Dentro do Carro

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  Will não sabia quantas coisas aquele dia podia guardar para ele. Na volta, apesar do clima estar bem humorado dentro da van em que iam, e depois no carro que voltaram a pegar no estacionamento, Will ainda sentia que, entre ele e Nico havia alguma coisa tensa. E como isso poderia ter acontecido em um período tão curto de tempo? Ele sabia que Thomas seria insistente, mas chegar a implicar diretamente? E o que ele havia sugerido sobre o carro, seria oque Will estava pensando?
  Ao seu lado, Nico estava quieto, dirigindo em silêncio, não que ele fosse diferente disso em outros momentos, mas mais quieto. Will deslizou a mão para pegar a dele, que descansava por alguns instantes sobre sua perna e quando o tocou ele teve um breve sobressalto. Quando percebeu que era ele, apertou seus dedos rapidamente, antes de voltar ao volante. Will então pode respirar melhor. Temia ter afastado Nico. Sempre estava temendo afastá-lo.
  Alternativas.
  Essa palavra ainda ecoava na sua cabeça. Ele era uma alternativa de Nico, como o próprio havia confirmado e como ele mesmo chegara a concordar. Sim, era Nico quem escolheria entre ele e Thomas, ou nenhum dos dois. Mas... eles estavam juntos, não era? Haviam confirmado aquilo naquele dia. Então não existiam mais opções. Nico já tinha feito a escolha dele.
  Eles entraram no clube, Nico parou na frente dos prédios, logo atrás do segundo carro, que Charles dirigia. Todos foram saindo, menos Will.
  -Te encontro em casa? Ou você vai dormir em outro canto? -perguntou Lindsay a Will.
  -Eu... mando mensagem. -ele respondeu.
  Ela assentiu, se despediu deles e saiu do carro junto com Piper e Jason. Will assistiu os outros saindo do carro da frente, inclusive uma cabeça ruiva que acenou amigavelmente para eles antes de seguir os outros para o elevador.
Will suspirou.
-Vamos conversar no estacionamento. -disse Nico, virando o carro para o estacionamento arborizado que ficava depois do campo de futebol.
  Ele parou entre duas árvores que demarcavam o espaço de um carro e desligou. O escuro caiu sobre eles, só podendo ser visto uma fraca luzinha que provinha do campo, algumas pessoas jogavam a noite.
Will tirou o cinto de segurança e esperou.
-Eu sei o que pareceu. -disse Nico, quebrando o silêncio. -Como se eu estivesse dizendo que tenho dúvidas entre você ou ele.
Will sentiu as mãos quentes e suando, discretamente as enxugou nas calças.
-Eu... não quero te pressionar quanto a isso. -Will disse, usando todo o ar dos seus pulmões para dizer algo que não queria. -É mesmo você quem sabe.
-Não é assim.
-É bem assim. -Will riu, mas sem graça. -Se tem duas opções você escolhe uma.
-Você fala como se eu estivesse escolhendo um carro.
Will suspirou.
-Eu achava que ele ia esperar um pouco para tentar arranjar confusão, não... fazer com que viéssemos para o estacionamento no dia em que tivemos nosso primeiro dia juntos.
A resposta foi o silêncio da parte de Nico. Will podia ouvir os dedos dele tamborilando.
-Você quis... não, esquece. -Will começou.
-Diga.
-Não.
-Will.
-... Você quis ir para o carro com ele?
Mais silêncio. Will achou que ele não iria responder.
-Não. -ele disse enfim.
-Mesmo?
-Eu pensei em ir pela sombra, mas dentro de um carro as coisas ficam muito mais suspeitas e... eu não queria causar problemas.
-Eu vi de longe vocês conversando.
-Éramos os únicos ali, precisávamos conversar.
-Não foi isso que eu quis dizer. -Will se virou para onde ele deveria estar, apesar do escuro não deixar que ele o visse. -Eu só quero dizer que eu vi que você não parecia confortável com o que ele estava dizendo.
-Eu não estava.
  -E eu posso saber o que ele estava falando? -Will perguntou cuidadosamente, para que ele não o entendesse errado.
  Ele ouviu Nico suspirando.
  -Eu não quero confusão, Will.
  -E eu não estou criando uma.
  Nico se remexeu no banco, como se estivesse se virando para ele.
  -Mesmo?
  -Sim.
  Ele ficou em silêncio por um instante.
  -Em resumo, ele tentou me convencer que não valia a pena ficar com você sendo que você não era... oficialmente assumido.
  Will balançou a cabeça, apesar de Nico não poder vê-lo. Bem, achava que Thomas tinha falado bem pior, mas se era isso...
  -Will?
  -Ele não disse nenhuma mentira, então. -Will suspirou e tateou em busca da mão de Nico, não queria ligar a luz porque sabia que ele se sentia mais confortável com a luz desligada. Quando conseguiu o achar, levou a mão dele até o seu rosto.
  Nico acariciou sua bochecha com suavidade.
  -Você vale a pena. -ele disse, baixo. -Muito mais que ele.
  Will riu.
  -Não exagere.
  A mão de Nico deslizou para os seus lábios, e Will o sentiu se aproximando até que seus lábios estivessem colados.
  -Não é exagero.
  -Existe a possibilidade do Thomas te roubar de mim?
  Nico ficou parado por um instante. Will temia que ele realmente estivesse cogitando isso.
  -Não. Thomas pode ter muitas coisas em comum comigo, mas foi por você por quem eu me apaixonei. -disse Nico.
  O coração de Will batia forte. O sorriso estava tão largo quê ele sentia que podia soltar alguns gritos para extravasar. Nico estava a poucos centímetros do seu rosto, ele sentia pelo calor dele.
  -Will? Não fique tão calado assim. Você nunca fica calado.
  Will riu. Acreditava que, se as luzes estivessem ligadas, Nico poderia estar corado, mas ele nunca o deixaria ver isso acontecendo.
  Inclinou-se encontrando o rosto dele com o próprio e apoiou suas testas.
  -Você se apaixonou por mim? -Will sussurrou.
  -Sim.
  -E não está bravo comigo?
  -Por causa do Thomas? -Nico perguntou, sentindo Will assentir. -Eu sei que tudo aconteceu pelo calor do momento, estávamos todos um pouco irritados.
  Sim. Will havia sentido calor no momento e não apenas devido ao sol escaldante do deserto. Sentira vontade de derrubar Thomas pelas insinuações dele. Machuca-lo um pouco por ter incomodado Nico. Apesar de não querer chamar atenção, Will sentiu, lá no fundo, aquela vontade impetuosa de fazer algo contra Thomas, mas no momento, Nico havia segurado firme no seu pulso, tornando-o ciente da sua presença e de que devia ter uma boa imagem na frente dele. Will naquele instante se acalmou, e vendo Nico manda-lo embora aliviou seu coração. E agora... Nico havia se declarado?
  -Mas não volte a brigar por mim. -disse Nico. -O que ele diz não tem valor.
  -E o que ele faz?
  -Ele não fez nada. Nem ia fazer.
  Will suspirou e enfiou o rosto na curva do pescoço dele, sentindo a pele macia pressionando suas bochechas.
  -Ele só precisa ficar fora do nosso caminho. -murmurou.

Summer Strange Love - Solangelo Onde histórias criam vida. Descubra agora