A Orquidea e o Girassol

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-Acha que ele vai demorar muito? -perguntava Silena, passando outra camada de protetor solar no rosto.
-Provavelmente Lee vai levá-lo para almoçar. -disse Lindsay, olhando ao redor como se tivesse esperança de ver o primo voltando. -E Apolo também.
Nico não teve dificuldade em entender qual era o assunto do momento quando chegou na rodinha. Os amigos estavam tão focados no assunto Will que ele nem se importou em não parecer interessado.
Porque sim, Will era um assunto muito interessante.
Ao que ele havia entendido o irmão de Will passara lá poucos minutos antes de Nico chegar e sequestrara Will para uma conversa séria. Nico concluiu que devia ser o mesmo irmão de quem eles falavam no dia anterior. O irmão gay.
-Os Solace um dia vão me enlouquecer. -continuou Lindsay. -Ah, ali vão eles.
Nico seguiu o olhar da garota até uma dupla de loiros muito bonitos, e sentiu que seu queixo poderia cair se não se controlasse. Will e o irmão, Lee, eram como versões da mesma pessoa, só que Will era a versão lançada no verão e Lee no inverno.
-Eles parecem de mentira. -comentou Silena, com uma risadinha. -Como bonecos Ken.
Sim, Nico concordou mentalmente, pareciam inalcançáveis. E ainda assim, ontem, ele era um bichinho acanhado.
A dupla entrou no bloco dos restaurantes e todos se voltaram para dentro do círculo novamente. Quando Nico voltou seus olhos para o cenário desinteressante de antes, o círculo de cadeiras e o guarda sol, encontrou um par de olhos o assistindo. Lindsay. Nico a encarou de volta, e ela desviou o olhar rapidamente.
Era impressão sua ou Lindsay o estava analisando?
-Acha que Lee vai nos convidar para o casamento? -perguntou Jake, balançando as pernas ansiosamente. -Vocês sabem como eu amo comida de casamento.
-Sabemos, -concordou Charles, que agora segurava um espelhinho para a namorada limpar os cantos marcados de protetor. -Ninguém vai se esquecer do incidente do casamento da Jia.
Enquanto os demais riam da piadinha interna, Nico deixou seus olhos vagarem, procurando algo mais interessante em que se fixar. Até que avistou um rosto conhecido acenando para ele. Mas não era um aceno animado, era uma ordem.
-Vou ali. -ele avisou a Piper, então levantou e seguiu até a grade de proteção da piscina, onde seu pai esperava com Hazel nos braços. -Posso ajudar?
-Vou sair com Perséfone, vamos fazer compras. Você poderia ficar com a Hazel?
Nico prontamente diria não, mas Hazel o olhava esperançosamente. Aqueles olhos dourados que ganhavam qualquer coração, até o mais fechado como o de Nico.
-Okay. Mas vá rápido, tenho planos. -ele estendeu os braços sobre a grade e Hazel se agarrou ao pescoço dele. -E me traga mais protetor solar.
Com isso ele deu as costas e voltou para o círculo com a irmã. Sabia que normalmente nenhum grupo de amigos ficaria feliz com a chegada de uma criança para interromper seus planos de diversão, mas 1) Nico não se importava com oque eles achavam, 2) assim que viram Hazel uma nuvem de fofura atravessou qualquer reclamação que eles poderiam ter.
-Pessoal, temos mais alguém hoje. -Nico disse, pousando a irmã no chão. Ela sorriu para o grupo e acenou. -Papai vai fazer compras.
-Eu me comporto, juro. -disse Hazel, segurando a boia ao redor da cintura.
-Claro que sim. Agora venha cá, -disse Silena. -Vamos passar protetor em você ou você vai sair daqui toda assada.
Hazel correu até ela e logo as duas estavam super amigas.
Hazel havia chegado na família alguns anos atrás. Ela era o resultado de uma "viagem a negócios" que o pai fizera cinco anos antes. No tempo Nico não pensara nisso, mas o dono de um funerária de Nova York resolvendo negócios em Nova Orleans? No mínimo suspeito.
