendo observado de perto por eles.
-Estou indo por vontade própria. -ele afirmou.
Jake abriu um sorriso e deu saltinhos sentado.
-Vocês ouviram, não é?
Katie, sentada na cama com um livro nas mãos, revirou os olhos. E Charles, sentado no chão, concentrado em um joguinho, apenas fez que sim com a cabeça.
No bolso, o celular de Will vibrou. Ele o pegou e, para sua felicidade, era uma mensagem de Nico.
"Você vai para a festa?"
Will ergueu as sobrancelhas, surpreso. O programa da noite de repente havia ficado mais interessante.
"Vou. Você vai?"
"Dependia da sua resposta. Agora eu vou"
-Hummm...
Will estava muito distraído com o celular, mas sabia que aquele 'hum' havia sido dirigido a ele.
-E esse sorrisinho? -perguntou Silena, sorrindo maliciosa para ele. -Com quem você está falando?
Will ergueu o rosto e fechou a conversa.
-Vi uma foto engraçada.
Silena o olhou como se dissesse: eu não sou idiota, Will.
Saindo do banheiro, Lindsay saiu do quarto cantarolando:
-Bacon. Bacon. Bacon.
Will segurou uma risada.
-Qual o problema dela? -perguntou Silena, voltando a organizar cores de batons.
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Summer Strange Love - Solangelo
Fanfiction"Conhece-te a ti mesmo" - Tempo de Apolo O amor de verão é uma coisa clássica. E que todos, se não quiseram, já tiveram. E na maioria das vezes tudo se passa em um sonho na nossa cabeça. Mas e se um menino realmente se apaixonasse por outro duran...