Que Mundo Pequeno

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  Ao invés de bater na porta, Will mandou uma mensagem para Nico o avisando que estava na frente do apartamento.
E ainda que fosse muito provável que ninguém o descobrisse ali, Will insistia em olhar para o fim do corredor ou para as portas do elevador esperando que algum dos seus amigos de repete saísse de algum canto.
  Para sua sorte, e alívio, ninguém apareceu ou subiu para aquele andar até Nico abrir a porta.
Quando Nico apareceu, ele imediatamente fez sinal para que Will ficasse calado, então apontou para o corredor.
  -Hazel está em casa. -ele sussurrou.
  Will assentiu, e se deixou ser levado pela mão até o quarto de Nico. A segunda porta do corredor, Will decorou. Eles entraram, e assim que Nico fechou a porta delicadamente, passou a chave.
  Com um suspiro ele se virou.
  -Ainda bem que Perséfone conseguiu deixar ela ocupada. -ele disse, indo até Will e se esticando rapidamente para o dar um beijo. -Oi.
  -Oi. -Will passou os braços ao redor dele. -Por que ela não pode saber que eu estou aqui?
  Nico ergueu uma sobrancelha.
  -Você acha que ela não contaria na primeira oportunidade que visse os seus amigos?
  -Talvez não.
  -Bem, você é o príncipe encantado dela, ela teria muito orgulho de te encontrar aqui em casa.
  Will riu e o apertou mais contra si.
  -E o que eu sou pra você?
  -Segundo ela, -Nico começou, evasivamente. -Você ficaria muito "fofinho" comigo.
  Will arregalou os olhos. Hazel havia de fato dito isso? Ela não tinha só cinco anos?
  -Hazel te disse isso? -perguntou, achando bem improvável.
  -Disse.
  Will estreitou o olhar.
  -Ela só tem cinco anos.
  -E sabe muito bem por qual tipo de pessoa eu me interesso. -Nico retrucou, então seu rosto adquiriu um inédito rubor. -Ela me flagrou um dia com um primo.
  Will ergueu as sobrancelhas, isso era... divertido e desconcertante.
  -Ah, faz sentido. E o que aconteceu com esse seu primo?
  -Nada. Fizemos a Hazel não contar nada a ninguém. Ela ganhou uma casa da Barbie naquele ano.
  Will riu e então se deu conta que estava no quarto dele. Ele olhou ao redor, vendo a decoração de paredes pretas e posters de filmes, além de duas escrivaninhas uma do lado da outra e do lado direito do quarto, uma beliche. Com certeza Nico dividia aquele quarto com Bianca, mas para a sorte de Will, ela não estava mais lá.
  -Não tive a oportunidade de entrar no seu quarto quando vim aqui.
  -Bem, fique a vontade. -Nico disse, se dirigindo a porta. -Eu estava fazendo pipoca de microondas quando você chegou. Não saia daqui, volto já.
  Quando ele saiu, a curiosidade de Will triplicou. Sua atenção se voltou diretamente para as escrivaninhas, a do lado direito pelo visto era a de Nico. A escrivaninha estava organizada, nada além do que ele precisava. Nenhuma foto de família. Nenhuma bolinha de papel amassada. Apenas um montinho de cadernos, um livro grosso e um estojo alinhado a largura do livro. Fora isso, era um simples móvel de madeira, com três gavetas. E, ainda que Will estivesse muito curioso, ele não abriria as gavetas.
  Então ele pegou o livro.
  Passou o dedo pelas páginas folheando-o rapidamente. Era um livro de história, haviam anotações e partes grifadas dentro, indicando que Nico havia estudado aquilo. Se era um hobby ou uma obrigação, Will teria que perguntar.
  Assim que ele devolveu o livro ao seu lugar e sentou na cama debaixo do beliche, Nico entrou no quarto com um balde de pipoca. Novamente fechando a porta com a chave.
  -Pensei em só... aproveitarmos a manhã. -disse Nico, hesitante, o que não era o seu tom usual. -O que acha?
  Will desconfiou, mas tentou não expressar isso, só respondendo um bom humorado:
  -Ótimo.
  -Mesmo?
  Will franziu a testa.
  -Você não quer?
  -Quero, claro que quero. Só não sabia se você iria querer.
  Parecia estranho que Nico estivesse tão hesitante ao falar algo para ele. Normalmente ele era bem direto com oque queria o dizer, mas agora soava muito cauteloso.
  Houve um estalo na cabeça de Will, e ele compreendeu.
  Depois da noite anterior, Nico talvez  achasse que Will só estivesse interessado fisicamente por ele. O que era ridículo contando a carga emocional que Will despejara nele em seus primeiros momentos.
  Will estreitou os olhos para ele, e então relaxou.
  -Eu adoraria passar a manhã fazendo nada com você.
  Nico olhou-o desconfiado, como se buscasse a ironia na frase.
