Thomas e fantasias

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  No outro dia, pela manhã, Will se sentia leve como uma pena. Se pudesse pesquisar na sua vida outro momento em que se sentira tão calmo, tinha certeza que não encontraria.
  A conversa com Artemis havia se desenrolado até altas horas da noite. Sobre Nico, sobre a vida dela, sobre Lee, e daí por diante. Haviam colocado tanto o assunto em dia que ele suspeitava que não existia mais nenhum guardado na manga.
  Mas além disso, a conversa havia servido para desbloquear mais uma das suas barreiras. Ele agora entendia, mais que nunca, que sua mãe era um ser completamente individual. Durante toda sua vida ele havia lidado consigo mesmo como um tipo de suporte para a sua mãe, como a única coisa que podia deixá-la continuar a vida, mas a verdade era que sem ele, ela teria que escolher entre viver sozinha ou aceitar o filho. Cabia a ela a decisão que mais acataria as necessidades dela.
  Will não aguentava mais. Odiava se sentir invejoso pelo irmão só porque ele havia tido coragem o suficiente para encarar a mãe, diferente dele que ainda estava se escondendo. Odiava as indiretas de namoro e ser apresentado as filhas das amigas dela como se elas fossem uma oferenda.
  E o pior, no momento, odiava ver que Nico estava se dando tão bem com Thomas e não poder dizer nada.
  Ah, como a vida era injusta.
  Thomas havia chegado um pouco tarde pela manhã. Will havia acabado de acordar, quando a campainha tocou. Ele estava comendo um sanduíche, com os olhos ainda se acostumando com a claridade do dia, sentado à bancada da cozinha. Silena passara saltitante para abrir a porta, mas ele não havia raciocinado rápido o suficiente para entender quem era o convidado tão especial.
  Silena voltou alguns instantes depois com uma mochila extra nas costas, e logo atrás um rapaz trazendo uma mala de estampa de exército. Will foi reconhecendo a figura aos poucos. Os cabelos castanho avermelhados, o sorriso largo e os olhos azuis eram inegáveis. Thomas Burke era um dos jogadores do time de basquete da universidade, o mesmo que Jake participava e o qual Will pensara em ingressar no começo do curso. Thomas cursava jornalismo e, se não fosse pelo time de basquete, era provável que Will nem o conhecesse.
  Mas Will o conhecia, e era um grande amigo, do tipo que podia-se contar quando precisasse. Então, assim que Will o viu e ele viu Will, os dois quase correram um para o outro e se abraçaram. Will havia até deixado o sanduíche caído no prato para cumprimentar o amigo. E foi no meio do abraço que a ficha caiu. O amigo o qual Silena intencionava jogar para Nico, era Thomas.
  No mesmo instante Will sentiu a alegria ir se esvaindo.
  Não podia ser Thomas.
  Ele não conseguiria olhar feio para Thomas ao mesmo tempo que ria das piadas dele.
  Então, para o almoço, eles foram todos juntos se encontrar com Piper, Jason e Nico na área de alimentação do clube. Will se encontrava incrivelmente desmotivado. Teria que ficar vendo Thomas e Nico.
  Podia ele ter jogado pedra na cruz algum dia?
  E lá estavam eles. Do outro lado da mesa, Thomas havia conseguido engajar uma conversa com Nico sutilmente, desconectada do que todos na mesa falavam em geral. E isso era ainda mais incômodo. Nico não parecia super feliz, mas também não estava incomodado, na verdade ele parecia bem interessado na conversa.
  -E o Will vai de príncipe...
  Como um choque, Will se sentiu ser trazido de volta para o momento.
  -Eu não vou de príncipe. -declarou.
  Silena respirou fundo, como se tentasse se conter.
  -E do que você quer ir, meu amor?
  -Posso ir de...
  -Você ficaria tão lindo de príncipe encantado. -disse Lindsay, o olhando como se ele fosse um cachorrinho.
  -Já que você não quer ir de Bananas de Pijama comigo... -disse Jake, mexendo nas unhas. -Não digo nada, só que eu não faço mais nada que você me pedir.
  -Jake, se formos de par teremos que andar juntos a noite toda.
  Jake o olhou como se Will estivesse o xingando do pior nome na face da Terra.
