Apolo

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Quando todos saíram, Will já estava quase surtando.

De quem havia sido a ideia de levar Nico para o seu apartamento? Para o seu quarto? Quem havia achado uma boa ideia deixá-lo lá exposto e sem camisa na mira daqueles olhos?

Will sentia que poderia ter derretido cada vez que o pegava o olhando. Olhos tão pretos quanto os cabelos, quanto a camiseta preta que ele usava. E de repente Will se tornava consciente de todas as partes do seu corpo, até da forma que estava respirando.

Tinha se sentindo numa vitrine de loja.

  Ainda assim, sentia que seria ainda mais estranho se tivesse simplesmente pegado a camisa e a vestido. Quantas vezes não havia ficado sem camisa na frente daquelas mesmas pessoas e de tantos outros desconhecidos? Em casa Will era surfista, passava horas na praia, eram raras as vezes que usava camisa. E menos ainda as vezes que se sentira constrangido por não estar usando uma.

Mas Nico o encarara tão intensamente...

Will voltou para o quarto, irritado, fechou a porta e deitou na cama. Seu corpo estava arrepiando, tenso e... infelizmente, sensível demais, e ele não tinha controle nenhum sobre isso. Para sua sorte, todos haviam saído e sua mãe estava ocupada assistindo uma série. Sentia ondas que partiam do ventre até o pescoço, como raios que cortavam sua respiração, como se seus pulmões não conseguissem mais comportar o ar que precisava. Ele conhecia a sensação. Conhecia muito bem e sabia que não devia ter motivo para isso.

  Não.

  Não pensando em Nico o olhando.

Will cobriu os olhos com as mãos e tentou desviar o pensamento para qualquer outra coisa. Aos poucos os arrepios passaram, mas com muito esforço. Seu corpo se acalmou e ele pode respirar com calma.

Não havia sido nada demais.

Ninguém precisava saber.

***

  Quando já havia passado meia hora desde que os amigos tinham saído de casa, Will decidiu que ficar naquele quarto não ajudaria nada na sua decisão de se manter sob controle. Sua mente insistia em criar o contorno fantasma de onde o rapaz tinha estado a pouco tempo.

  Então Will tirou um livro da mala, enfiou o celular no bolso e vestiu um moletom mais pesado. Ocuparia a mente lendo no pátio. Era sua melhor opção.

O pátio ficava a beira-mar, separando-se da praia apenas por uma grade de segurança que garantia a privacidade do clube. Lá era o local onde a maior parte dos eventos aconteciam. Havia um palco à direita e várias mesas cobertas à esquerda.

  Um grupo estava sentado na mesa mais próxima do palco, provavelmente só festejando a vida, pois Will só pode ver algumas garrafas de vidro pela metade. Teoricamente, era o que Will também deveria estar fazendo. Mas seu caminho era outro. Ele procurou a mesa mais distante do palco e se acomodou. Dentro da cobertura, uma cordinha pendia para que a lâmpada fosse acesa, Will a alcançou e apoiou o livro na mesa.

  Era perfeito.

  A brisa do mar, gelada, tocava-o suavemente; o barulho da festa estava distante e não o fazia se sentir totalmente sozinho. Bem instalado, ele pediu ao garçom que estava de bobeira ali perto um pedaço de torta de limão.

  Então ele se perdeu no livro. E estava tão imerso que não percebeu que a torta havia acabado e que sua mão ainda segurava o garfo flutuando alguns centímetros acima do prato.

Summer Strange Love - Solangelo Onde histórias criam vida. Descubra agora