  -Estou sendo sincero. -Will pontuou. -Mais sincero do que eu tenho sido toda a minha vida.
E isso era bem possível, Will pensou, qualquer coisa que dissesse poderia ser considerado mais sincero do que a sua vida.
Nico relaxou visivelmente.
-Ótimo. -ele disse, em um tom mais firme.
-Algum problema? -Will esticou o braço e o puxou para perto. -Tem alguma coisa pra me dizer?
-Não. Nenhuma.
Will sentia que já estava próximo a aprender quando Nico estava mentindo. Sua voz ficava ligeiramente mais rápida e ele piscava forte.
-Eu acho que você tem. -Will disse suavemente, tirando o balde de pipoca da mão dele e o deixando na mesa de cabeceira. -Pode me falar, eu juro que não magoo fácil.
Nico riu, mas pareceu para Will um daqueles sorrisos nervosos.
-Eu... -ele começou, sem olhar propriamente para Will. -Eu... Você...
-Sim? -Will incentivou.
Nico respirou fundo.
-Você estava falando sério ontem?
Will tentou trazer de volta tudo que tinha dito na noite anterior. Se bem se lembrava, havia o dito que estava apaixonado por ele, e se estava correto, Nico havia o perguntando a mesma coisa naquela noite. E a julgar pelo rosto tenso de Nico, talvez fosse isso.
-Sim.
-Você ao menos sabe do que eu estou falando?
-Que eu disse que estava apaixonado.
Nico assentiu brevemente, como se ainda não confiasse na palavra dele.
Will não entendia a desconfiança, mas provavelmente não era algo relacionado a ele. Will não dera nenhuma brecha de dúvida desde o dia da praia. Mas se Nico fosse rancoroso, talvez ele ainda guardasse a lembrança do que ele dissera no apartamento no dia do afogamento de Hazel.
-Você não consegue acreditar em mim? -Will perguntou.
Nico não respondeu, mas o olhou de uma forma que dizia: ainda não.
-Eu não tenho como te provar isso.
-Eu sei. -Nico suspirou. -Não me entenda mal.
  -Foi alguma coisa que eu disse?
  Nico coçou o rosto de maneira um pouco brusca, como se tentasse tirar algo de si. Então soltou um suspiro longo e olhou para Will.
  -Eu não tenho boas experiências com isso.
  -Pensei que fosse isso.
  -Não é nada especificamente com você. É que... às vezes as pessoas dizem as coisas só por dizer.
  Will fitou os olhos dele. Alguma coisa no seu coração despedaçou. Alguém já havia mentido para ele sobre isso? Nico não conseguia olhá-lo por muito tempo, como se estivesse envergonhado de admitir aquilo. Ou talvez... não era vergonha. Era medo. E ver isso nos olhos dele fez Will se sentir péssimo.
  -Eu não disse de boca para fora. -Will disse, em um tom calmo. -Nunca diria. Acho que você sabe tudo que estou colocando em jogo só porque eu quero estar com você.
  Os olhos de Nico lentamente voltaram para ele.
  -Não pensei por esse lado.
  Will sorriu.
  -Bem, então comece a pensar. Porque a não ser que você não queira nada comigo, eu não vou a lugar nenhum.
  Um peso pareceu sair de cima de Nico, e ele deu um sorrisinho. Com alguns passos ele quebrou o espaço entre eles e passou as mãos nos cabelos de Will.
  -Desculpa.
  -Não se desculpe por isso. -Will apoiou as mãos nas pernas dele e o puxou um pouco mais para si. -Vamos aproveitar nosso tempo juntos ou você ainda tem alguma coisa para dizer?
  Nico se abaixou até estar perto do rosto dele e disse bem baixinho:
  -Eu gosto de você.
  -Gosta?
  -Mais que ontem, menos que amanhã.
  Will sorriu, sentindo o coração batendo forte. Era normal se sentir assim por alguém? Queimando? Will nunca havia sentido mais do que uma leve atração por outra pessoa, mas soubera imediatamente que estava apaixonado por Nico quando o disse. Mas agora...
Por Deus, ele não queria que Nico fosse embora da sua vida nem por um segundo.
Will o puxou pela mão e tomou a liberdade de levá-lo a se deitar com ele na cama. Nico se acomodou imediatamente junto a ele, com a cabeça no seu peito.
Eles ficaram em silêncio por longos minutos. Mas não havia nenhum desconforto nisso, por outro lado, estranhamente parecia que estavam entendendo um ao outro. Enquanto Nico se convencia a confiar totalmente no que Will o oferecia, Will pensava em como não desejava decepcionar Nico. Havia esperado tanto tempo pra se sentir em paz por simplesmente deitar assim com alguém, não podia estragar isso.
Parecia que a espera tinha acabado.

Summer Strange Love - Solangelo Onde histórias criam vida. Descubra agora