  -Voce está dizendo que eu sou um incômodo na sua vida?
  -Vocês podem fazer o favor de divulgar a data de casamento de vocês? -Katie disse com ironia. -Pelo amor de Deus, Jake.
  -Okay. Mas por que você não quer andar comigo a noite inteira? Por acaso você tem planos com alguém? -Jake ergueu as sobrancelhas sugestivamente.
  A pergunta voltou a atenção de toda a mesa para Will.
  -Eu posso ter ficado bebado na última festa, Will, mas eu lembro. -ele indicou no próprio pescoço onde a marca de Will um dia esteve. -Você nunca me disse quem era. Você está todo estranho. Vive nesse celular, e você nem gosta de mexer no celular. Não vai me contar não quem é?
  -Você é um intrometido. -disse Lindsay. -Ele não precisa responder.
  Will sentiu que respirava pouco.
  -Jake, isso não te interessa. -Will respondeu, tomando um gole do refrigerante que já estava ficando quente.
  -É, Jake! -reclamou Silena. Ela virou a cabeça para Will e deu um sorriso acanhado. -Mas estamos todos entre amigos, se você quiser nos contar fique a vontade.
  Will respirou fundo, sentindo  expectativa de todos na mesa crescer.
  -Se eu quiser contar e quando eu quiser contar, vocês saberão. -ele respondeu, cruzando os braços.
  Jake riu alto.
  -Então tem alguém! Eu sabia! Eu sou o seu melhor amigo, eu sinto eu essas coisas.
  Will riu, tentando seu máximo para não desviar os olhos para Nico. Silena estava o olhando como se pudesse descobrir dessa forma de quem ele falava.
  -Vocês se conheceram na festa? -perguntou Katie, incapaz de segurar a curiosidade.
  Will começou a cantarolar e a olhar as próprias unhas. Katie bufou indignada.
  -É só responder sim ou não.
  Will continuou a cantoria.
  -Deixem ele. -disse Charles, dando tapinhas no ombro de Jake para que ele voltasse a se sentar direito na cadeira a qual ele estava inclinado para ver Will. -Ele não vai esconder isso para sempre.
-É, um dia ele nos conta. -disse Lindsay, tentando dispersar a atenção de Will.
Com ajuda de Silena, elas voltaram a listar fantasias, deixando a de Will como "indefinida" no caderninho. Aproveitando que todos haviam voltado para suas atividades anteriores, Will deu uma olhada em Nico.
Ele estava conversando com Thomas novamente. Will tentava consolar-se com a ideia de que, se fosse ele no lugar de Thomas, Nico não estaria só assentindo e respondendo simpaticamente, ele estaria sorrindo. O que contava pontos para Will.
Alguns minutos depois o celular de Will tremeu no bolso, ele o tirou e viu que era uma mensagem de Nico.
"Não fique com ciúme".
Uma simples frase. Mas fez Will lutar contra um sorriso de idiota que queria abrir. Só não o fez porque agora suas ações estavam no holofote dos seus amigos.
Will olhou para o outro lado da mesa e Nico estava o olhando. Quando seus olhares se encontraram, Nico deu um sorrisinho e voltou a falar com Thomas.
Não era fácil não sentir ciúme. Mesmo que o mais leve. Thomas parecia ser uma pessoa incrivelmente social e bem humorada, e, apesar de algumas pessoas dizerem o mesmo sobre Will... Thomas havia capturado a atenção de Nico em dois segundos, era surpreendente.
Will tentou relevar prestando atenção em outras pessoas. Ele se voltou para a esquerda e se ocupou de prestar atenção na discussão sobre a fantasia de Charles. Não que realmente ouvisse, seus ouvidos estavam programados para detectar alguma risada de Nico. Will gostava de acreditar que alguns sorrisos e risadas de Nico eram especialmente direcionadas para ele desde que ele não sorria ou ria muito para ninguém.
  Will não deixaria que seu dia fosse arruinado pela sua excessiva necessidade de olhar para Nico de dois em dois minutos. Ele respirou fundo, agarrou-se aos seus nervos, pensou no dia anterior quando ele e Nico assistiram Nemo juntos e, com isso em mente, entrou na conversa de Silena para tentar desapegar.
  Como era difícil se esconder.

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