Pensamentos e Panquecas

918 111 20
                                    

  Naquela noite, se Nico conseguiu dormir, foram apenas algumas horas.
  Na maior parte do tempo, ficara encarando o escuro, ouvindo a respiração suave de Will às suas costas, enquanto o peso e o frio do colar que ele o dera pesava no seu peito. Não achava que devia tê-lo aceitado, mas também não achava que conseguiria negar Will. Agora, mais que nunca, sentia como se o peso dos seus erros estivessem levando ele a se tornar um manipulador. E se estivesse fazendo isso, então estaria assinando o atestado de imbecil. Will não merecia aquilo, mas talvez ele tivesse ficado muito mal se Nico o dispensasse ali na porta. Mandá-lo de volta para casa talvez tivesse feito com que ele regredisse o passo. Se dissesse a Will que não queria voltar com ele para que ele não se sentisse pressionado a contar a sua mãe, não seria pior? Era possível que isso colocasse mais pressão. Pelo menos agora ele podia retardar o dano. Olhando o teto, Nico sentiu Will o abraçar, colocando a mão sob sua camisa, como Nico percebera ser um costume dele quando sentia frio. Nico não se importou, também estava sentindo frio, mas não esse tipo de frio. Queria acordar Will e pedir mais mil desculpas, mas sabia que ele não deixaria. Então, em meio aquela turbulência, ele caiu mais uma vez no sono.

Se existia uma coisa que Nico sabia reconhecer era barulho. Não qualquer tipo de barulho, mas aquele feito por várias pessoas falando ao mesmo tempo.
Quando acordou, sentindo aquele ruído o arrancando do sonho, a primeira coisa que pensou foi que devia ter um grupo falando muito alto debaixo da sua sacada. Aos poucos, com a consciência retornando, ele lembrou que não estava em casa, e aquele apartamento era muito alto para que aquele ruído chegasse ali em cima.
Nico se mexeu suavemente, percebendo que suas costas estavam contra algo. Alguém. E esse alguém ainda dormia calmamente, com o queixo encostado na sua cabeça e uma mão infiltrada sob a camisa. Foi então que ele se deu conta novamente do que acontecera na noite anterior.
Parecia até mentira.
No seu peito, o colar, não mais tão gelado por causa do calor corporal, escorregou levemente para o lado. Nico suspirou e se virou na cama, ficando de frente para a pessoa às suas costas.
Will dormia profundamente. Seu rosto era uma máscara de paz. Nico se perguntava se ele estava mesmo se sentindo assim. Os cílios louros faziam uma curva bonita, assim como as sobrancelhas relaxadas que eram um tom mais escuro. Também haviam cachos loiros sobre a testa, a pele bronzeada que sempre parecia muito quente, os lábios que Nico suspeitava serem vermelhos por também serem queimados de Sol.
Como Nico acabara com uma pessoa daquela?
Ele segurou a risada.
Não que Will fosse um ser exótico.
Pelo contrário, Nico já vira inúmeros "Wills". Existia um Will em cada canto do mundo. Surfista, loiro, olhos azuis e sorrisos bonitos? Não era esse o padrão do litoral? Acontece que Nico nunca prestou muita atenção nessas pessoas. Durante sua adolescência, desde o começo dela até o fim, seus olhos estiveram voltados para uma única pessoa. E essa pessoa já era suficientemente bonita, e na época, a mais bonita do mundo para Nico. E, assim como Nico dissera para Will, uma pessoa inalcançável. Eles sempre pareciam inalcançáveis.
Como deuses gregos, para que um mortal pudesse ter sua atenção você tinha três opções, despertar o ódio ou o amor deles. Ou então fazer algo muito ridículo. Nico suspeitava que em ambos os casos da sua vida, quando havia despertado a atenção de dois "inalcançáveis" haviam sido por motivos diferentes. Segundo Will, ele se apaixonara na primeira vez que o viu, o que Nico não acreditava. E... segundo o Outro, Nico era uma das pessoas mais intensamente catastróficas que ele já tinha visto.
