Dúvidas

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Olá!!
Espero que gostem
Fiquem saudáveis
***

  Na volta, Nico subiu para o apartamento de Will junto com os outros, seria melhor esperar suas roupas secarem para entrar em casa, ou seu pai e sua irmã notariam. Seria um momento estressante e desnecessário caso percebessem, Hazel já estava ali, não era?
  Will trocou de roupa e se ofereceu para ficar com Hazel enquanto Nico trocava as próprias roupas por algumas de Will, provisoriamente, pelo tempo que as suas estavam lavando e secando.
  Sentado no sofá, com Hazel apagada no seu colo, Will estava quase dormindo, quando o sofá afundou e ele despertou.
  -Ela parece cansada. -disse Nico, encostando-se.
  Will olhou Hazel capotada sobre ele. Mais cedo, Piper havia achado roupas na mochila dela e a trocara para que ela ficasse confortável. Agora ela estava vestida com um vestido de flores azuis.
  -O choque e o sal do mar, devem ter cansado os olhos dela. -disse Will. -Meus olhos também estão ardendo.
Ao seu lado, Will percebeu que Nico também estava com outras roupas. Suas roupas. E isso causou uma estranha sensação de satisfação.
  Nico respirou fundo olhando o rosto sereno na irmã.
  -É sério, ela teria morrido se não fosse você. -ele disse baixo.
  -Se eu não tivesse ali outra pessoa estaria.
  -Não acho que haja muitos homens bonitos esperando para salvar uma criança do afogamento por aí.
  Will não conseguiu não rir, Nico dizia isso tão seriamente.
  -Existem salva-vidas. 
  -E onde eles estavam hoje?
  Will deu de ombros. Talvez algumas coisas acontecessem mesmo por acaso.
Por um instante ambos ficaram em silêncio, só ouvindo o barulho das garotas conversando no quarto. Até Nico quebrar o gelo.
  -Sobre ontem. -ele disse, chamando a atenção de Will. -Esqueci de perguntar se eu realmente havia sido de alguma ajuda, ou se só te entediei à ponto de te fazer dormir.
  Will ergueu as sobrancelhas.
  -Não dormi por sua causa, bem... talvez você tenha abalado muitos sistemas ao mesmo tempo, e eu não soube lidar. -Will respondeu, um pouco mais confiante. -Claro que serviu.
  -E qual foi o resultado da sua experiência? -Nico perguntou em tom conspiratório. -Conseguiu resolver alguma coisa?
  -Eu... -Will olhou a parede do outro lado, procurando algo que soasse bem. Mas tudo que conseguiu dizer foi um simples... - Eu gostei.
  -Então não foi só o álcool?
  Will riu.
  -Definitivamente, não.
  -Bom saber.
  Os passos no corredor fizeram Nico se afastar, e então Lindsay entrou na sala. Ela olhou de um para outro, e então fez uma expressão culpada.
-Desculpa, estou atrapalhando. Eu só vim... -ela apontou para a bolsa dela na mesinha de centro. -Vou embora. -ela pegou a bolsa e voltou pelo corredor.

***

A garota ainda era um enigma para Nico. Afinal, ela e Will realmente não tinham nada? Nico havia suspeitado na noite anterior que Will não correspondesse os sentimentos de Lindsay. Mas já não tinha tanta certeza se haviam esses sentimentos.
Talvez eles só fossem irmãos mesmo.
Mas agora isso não importava. O que importava era que... Will havia gostado, então... aquilo poderia ser considerado um convite para um próximo beijo? Provavelmente não.
Nico assistia-o ninando Hazel assim como ele estaria fazendo se ela estivesse nos seus braços.
-Você tem outros irmãos além do Lee? -ele perguntou.
-Para ser sincero, tenho muitos irmãos. -Will riu, passando os dedos pelos cabelos de Hazel gentilmente. -Parte deles eu não conheço.
Nico arregalou os olhos, o que só fez Will rir mais.
-Meu pai... ele não é do tipo de se casar, muito menos o de ser um pai presente.
Nico lembrou o homem loiro e bonito que aparentava ter meia idade. Ele também parecia muito simpático e amigo de todos os amigos de Will. Automaticamente Nico lembrou do seu pai, um homem sempre presente, mas distante ao mesmo tempo, que pagava suas contas e não gostava dos amigos de Nico. Ou se gostava, nunca demonstrava. Nico nem entendia como sua madrasta se casara com ele. Provavelmente não havia sido por amor.
-Vocês não tem uma relação muito boa? -Nico perguntou, tentando não soar muito intrometido.
