Capítulo Oito

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Emanuelle...

"Não confie nos estrangeiros". As palavras da minha mãe voltaram a me assombrar, porque nada faz mais sentido, do que aquilo. Eu estava confusa, perdida, meus olhos ainda queimam e meu corpo, parece que vai desfalecer, nem sei por quanto tempo andei, nem como cheguei até meu quarto, mas o fiz num modo zumbi. Meu coração estava sangrando, me encolho na posição fetal e fico ali, apertando meus olhos, na esperança que tudo não passe de um pesadelo.
Enganada, usada, era isso realmente que havia acontecido, como pude ser tão burra e por que, dói tanto?

"Você deve ser a Emanuelle, a Brasileira, meu amigo pediu para avisar que teve que voltar para sua família..."

No momento que aquele, cara começou a falar, senti um abismo se abrir sob meus pés, me vi caindo, sem conseguir me agarrar em nada, mesmo ele falando, eu não conseguia ouvir mais nada, me virei, comecei a caminhar perdida, até sentir o primeiro impacto daquela dor, atravessando minha alma.
Hoje faz exatamente uma semana, e ainda me vejo no abismo. Como pude me enganar, fantasiei tudo e acabei cedendo ao impulso. Parada diante do espelho, sorrio debochando do meu reflexo, fui idiota, todo aquele teatro dele, mostrando preocupação, parecia tão genuíno, tudo não passava de encenação. Uma brasileira tonta, virgem, fácil presa, aposto que passou horas se gabando do quanto foi fácil foder a idiota, mais de uma vez. Sinto náuseas com cada pensamento que me assombra.
Ainda enrolada na toalha, me jogo naquela cama pequena, cenário cercado de lembranças. Fecho meus olhos engolindo as lágrimas, mas sou desperta pelo celular tocando. Respiro fundo, antes de atender, eu sabia ser meu irmão Pedro, estava evitando alguns dias, por medo da minha voz entregar tudo.

— Oi?

Um silêncio se estende, sei que ele esta preparando seu ataque.

— O que houve?

Sua voz sai carregada de repreensão.

— Estive ocupada.

Minhas respostas curtas, eram péssimas, mas estava exausta, sem forças para criar qualquer desculpa convincente.

— Te conheço, mana, sei que esta escondendo algo.

Esfrego minha nuca.

— Como esta a mamãe?

Tento mudar logo de assunto, isso parece funcionar, pelo silêncio que ocorre, não sei se isso é bom.

— Pedro?

Um suspirar confirma, minhas suspeitas, um aperto desconfortável começa a crescer dentro de mim.

— Pedro?

— Eu não queria falar por telefone, mas você precisa voltar mana.

Fecho meus olhos. A vida nunca se cansava de me chutar.

— Já comprei minha passagem.

Meu irmão fica surpreso, mas eu não podia revelar, que estava fugindo desse lugar, envergonhada por minha estupidez.

— Já?

— Sim, estou voltando para ajudar você com a mamãe.

— A cirurgia custa caro, mana, mesmo com toda a economia que fiz e a sua, não sei se será suficiente.

Engulo em seco. Eu sabia exatamente o que faria. Pelo meu silêncio, meu irmão percebe e tenta protestar, mas encerro a ligação sem dar tempo a ele.

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                  *********

Brasil...

Dois, dias depois...

Assim que desembarco, vejo meu irmão Pedro, ele estava tão diferente, alto, mas agora estava coberto por músculos, seus cabelos eram mais escuros que os meus, seus olhos puxaram os do papai, num tom que mistura o verde e o azulado do Céu.

— Meu Deus! Olhe para você, por acaso se tornou um dos Vingadores.

Ele sorri e me envolve num abraço esmagador.

— Você parece ter encolhido.

Sorrio contra seu peito.

— Olhe para você, parece uma montanha, as mulheres devem pirar, vendo você de farda.

Meu irmão revira os olhos.

— Vem, precisamos conversar, tenho muita coisa para perguntar, pentelha.

Eu o cutuco com o cotovelo.

— Ei, não abusa da sorte, ainda posso atingi-lo.

Ele solta uma risada, segurando minha mala.

— Golpe baixo, não vale.

Faço cara de ofendida, mas estava me divertindo, senti falta do meu irmão, das suas palhaçadas e de como sempre me faz sorri, percebi que finalmente estava segura, em casa.

Durante o trajeto até nossa casa, observei as ruas, podia me deixar impressionar pelas belas paisagens da Flórida, mas não havia nada comparado as ruas de Salvador. Ao longe avisto o majestoso Farol da Barra, sinto meu coração se inflar, lembranças de meu pai, enquanto passeávamos sobre o ponto turístico, o verdadeiro cartão postal. Inspiro o ar, carregado de nostalgia.

— Senti saudades.

Olho para meu irmão, que dirige em silêncio.

— Vai me contar, o que aconteceu com você?

Tenho vontade de revirar os olhos, mas sabia ser em vão, meu irmão era policial, tinha esse faro irritante, no final, eu só podia continuar adiando, mudando o rumo da conversa, como agora.

— Vai me contar, sobre essa cirurgia, a qual nossa mãe precisa fazer?

Vejo seus dedos ficarem brancos, conforme ele aperta o volante.

— O coração dela, esta cada vez mais fraco, o médico disse, que a única saída seria um cateterismo, mas para isso, é preciso aguardar, mas nossa mãe não tem tanto tempo, foi por isso, que o médico sugeriu um procedimento pago, num hospital particular.

— Deus, e quanto custa isso?

Meu irmão respira fundo, já posso sentir o impacto da sua resposta.

— Em torno de Oito mil, só o procedimento.

Sim, pode me chutar vida, porque tenho medo de saber, quanto custara a clínica.

— Deus, nem juntando todas as minhas economias, chegaria a metade disso.

— Eu sei, tenho corrido, feito de tudo, mas nada esta ao meu alcance, me sinto inútil, incapaz de salvar nossa mãe.

Fecho os olhos, sentindo meu peito se apertar. Olhando para meu irmão agora, eu vejo o peso que deixei sobre ele.

— Me desculpe!

Digo, com a voz baixa.

— Não faça isso, mana.

Esfrego minha testa, olho pela janela, consigo ver a pequena viela familiar, aquela pequena inclinação que ao final, se encontra nossa casa. Observo que os muros ganharam novas pinturas, contudo, o rosto era o mesmo, em cada figura, cercado por pessoas, durante aulas de capoeira, ele ainda estava sobressaindo sobre todo o lugar.

— Parece que algumas coisas, não mudaram.

Digo, sentindo o amargor.

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Mister PrazerOnde histórias criam vida. Descubra agora