Intensamente catastrófica.
Sim, haviam sido essas as palavras que ele usara alguns minutos antes de o beijar pela primeira vez. No tempo, Nico achara aquilo romântico. Talvez seus neurônios estivessem afetados, pois, qualquer um que juntasse um mais um, saberia dizer que "catastrófico" não é o que se diz para alguém que você realmente gosta. Talvez para alguém que lhe desperte interesse, mas não sentimentos.
Não que ele também estivesse errado. Naquele ano, especialmente, Nico havia colocado o mundo de cabeça para baixo até que seu pai decidisse o mandar para a Itália morar com uma tia. Junto com um amigo, Nico acidentalmente colocou fogo numa cortina da escola. Acidentalmente é modo de dizer. Leo desafiara Nico a fazer aquilo, e como Nico sabia que Leo era amigo de Percy, fez, mas claro, ele achava que uns tapinhas apagariam o fogo rápido. Só que não foi o que aconteceu. O produto de limpeza das cortinas infelizmente era inflamável. Ninguém se machucou, mas Nico levou bons gritos.
  Por sorte, Nico não foi expulso, mas ficou tendo sessões terapêuticas por um ano, além dos colegas o acharem uma pessoa quieta e estranha, ele havia acabado de por fogo numa cortina, e o medo constante de atentados em escolas exigiam que essas sessões acontecessem.
Mas Nico não estava tentando matar ninguém, estava tentando impressionar um cara. Quão burro um adolescente pode ser?
Depois disso, depois do acidente da sua mãe, que também envolveu fogo, Nico errou a mão em uma rodovia e quase colocou ele e o instrutor da autoescola em perigo, com o carro sendo jogado no meio fio e virado de lado. Por causa disso ele não recebeu permissão para tentar outro teste por dois anos.
Dizer que suas outras escolhas naquele ano também não eram recomendadas não é necessário. Na escola, todos mantinham uma distância segura, menos os seus primos próximos, o que foi bom por um lado, não era isso que Nico estava procurando no início? Em casa, brigava com o pai quase sempre por culpá-lo de não o ter deixado ir atrás da mãe no dia do incêndio, sem usar a razão para entender que não poderia ter feito nada. Sua relação com a irmã ficava mais distante. E então seu pai o mandou para a Itália, onde caiu no fundo do poço. Em um dos natais então, no dia do "intensamente catastrófico", havia uma luz no fim do túnel, mas essa luz sempre era ofuscada por belos cabelos loiros e olhos cinzentos. Annabeth havia entrado em cena como um possível obstáculos, e mesmo com o beijo, Nico sabia que não era a mesma coisa. O poço que se encontrava antes havia sido preenchido de água o suficiente para o fazer sentir que estava voltando a superfície, e por meses, esse poço encheu em feriados, meses de férias, aniversários, sempre escondido, mas vez ou outra Percy voltava e o relembrava que aqueles pequenos momentos não eram invenções da sua cabeça.
E então.
Como tudo que é bom não dura para sempre.
Percy se aproximou dele em um belo dia de verão em Manhattan, no acampamento que seus pais e tios haviam construído para a família, e o informou que ele estava namorando com Annabeth, que gostaria que ele esquecesse tudo aquilo, que fingisse que não havia acontecido, que ele nunca havia tido certeza de nada, e que Nico havia sido de grande ajuda para que ele pudesse se entender melhor.
Grande ajuda.
Nico ficara tão furioso que não conseguiu dizer nada naquele instante. Apenas respirou fundo e soltou um curto e firme:
-Sem problema.
Percy ficara radiante. Ele nunca foi bom em entender as pessoas. Nem ironia. Nem nada.
Como resultado, depois daquela tarde, Nico fez as malas, e informou ao pai que estava voltando para a Itália. Sua seriedade convenceu o pai, apesar de Nico se negar a contá-lo o motivo, só que precisava sair dali urgentemente, que voltaria para a casa da tia e não incomodaria mais. Bianca tentara o fazer ficar, mas acabou decidindo que para a saúde dele era melhor que ele fosse, segundo ela, seus olhos a contavam isso.