-Nós nos suportamos. Ele aparece de vez em quando, faz algumas demonstrações de carinho em público, me convida para correr maratonas, e some depois de algumas semanas.
Nico subitamente teve a imagem hilária do seu pai com uma faixa preta na testa, camiseta regata, shorts e tênis, correndo uma maratona, enquanto Perséfone gritava por ele atrás das grades de contenção. Não, isso definitivamente não aconteceria nunca.
-E você? -Will dizia, tirando Nico do devaneio. -Você só tem a Hazel e a Bianca?
Nico assentiu.
-São o suficiente.
Will riu. E seu sorriso era largo e bonito, que se espalhava até os olhos, quase sumindo todo o azul por trás das pálpebras. Ele era incrivelmente mais bonito quando estava relaxado, e para sua surpresa, ele realmente estava. Via na forma que seus ombros estavam suaves, diferente da outra noite quando ele parecia ter sido atingido por um feitiço que o transformaria em pedra.
Ele era bonito. Tinha salvado sua irmã. E havia surtado para o pedir um beijo.
Nico estava refazendo essa lista na sua cabeça desde que Will o beijara.
Quais eram seus motivos para insistir nele? Nico normalmente não insistia em ninguém, esperava que aparecessem por acaso e lutassem para ficar. Mas Will... ele, de fato, havia chegado de repente, só que Nico queria lutar um pouco para que ele ficasse.
  Talvez seja um problema meu, Nico pensou, amargurado. Por que eu só quero aqueles que não tem certeza?
Nico respirou fundo e encostou a cabeça no sofá, também sentindo os olhos pesados.
-Se você estiver com sono, pode dormir no meu quarto. Para pagar a dívida. -disse Will, e Nico sorriu, meio acordado.
-Não, não. -Nico esfregou os olhos e os piscou para se manter acordado. -Você paga a dívida depois.
Will ergueu uma sobrancelha e Nico deu de ombros.
-Vai me cobrar muito caro?
-Depende, -ele olhou Will nos olhos, que estavam curiosos e calmos, diferente de antes. -Estou pensando ainda no preço. Posso pegar leve, já que salvou minha irmã.
Os lábios de Will se esticaram em um sorriso contido.
-Não cobre muito. -ele disse, enfim. -Talvez você se arrependa se o preço for muito alto.
-O que seria um preço alto?
Will pensou, e seu rosto ficou vermelho. Nico começou a rir, e Will baixou o rosto constrangido.
-Não ria de mim.
-O que quer que tenha pensado, não jogo tão sujo assim.
Will assentiu, ainda envergonhado.
-Não é que você pareça jogar sujo, mas... -Will voltou o olhar para Nico. -Você está me secando desde que sentou aí.
-Como se eu tivesse outra coisa para fazer aqui.
  Nico assistiu Will hesitar em dizer algo, então desistir e fingir que nunca havia pensando em uma resposta. Nico suspeitava que em outra ocasião, Will teria jogado sujo. Em outra ocasião, se Nico fosse uma garota. Dessa forma, talvez ele tivesse respondido, tivesse olhado-o mais firmemente, e não tivesse parecido tão culpado quando desistiu de falar. Will devia saber fazer aquele jogo muito bem, fazer insinuações tão bem quanto as faria por mensagem. Ele parecia saber ao menos. Mas ele estava em ambiente desconhecido. Não se arriscaria.
-Você disse que eu tinha ajudado. Não me disse como. -Nico insistiu. -Desculpa estar tão curioso.
Will sorriu, mas dessa vez o sorriso não chegou até os olhos, e ele voltou a ficar sério rapidamente.
-Eu não sei bem como você me ajudou. -respondeu Will, então baixou a voz. -Não posso dizer que, por um beijo, eu tenho certeza.
Nico concordou. Ele tinha total razão. Um beijo não adiantaria muito. Ele precisaria de outro em breve. Nico não se importaria em fornece-lo.
No colo de Will, Hazel grunhiu e se encolheu, tendo um sonho. Ela logo começou a respirar rápido. Nico pousou uma mão no braço dela, tentando acalma-la, mas ela apertava os olhos com mais força.
Então ela acordou, sem ar, agarrando com um dos os punhos pequenos na camisa de Will e o outro na mão de Nico.
-Está tudo bem. -eles disseram ao mesmo tempo.
Hazel olhou de um para o outro e um bico se formou. O queixo tremelicava como se ela estivesse com frio.
-Eu estava lá de novo. -ela começou a chorar, erguendo os braços para Nico, que a pegou e a abraçou.
