Summer Strange Love - Solangelo

Picolé de Limão

  Antes de ir atrás dos seus amigos, Will estivera no campinho de futebol pela segunda vez no dia. Aparentemente ali era o lugar onde as pessoas costumavam ter conversas a sós.

  Will subiu até a última fileira de bancos da arquibancada e se sentou. Àquela hora o sol estava em um ângulo que a luz começava a tocar o espaço sob a sombra da cobertura.
  Sophie sentou-se ao seu lado. O cabelo ruivo brilhando como fios de cobre. Ela estava impecável como sempre, isso Will não podia negar.
  -Que coincidência você por aqui. -Will disse, para quebrar o silêncio. -Achei que estivesse fugindo o sol durante o verão.
  Sophie riu.
  Era verdade, a família dela era rica o suficiente para passar todos os verões em países frios. Odiavam o verão.
  -Eu decidi ficar por aqui esse ano. Sabe? Tentar gostar do que todo mundo gosta.
  -Hum.
  -Me desculpa pela batida. Eu não te vi mesmo.
  -Sem problema.
  Will sentiu dedos longos envolverem seu pulso. Ele olhou para o lado e Sophie olhava-o com brilhantes olhos azuis.
  -Will, eu sei que quando acabamos não foi bem, pacificamente, então eu queria pedir desculpas.
  -Tudo bem, eu já esqueci.
  Sophie sorriu.
  -Ótimo, e o segundo motivo é que, eu queria saber se poderiamos... tentar de novo.
  Will quase engasgou. Ele olhou para o rosto esperançoso dela, mas tudo que conseguia pensar era: isso não faz o menor sentido.
  -Hum... Sophie, eu agradeço pela oportunidade, mas...
  -Só mais uma chance pra nós dois, -ela interrompeu, antes que ele finalizasse a recusa. -E se não der certo, eu sumo pra sempre da sua vida.
  -Não é fácil assim. -ele suspirou.
  -Certo. Você precisa de tempo?
  -Sophie, eu... -ele tirou a mão dela do braço dele delicadamente.
  Ela franziu a testa.
  -Você já está com alguém?
  -Hum...
  Ele podia dizer sim, mas para que dissesse isso, antes tinha que descobrir o que ele e Nico seriam. E disso ele não tinha certeza.
  -Não. Eu não estou com ninguém, mas eu também não estou sentindo a falta de alguém, se me entende.
  Sophie olhou-o como se ele estivesse dizendo um absurdo.
  A expressão de choque do rosto dela o fez lembrar do porque que eles haviam terminado. Sophie sempre tivera tudo muito fácil na vida, e quando ela era negada algo...
  -Você está falando sério? -ela perguntou. -Está me dando um fora assim?
  -Esperava que eu quisesse voltar? Fui eu quem terminei.
  -Mas... -seus olhos tremeram buscando uma defesa. -Talvez você tivesse mudado de ideia! Eu sinceramente estava esperando isso. Eu vim até aqui só para ver você.
  Will não estava compreendendo. Então, Sophie, a menina que odiava verão, que tinha beleza e influência o suficiente para ter qualquer um, tinha ido até a Califórnia para vê-lo?
  -Você não faria isso por minha causa.
  -Claro que faria, estou aqui!
  Will suspirou.
  -Ainda assim, não estou interessado.
  O rosto dela ficou vermelho de raiva. Seus olhos estavam em chamas.
  -Não me olhe assim. Não é como se fosse uma deusa.
  Isso foi os suficiente para ofendê-la, ainda que não fosse uma ofensa. Sophie levantou e desceu a passos duros. Saindo do campo.
Depois daquilo Will se sentiu leve como uma pena, e não demorou a ir procurar pelos amigos.
É claro que a primeira pessoa que ele viu entre o grupo foi Nico. Ele estava ficando para trás enquanto andava, e não parecia ser de propósito. Seu rosto estava tão lívido de emoção que Will só podia concluir que seus pensamentos estavam em uma terra muito distante.
Ele se aproximou por trás do grupo, para que tivesse pelo menos um segundo de privacidade com Nico.