Então Nico foi, e voltou tão poucas vezes nos anos seguintes que foi uma surpresa quando ele voltou para um Natal com a família, mas ele estava ainda mais distante e frio.
  Depois desse Natal, apenas o fim do ensino médio e a chegada de Hazel o fez voltar para casa.
Nico deixou um suspiro sair e de repente se sentiu muito sozinho. Ele se aninhou a Will, encostando o rosto na sua camisa. Achava que poderia começar a chorar a qualquer instante se não fizesse isso. Se lembrar daquele anos em que sua mente estava tão instável sempre era difícil, e saber que ainda era tão inseguro era quase tão ruim quanto.
Will se mexeu, apertando-o mais contra ele. Nico enfim se sentiu melhor.
Os dedos de Will começaram a afagar as suas costas suavemente, fazendo pequenos círculos.
-Bom dia. -Nico sussurrou.
-Bom dia. -Will respondeu, com um bocejo. -Faz tempo que você acordou?
  Nico mentiu, balançando a cabeça.
  -Não, acabei de acordar.
  Em resposta, Will o apertou ainda mais no abraço.
  Era estranho como Nico se sentia bem ali. Até algum tempo atrás qualquer demonstração desse tipo estava fora da sua lista. Seu plano de apego emocional havia ido para o brejo.
  -Você está ouvindo um barulho? -Will perguntou.
  Nico esquecera completamente do ruído que ouvira mais cedo depois dos pensamentos terem aflorado na sua cabeça. Ambos parados, ergueram um pouco o pescoço para ouvir. Aquilo pareciam... risadas.
  Nico franziu a testa. Seu pai não tinha amigos para trazer para casa. Talvez fossem vozes da casa vizinha.
  -Não deve ser nada. -Nico disse, se apoiando em um cotovelo e se afastando daquele espaço confortável. -Estou morrendo de fome.
  -Hum. -Will concordou, enfiando o rosto no travesseiro.
  -Você vai levantar comigo ou vai ficar dormindo?
  Will ergueu a cabeça com os olhos ainda apertados de sono.
  -Você me deixa dormir mais um pouquinho?
  Nico até pensaria em dizer que não, apenas para implicar, mas olhando-o ele não tinha coragem. Will parecia já estar dormindo. Ele riu e balançou a cabeça.
  -Claro, durma mais.
  Will sorriu e afundou a cabeça no travesseiro. Parecia muito cansado. Talvez fosse cansaço mental.
  Nico respirou fundo. Sua máxima culpa.
  Ele quis bater na própria testa, mas se conteve e levantou. Os pés tocaram o chão frio e ele repesou sobre levantar, talvez voltar a dormir com Will fosse melhor. Só que o barulho de vozes realmente estava o incomodando. Então ele iria investigar, se não fosse nada, voltaria imediatamente.
  Nico calçou as sandálias e arrastou um pouco os pés no chão antes de chegar até a porta. Sinceramente ainda se sentia cansado. Ele abriu a porta e saiu para o corredor, de repente o ruído havia sumido. Nico franziu a testa, pensando se não havia sido coisa da sua cabeça.
  No mesmo instante que pisou no corredor, sua barriga roncou.
  Mudança de planos então, um sanduíche e depois cama.
  Para andar no corredor ele deu passos mais largos e suaves, afinal, acordar Hazel não era uma boa ideia. Ela ainda era uma criança, e crianças não acordam e pensam em voltar a dormir. O dia é longo para elas.
  Ele chegou na entrada do corredor e parou. No seu campo visual sua sala sempre, sempre, estava o mais vazio possível. Só quê agora sua sala estava tão cheia que tinha gente sentada no chão. Seu cérebro demorou meio segundo para compreender aquilo.
  -Bom dia! -disse Lindsay, sentada no meio do sofá.