Enquanto Hazel chorava no seu ombro e Nico esfregava suas costas, ele percebeu um olhar fixo no seu rosto. Nico decidiu não o atrapalhar, o que uma olhadinha o custaria afinal? Então fingiu que não percebia o olhar de Will, até Hazel voltar a dormir e ele a colocar deitada no sofá.
  -Já acabou sua observação? -Nico perguntou, voltando-se para Will e percebendo que agora não havia nenhum obstáculo entre eles, e Will não sabia onde colocar as mãos agora que não tinha o cabelo de Hazel para mexer.
  -Que observação?
  -Você me acusou de estar o secando o tempo todo, e quando eu viro as costas, você quem não desgruda os olhos do meu rosto.
  Will ficou vermelho como uma tomate, mas ele ria, como se a vergonha ativasse essa defesa. 
  -Me desculpe. -ele disse, se recuperando. -Não achei que estivesse percebendo.
  Nico deu de ombros, indicando que não se importava. Ele vislumbrou o corredor vazio e se perguntou se Will o deixaria beija-lo agora.
  Olhando para Will, viu que ele estava um tanto tímido e voltara a ficar tenso.
  -Relaxe. -Nico empurrou o ombro dele. -Está parecendo para mim que você acha que eu vou te atacar o tempo todo.
  Will passou as mãos nos cabelos e respirou fundo.
  -Eu ainda estou me acostumando com a ideia.
  -De ter me beijado?
  -É.
  Nico gostava de repetir isso, e repetiria até ouvir Will dizer com mais convicção e menos timidez.
  -Eu não vou te atacar. Você vai saber quando eu estiver a ponto de te beijar.
  A frase pareceu trava-lo mais ainda. Will franziu a testa e se voltou para ele.
  -Você está planejando isso?
  -Não estava. -Nico encolheu os ombros. -Mas você parece um boneco de lata enferrujado quando está perto de mim, e agora eu estou seriamente cogitando a ideia de ter um plano ou te atacar quando você menos esperar.
  Will arregalou os olhos.
  Nico não queria assusta-ló mais, mas ele era tão... adorável.
  -Não recomendo que faça isso. -ele disse, olhando para ver se havia alguém no corredor.
  -Por que?
  -Você é burro? Se minha mãe chega aqui vai ser difícil de nós dois sairmos ilesos.
  -Vou ignorar que me chamou de burro. Mas sua mãe chegaria a esse ponto?
  Will olhou para Nico com dúvida nos olhos, como se se perguntasse se ele poderia saber daquilo.
  -Ela... não lida bem com essas coisas. Depois que o Lee se assumiu ela precisou de remédios para... controlar, toda aquela revolta que tinha nela, e... ela pode ter batido no meu irmão também.
  Agora tudo fazia sentido.
  -Está tudo explicado porque você está tão estranho.
  -Eu estou bem.
  -Ontem você estava bem, longe daqui, longe da sua família. Por isso você estava tão corajoso.
  -Eu não chamaria aquilo de coragem.
  -Eu chamaria.
  Will olhou nervoso para a porta, para o corredor, para Nico e então para a janela. Seu pé batia no chão.
-Eu não fiz nada. Quase não consegui falar. -ele disse, e para Nico aquilo soava como magoa.
-Não tem problema. -Nico tentou, mas Will parecia muito bravo consigo mesmo. -Will, não tem problema ficar nervoso.
Will o olhou de relance, mas desviou rapidamente.
-Eu não devia nem ter começado isso. -ele resmungou. -Minha mãe não está bem, nunca mais esteve, se eu me deixar ir...
-Você prefere abrir mão de quem você é? -Nico perguntou, chocado.
Will parecia tão certo disso. E mesmo assim ele havia tentado. Por que?
-Não é quem eu sou. -Will replicou. -É quem eu posso me tornar.
Nico riu, incrédulo.
-Você fala como se fosse algo horrível.
-Perder minha família é horrível para mim.
Nico piscou, atordoado. Fazia algum tempo que não ouvia algo assim.
Seu pai não dava a mínima se ele fosse gay ou não, então nunca se preocupara, mas já ouvira de alguns outros pais frases como essa.
-Você está pensando demais. -disse Nico. -Isso faz muito mal.
-Sim, faz, mas mesmo assim eu não consigo parar. -Will respirou fundo e afundou o rosto nas mãos. -É minha mãe, Nico, eu não conseguiria deixar ela.
-Mesmo se ela não te aceitar?
Will pensou.
-O que você está sugerindo?
-Sugerindo? -Nico baixou a voz. -Estou sugerindo que você não vai conseguir viver na mesma casa que sua mãe por muito tempo.