Mas lá estava Hazel. Sua irmã. E ele nunca trocaria ela. Hazel havia aparecido em um dos momentos mais obscuros da sua vida, quando tudo estava tão cinzento que ele mal tinha coragem de sair de casa. Então ela apareceu com todos aqueles sorrisos e toda aquela necessidade de atenção. Desde então Nico era para ela tudo que o pai não era, atencioso e cauteloso. Nico tentava preencher todas as lacunas que haviam na vida de Hazel. A falta da mãe e a ausência do pai presente, que não sabia como lidar com os filhos.
-Nico, amarra. -chamou Hazel, tirando-o do devaneio. Ela estendia uma presilha de cabelo.
Ele a pegou da mão dela e ela se sentou entre as suas pernas.
O cabelo de Hazel também tinha sido algo pelo que Nico havia passado com ela, todo o preconceito envolvendo o cabelo e sua cor de pele deixava tudo mais difícil. Quando ela ainda era muito novinha, uma professora da creche escovara os cabelos dela com muita força, até fazer a cabeça da pequena doer, tentando deixá-los mais lisos e "arrumados", nas palavras dela. Nico ficara furioso naquele dia, e não sossegou até que o pai a tirasse daquele lugar e denunciasse a professora. E desde esse dia, também, Hazel só confiava na irmã e no irmão para prender e arrumar seus cabelos.
  Ele terminou de amarrar e deu um tapinha no ombro dela.
  -Ainda falta muito tempo? -Hazel perguntou a Silena, apontando para o protetor solar.
  -Mais uns cinco minutos.
  Hazel fez bico, mas não reclamou, só levantou segurando a boia e olhou ao redor em busca de companhia da sua idade. Então seus olhos arregalaram e ela sorriu.
  -Nico! Nico! Eu posso brincar com ele? -ela perguntou, apontando um menininho asiático sozinho na parte infantil da piscina.
  -Se ele quiser brincar com você...
  -Vou indo!
  Ela saiu correndo em direção a parte infantil e sentou na beirada da piscina.
  Nico observou ela se aproximando do menino devagar, como quem não queria nada, até ele desconfiar e a olhar. Quando ele se virou para ela, Hazel acenou e disse alguma coisa que Nico não conseguiu ouvir. Mas era uma cena adorável.
  Vendo que tudo estava bem, Nico se voltou para os outros que já estavam em outro assunto. Antes que pudesse se acomodar na conversa, sentiu alguém se aproximando, da mesma forma que Hazel havia feito.
  Ele olhou de lado e lá estava Lindsay novamente.
  -Você quer me dizer alguma coisa? -ele perguntou baixo, para não chamar atenção.
  Lindsay olhou para cima, pensativa, como se pesasse na balança mentalmente se valia a pena oque iria falar. Até que ela se voltou para ele.
  -Não que seja um interesse meu, é de outra pessoa, mas... -ela o encarou com canto do olho. -Você é comprometido?
  Nico franziu a testa.
  Lindsay estava interessada nele? Sim, ele havia ouvido a parte em que ela negara ser interesse dela, mas não era assim que as pessoas mentiam?
  -Não. -Nico respondeu, desconfiado. -Posso saber então de quem é o interesse?
  Ela encolheu os ombros.
  -Nada. Esqueça.
  -É sério?
  Lindsay apertou os lábios como se estivesse segurando as palavras de jorrarem da sua boca, então suspirou e revirou os olhos.
  -Você só precisa saber que... tem alguém com interesse. E que eu não devia ter me metido nisso.
  Nico riu, incrédulo. Seria Lindsay a pior cupido da história?
  -E eu preciso descobrir sozinho quem é essa pessoa?
  -Exatamente. -ela concordou, ocupando a boca com três azeitonas, acompanhadas de uma careta. -Você vai descobrir, é muito fácil.
  Nico assentiu devagar, pensativo.
  -Vou observar.
  Lindsay balançou a cabeça, e logo se intrometeu na conversa para fugir de Nico e suas perguntas.
  Isso era ótimo, Nico concluiu, ao menos suas férias estavam mais interessantes.

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