  Ao lado dela, para a direita, estavam Piper e Jason, e Para à esquerda, Kate e Silena. Jake e Charles estavam sentados no carpete, jogando... UNO? Já na poltrona se encontrava uma pequena figura de cabelos verdes e colete rosa e verde, atrás dela, encostado na poltrona, havia um rapaz de cabelos loiros e olhos cinzentos. A visão de Alex e Magnus fez Nico arregalar os olhos. Se estavam todos juntos ali...
  -O quê vocês estão fazendo na minha casa? -Nico perguntou, sem intenção de soar grosseiro, mas soando.
  Todos os olhos se voltaram para ele.
  Alex se levantou imediatamente, caminhando até ele com as mãos nas costas.
  -Que falta de educação! Você passa a noite com o amigo deles e ainda os expulsa da sua casa!
  Nico se voltou com olhos ardentes para Alex.
  -E o que você está fazendo aqui?
  Alex revirou os olhos, se aproximou e o deu um rápido abraço.
  -Vamos, você sentiu minha falta. -ele deu dois tapinhas nas costas de Nico e se afastou com um sorriso. -Claro que sentiu, me ligou toda semana. Não seja tão difícil. Encontrei esse pessoal na praia, muito legal que você tenha feito novos amigos e não me contado.
  Nico revirou os olhos.
  -Vocês já começaram? -perguntou Magnus.
  Magnus se aproximou sorrindo. Seus cabelos loiros pareciam mais brilhosos do que nunca.
  -Estamos felizes em te ver, caso Alex não tenha dito.
  -Ah, não. Ele só sabe me acusar. -Nico respondeu.
  Naquele dia, Alex era um menino. Existiam alguns sinais que Nico aprendera com o tempo,  depois de um tempo ele já sabia deduzir isso apenas olhando seu rosto, mas o sinal mais simples era uma pulseira de couro colorido que Alex usava. Verde para menino, rosa para menina, como o colete verde e rosa quê ele usava.
  Alex abriu um sorriso felino. Quando Magnus chegou perto, Nico quis rir. Imaginava se era assim que o viam perto de Will. Alex era menor que Magnus por uns dez centímetros, e menor que Nico por uns cinco centímetro. Só que entre os três, ele resguardava uma personalidade peculiar que ultrapassava os dois outros.
  -Eh... Nico.
  Desviando a atenção dos dois que haviam ocupado seu campo de visão, ele se inclinou para o lado, vendo Lindsay.
  -O Will ainda está dormindo?
  -Está. -Nico respondeu. -Se quiser ir acordar ele...
  -Não, não. Só por curiosidade.
Assim que Lindsay parou de falar, uma voz veio do corredor.
-Minha casa virou uma creche?
De onde Nico havia saído a pouco, apareceu um homem alto de cabelos escuros relativamente longos, próximo a meia idade, pálido como Nico e com manchas roxas no canto dos olhos, como se não dormisse há dias. Hades passou os olhos por todos aqueles jovens na sua sala e soltou um suspiro.
  -São nove da manhã!
  -Tio Hades. -chamou Jason. -Meu pai pediu para avisar que ele vai vir aqui hoje de tarde.
  Hades pareceu ainda mais cansado. Nico segurou a risada, sabia quão introvertido o pai era para não suportar o bom humor dos irmãos mais novos.
  -Ótimo. -ele disse, com a voz cansada. -Por que?
  Jason piscou atordoado.
  -Por que o que?
  -Por que ele vem aqui?
  Jason abriu e fechou a boca como um peixinho fora da água. Era triste ver alguém preso numa situação assim.
  -Porque... ele quer encontrar com os irmãos... -Jason respondeu, mas parecia em dúvida. -Eu acho.
  Hades balançou a cabeça, deu as costas e deu um breve aceno para trás.
  -Bom dia para vocês.
  -Bom dia. -responderam alguns, um pouco hesitantes.
  Alguém só voltou a falar quando ouviram a porta do quarto fechando novamente.
  -Seu pai é pior que você. -comentou Alex.