-Você não sabe nada sobre mim. -disse Will, puxando um fiapo da blusa.
-Me parece que você está bem infeliz. -Nico cruzou os braços e ignorou o olhar raivoso de Will. -Você está o tempo todo aéreo. Eu te vi sorrir de verdade agora, e te garanto que não parece nada com os sorrisos de antes.
-Me observa tanto assim? -Will provocou. -Ouça, eu estou bem. E não acho que eu precise... assumir nada.
Nico riu e se aproximou dele subitamente, fazendo Will prender a respiração.
-Se está tão bem e tão feliz, me beije agora. -ele disse baixo. -Sem medo. Por que você teria medo se está tão convicto?
  Will o olhava espantado, mas com uma mistura de vontade.
-Por que está fazendo isso?
-Se me beijar agora vai provar que está feliz e resolvido, que você está tão bem quanto diz. Que isso não vai mudar nada.
-E se eu não fizer?
-Vai provar que você tem medo de admitir que se sente pelo menos um pouco tentado. E que isso é um problema na sua vida. E que você não sabe lidar com isso.
-Você está certo. Eu não sei.
-Pois devia saber. Aposto que sabe lidar bem com outras pessoas. Garotas, para ser específico. Mas você se sente real quando faz isso?
-Eu não quero ouvir isso.
Ele começou a levantar, mas Nico o puxou para baixo.
-Você precisa aprender a lidar com isso.
-Você só está tornando tudo pior, eu não devia nem ter sugerido aquilo na varanda.
Nico apertou o olhar para ele.
  -É mesmo? Parecia para mim que você estava desesperado o bastante para não ter escolha.
Will desviou o olhar, achando melhor não responder.
-Estou errado? -Nico insistiu.
-Sim, totalmente errado.
-Totalmente? -Nico repetiu. -Will...
-Eu não sei o que eu estava pensando, okay? Eu estava bebado, e cansado, e influenciado. -ele contou nos dedos.
-Influenciado por mim? -Nico disse, sarcástico. -Você veio até a mim. Para sua informação, eu sou bem resolvido, e não preciso influenciar ninguém para ter oque eu quero. Então, -ele encarou os olhos azuis de Will que, fixamente, encarava-o , sem palavras. -Se você não sabe oque você quer, e também não sabe como descobrir isso, não me culpe pela sua covardia e falta de autoestima.
  Will franziu a testa, desviou o olhar e ficou emburrado para o outro lado. Nico tomou o assunto por encerrado. Levantou e foi checar se suas roupas estavam secas na máquina, apertada no pequeno espaço, dentro da cozinha, reservado para ser a lavanderia.
Ele tirou as roupas limpas e secas da máquina e passou direto para o banheiro. Estava começando a se irritar até com a ideia que estava vestido com as roupas de Will.
Ele era um idiota indeciso.
Nico, tanto quanto qualquer outro, sabia como era o processo de negação quando as primeiras dúvidas apareciam. Só que Will era um adulto, ele não precisava mais dos pais e, ainda que precisasse, ele também tinha o irmão abertamente gay que estava prestes a se casar, para recorrer.
Por outro lado, Will havia negado por vinte anos, ele não podia esperar que fosse tão fácil para ele.
Ainda assim!
Nico estava cansado, devia ser isso. Todo o problema de Hazel devia ter o afetado para ficar tão irritado com Will, e tão agradecido ao mesmo tempo.
Ele respirou fundo e trocou as roupas, deixando as de Will em um cesto ao lado da pia. Nunca havia percebido como era gratificante usar roupas que realmente coubessem nele. Will era mais alto e tinha ombros mais largos. Para Nico parecia que ele estava usando uma sacola.
Quando voltou para a sala, encontrou a mesma cena que havia deixado. Hazel ainda dormia, e Will estava sentado, e quando o percebeu ergueu a cabeça.
-Acho que vou indo. -disse Nico, indo em direção a Hazel. Ele se inclinou para pega-la, mas foi impedido de continuar por uma mão segurando seu braço. Ele se virou para Will, que o olhava com o canto do olho, envergonhado. -Você tem alguma coisa para me dizer?
Will engoliu em seco, pesando seus pensamentos, então soltou Nico.
-Não. -ele disse, tão baixo quanto um sussurro, voltando a afundar no sofá.
-Certo.
Nico pegou Hazel nos braços e a acomodou gentilmente no ombro.
-Se você mudar de ideia, -Nico disse à porta. Um último esforço. -Você pode falar comigo.
Will assentiu do lugar em que estava, sem erguer o olhar.

Summer Strange Love - Solangelo Onde histórias criam vida. Descubra agora