Assim que se aproximou, Nico virou o rosto para ele. Ele podia até estar aéreo um instante antes, mas sempre estava alerta. Ele deu um sorrisinho quando viu Will, mas seus olhos logo buscaram o curativo na testa e seus cotovelos.
Will fez sinal de que estava bem. Nico franziu o nariz rapidamente, como se não acreditasse.
-Ah, como vocês andam devagar. -ele reclamou alto, chamando a atenção dos amigos.
-Olha quem está de volta... -Jake se virou, andando de costas. -Como foi com a Sophie?
-Ela é muito mimada.
-E você não? -Katie implicou.
Jake sorriu para ela, orgulhoso, e Will arriscava dizer, um pouco apaixonado.
-Eu não sou mimado daquele jeito.
-Ainda bem que você terminou com ela. -disse Lindsay, em alto e bom som. -Aquela garota me dá nos nervos. Ela chora muito. Ela chorou para se despedir das amigas de dormitório antes do verão.
Lindsay fingiu que ia vomitar fazendo todos rirem. Will deu uma olhada para checar o humor de Nico, que parecia ter melhorado, mas não muito.
Will tirou o celular do bolso e mandou uma mensagem para ele.
"Você está bem?"
Nico pegou o próprio celular e abriu a mensagem.
"Sim"
"Não parece"
"Dor de cabeça"
Will guardou o celular e teve a esperança de que realmente fosse só isso. Só faltava Sophie ter estragado o início do Inicio.
Durante o almoço, todos se sentaram numa mesa longa e comeram com direito a sobremesa. Jason estava de tempo em tempo verificando se Nico estava comendo, e quando não via nenhum movimento do garfo dele, o encarava sério até Nico colocar comida na boca. Will assistia achando engraçado. Ele havia descoberto a pouco tempo que Jason era primo de Nico, e, apesar os dois serem fisicamente diferentes, sobre personalidade até que não eram tanto assim. Jason era sério quase o tempo todo, e tinha um senso de organização espantoso, assim que terminava de comer ele organizava tudo na bandeija, e jogava metodicamente tudo em um lixo específico de reciclagem.
Claro que todos faziam isso, mas não com tanto cuidado. Ele praticamente verificava se todos os plásticos que envolviam os garfos e facas eram realmente de plástico.
Nico não era tão organizado assim, mas também não ficava muito para trás, ele só falava e fazia o necessário, e quando não era necessário uma resposta muito longa ele só emitia um "hum".
Lindsay estava certa. Will estava apaixonado. Como seu coração podia se apegar tanto a um som como "hum"? Mas ele adorava ouvir. Se pudesse ficaria fazendo perguntas de sim ou não o dia todo para ele, só para ouvi-lo responder assim.
Quando o almoço acabou, a próxima parada era a praia. Antes que chegassem lá, Lindsay enfiou o bucket hat verde neon de Silena na cabeça de Will.
-Se puder também não deitar e não apoiar os cotovelos na areia, eu agradeço, viu? Teimoso. -ela disse, dando dois tapinhas ardidos nas costas dele.
Will olhou ao redor enquanto tirava as sandálias para pisar na areia, a sensação o trouxe para a noite anterior, e seus olhos buscaram imediatamente Nico. Ele estava a alguns passos de distância, segurando a mão de Hazel que fazia bico dizendo que não queria chegar perto do mar.
-Você não precisa ir para a água. -disse Silena, tentando tranquiliza-la. -Vamos ficar só na areia.
Hazel balançou a cabeça, negando.
-A gente pode ficar aqui. -disse Will, apontando para o lugar em que estavam em pé, no declínio da areia para o mar. -O mar não chega aqui.
Hazel olhou do mar até onde Will estava, como se pudesse calcular se o mar a pegaria naquela distância.
-Ele não chega aqui? -ela perguntou virando-se para o irmão.
-Claro que não.
Hazel fez bico, pensando, e então se sentou.
-Okay, então.
-Ótimo! -disse Silena, descarregando sua bolsa no chão para começar a montar seu acampamento de praia. -Jake me ajude aqui.
-Você tem um namorado para te ajudar. -retrucou Jake, se espreguiçando.