  -É... -Nico guardou um instante para rir, antes de voltar para o assunto principal. -Afinal, como vocês entraram na minha casa?
Alex abriu um sorriso culpado.
-Eu tinha a chave.
-Como você tinha uma chave?
-Você me deu.
Nico apertou os olhos.
-Você mente como respira.
  Alex revirou os olhos, enfiou a mão no bolso da calça e puxou um chaveiro com duas chaves penduradas.
  -Eu posso ter feito cópias.
  Nico piscou surpreso e tentou tirar as chaves da mão de Alex, mas ele retraiu a mão e enfiou o chaveiro no bolso novamente.
  -Por que eu não posso ter a chave da sua casa? Você não confia em mim?
  Ao seu lado, Magnus suspirou e virou-se para os amigos de Will.
  -Eu cansei de assistir, vocês tem alguma coisa para fazer aqui?
  Jake se levantou do chão, segurando algumas cartas de UNO.
  -Quer jogar?
  Magnus reavaliou suas opções, então deu de ombros e se juntou ao jogo.
  Nico ainda tentava convencer Alex de lhe dar as chaves copiadas quando uma outra porta abriu no corredor. Eles voltaram a ficar em silêncio, imaginando se não era o pai de Nico voltando para brigar com eles. Só que quem apareceu do escuro do corredor foi uma figura alta e atlética, usando uma camiseta preta com um desenho de flor vermelho-vinho quase imperceptível, calças moletom e, contrastando com tudo isso, cabelos loiros cheios de cachinhos.
  Nico teria suspirado com a visão em outro momento. Will com as suas roupas era realmente algo a ser apreciado, mas agora tudo que se passava na sua cabeça era que talvez Will se sentisse constrangido com todas aquelas pessoas esperando por ele.
  -Por que você... -ele parou no meio da frase. Uma das suas mãos cobria o olho direito enquanto o coçava, enquanto o esquerdo se deparava com aquela cena. -Por que vocês estão aqui?
  Jake sorriu para Will de forma provocadora.
  -Dormiu bem?
  Charles o empurrou, indicando que parasse.
  -Viemos aqui saber se você está vivo, seu idiota. -disse Lindsay, cuspindo as palavras com raiva. -O que deu em você pra fugir de uma festa e não avisar a ninguém? Nem uma mensagem, William.
  -Eu avisei ao Jake. -ele tentou argumentar, mas sabia que era em vão.
  -Ao Jake que estava bebado, e eu suspeito que até se não estivesse ele concordaria com você em qualquer coisa.
  -Lindsay, -começou Silena, sutilmente. -Vamos relevar. Ele não vai fazer isso de novo, não é Will?
  Os olhos dela suplicavam para que Will dissesse sim e fizesse Lindsay parar de gritar no seu ouvido.
  -Claro.
  -Viu?
  Lindsay ainda o olhava furiosa, mas começou a abrandar.
  -Da próxima vez eu...
  -Não vai ter próxima vez. -Will resmungou. -Você pode falar mais baixo? Acho que estou ficando surdo. E essa não é a sua casa.
  -Nem a sua.
  -Pelo menos eu sou educado.
  Lindsay riu, para irritá-lo.
  Will ia responder, mas percebeu mais duas pessoas na sala. Pessoas que ele não reconhecia.
  Nico assistiu Will começando a prestar atenção nos seus amigos, e em Alex julgando-o através de olhos bicolores. Magnus estava sentado no chão com Jake e Charles, e olhava Will como se visse um conhecido.
  -Esses são os meus amigos. Alex e Magnus. -Nico apresentou, vendo a expressão curiosa de Will.
  Alex estendeu a mão com um sorriso.
  -Foi comigo que você falou no celular.
  -Eu me lembro. -disse Will, apertando sua mão.
  Alex era estranhamente intimidador, como um gato olhando fixamente para você. Magnus era mais como um Golden Retrivier.
  -Então, de novo, por sua causa, meu amigo estava incomunicável hoje. -disse Alex.