-Charles vai comprar picolé para a gente, não vai? -ela olhou para Charles piscando os olhos. -Por favor.
Charles suspirou, e balançou a cabeça, como se não pudesse lutar contra esse truque.
-Você é uma manipuladora. -disse Katie, estendendo a própria toalha no chão.
-É um dom. Se chama charme.
Will sentou na areia, rindo dos amigos. Depois de Charles decorar os pedidos de todo mundo, ele voltou para comprar os picolés no clube, lá eles tinham desconto. Com Lindsay, Piper e Silena torrando, Katie lendo um livro sob o guarda-sol, Jake e Jason tendo sido convidados para participar de um jogo de vôlei por um grupo de meninos, e Charles fora, Will se viu assistindo Hazel fazer um castelo de areia torto.
   Do outro lado de Hazel, Nico olhava o mar, e enquanto Will o observava, viu um sorrisinho no rosto dele.
  Aquilo o surpreendeu.
  Nico estava sorrindo para o nada? Ou ele sabia que ele estava o observando?
  Will não se surpreenderia com a última opção. Parecia que Nico sempre sabia exatamente quando ele estava o encarando. Como esperado, Nico voltou o rosto para ele.
  -Como estão os machucados? -ele perguntou.
  Will deu de ombros.
  -Doendo um pouco.
  -Você devia ter ficado em casa.
  -E perder um dia bonito desse? -Will falou despreocupadamente, mas seus olhos nunca deixaram o rosto de Nico, e seu olhar deixava óbvio que ele não estava falando do dia. -Parece que... -Will deu uma rápida olhada no mar, e voltou. -Hoje ele está até mais bonito que ontem.
  Nico não conseguiu evitar de rir.
  -É mesmo? Não reparei.
  -Ah, com certeza.
  Nico foi o primeiro a desviar o olhar, mas também não conseguia apagar o sorriso. Will estava satisfeito com isso, até começou a ajudar Hazel a fazer o castelo, apesar dos seus cotovelos doerem com o movimento.
  Poucos minutos depois Charles chegou com uma sacola cheia de picolés. A sacola passou primeiro por Will, Hazel e Nico, e depois seguiu para as meninas que no momento discutiam o livro de Katie.
  -Do que é o seu? -Will perguntou, sinceramente curioso.
  -Limão. -disse Nico, tirando a embalagem e revelando um picolé branco como gelo.
  Will fez uma careta.
  -Por que alguém tomaria picolé de limão?
  -Porque é o melhor de todos.
  -Você está completamente enganado. -Will rebateu.
  -E qual é então?
  Will balançou o picolé de chocolate, como se fosse óbvio.
  -Se não fosse o de chocolate, qual seria?
  Nico deu de ombros.
  -Limão.
  -Não mesmo.
  -Como você sabe se nunca provou? -uma voz baixa perguntou.
  Era Hazel.
  Will baixou a cabeça para vê-la e ela estava tomando seu picolé de morango muito feliz.
  -O que?
  -Como sabe que não gosta se nunca provou. -Ela repetiu. -Nico sempre me diz isso.
  -Prove.
  Will ergueu o rosto e Nico estava estendendo o picolé na direção dele. Will não sabia bem como reagir, podia negar, mas não queria decepcionar ele. E qual era o problema? Era provar um picolé, não beijar Nico na frente de uma multidão.
  Então, ele segurou o pulso de Nico para estabilizar, sentindo seus dedos darem pequenos choques de nervoso, e mordeu um pedaço do picolé de limão. O rosto satisfeito de Nico fez valer a pena.
   No fim, o picolé não era ruim. Era doce, não azedo como Will imaginava.
  -Então? -Nico perguntou.
  -Não é ruim. -Will admitiu. -Mas não é o melhor do mundo.
  Nico revirou os olhos, mas riu.
  Só havia um problema... agora estava na cabeça de Will que aquele gosto de limão estava na boca de Nico, e que beijar ele naquele instante devia ser maravilhoso e gelado.
  Ele tentou se contentar com seu picolé de chocolate, contudo, não tinha a mesma graça.