  -Ah, eles sempre ficam incomunicáveis quando estão juntos. -Jake resmungou, com um pouco de ciúme.
  Will riu.
  -UNO! -gritou Magnus, depois tapou a boca com a mão. -Desculpem.
  -Agora que já nos encontraram, -disse Nico, especialmente a Alex. -Ja terminaram a visita?
  Alex riu e fez que sim.
  -Já, já vamos indo. Mas quero conversar com você mais tarde.
  -Claro.
-Vai nos visitar depois, ou vou precisar vir atrás de você toda vez?
  Nico o olhou perguntando-se se aquela proposta era uma boa ideia.
  -Vou lá depois do almoço. -disse Nico.
  Alex assentiu. Magnus se levantou vitorioso no jogo. Juntos os dois se despediram brevemente de todos com um aceno e foram indo embora. Antes de irem, Will percebeu o olhar focado de Alex nele, era igual ao de Jason quando ele e Nico brigaram. Algo entre analítico e raivoso.
  Nico não percebeu isso.
-Seus amigos são engraçadinhos. -disse Silena, franzindo o nariz de modo adorável. -Eles formam um casal fofo.
-Eu achei eles parecidos com vocês. -disse Kate, apontando Will e Nico. -Mas de uma forma mais alternativa.
Nico não ia admitir, mas já tinha pensado nisso. Ver Magnus e Alex era como olhar num espelho um pouco diferente. Apesar de Alex ter um espírito que ele não tinha. Já Magnus e Will eram até parecidos. Era como Nico havia pensado mais cedo, existia um Will Solace em todas as pontas dos Estados Unidos, que quase sempre eram destinados a um Nico Di Ângelo, alternativo ou não, mas claro, não todos, alguns desses eram destinados a pessoas como Silena.
-Vocês já comeram? -Nico perguntou aos demais.
Enquanto os outros assentiram, Jake prontamente negou. Lindsay o deu um chutinho.
-Ele comeu metade dos bacons que fritei essa manhã. -ela respondeu.
Nico assentiu, segurando uma risada no canto da boca. Se virou, pegou Will pelo braço e o levou para a cozinha.
-Como eles entraram aqui? -Will sussurrou quando chegaram na cozinha.
-Alex aparentemente tem uma chave para esse apartamento. -Nico disse, com uma expressão de desgosto. -Vou pegar de volta depois.
-Pode ser útil. -disse Will, apoiando-se no balcão enquanto Nico procurava umas panelas. -O que vamos fazer?
Com um pulo, Nico pegou uma panela na terceira prateleira do armário e a colocou do outro lado do balcão.
-Panquecas. Sei que seus amigos negaram por educação.
Will ergueu as sobrancelhas.
-Você vai fazer pra todos?
Nico abriu a boca, mas enfim assentiu.
-Me sinto culpado, eles ficaram preocupados com você por minha culpa, então... -ele suspirou. -Então vamos fazer panquecas.
Quando Nico ergueu o rosto, Will estava sorrindo para ele com uma mão apoiando o queixo.
-Você dormiu e acordou mais gentil ou eu perdi alguma coisa no meio do caminho?
Nico riu. Realmente, não pensaria em fazer isso antes, mas vendo a felicidade e conspiração nos olhos dos amigos dele, Nico se sentiu um pouco culpado. Gostaria de compensa-los por estarem apoiando Will, mesmo que isso fosse o trabalho deles. Nico fizera um confusão de uma semana e os deixara com um Will cabisbaixo. Um Will completamente diferente do que eles estavam acostumados. E como não queria pedir desculpas verbalmente, que fosse atrás de comida então.
-Vamos fazer as panquecas, certo? Temos que deixar uma pra Hazel.
-E o seu pai?
Nico franziu a testa.
-Tá, para ele e Perséfone também. -Nico suspirou. -Por que eu inventei de fazer isso?
Atrás dele, Will gargalhou.

Summer Strange Love - Solangelo Onde histórias criam vida. Descubra agora