Capítulo Onze

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Drake...


Eu ainda estava tentando entender, que porra havia acontecido, desde que peguei Molly, no meu quarto, minha mente virou uma grande bagunça. Eu nunca dei a entender qualquer situação entre nós, pelo contrário, acreditei que o nosso amor pelo meu irmão, era o que nos mantinha próximo. Depois que ela saiu correndo do meu quarto, fiquei aliviado por viajar. Agora estava finalmente, desembarcando no Brasil, onde outra lembrança me assombrava.

— Fiquei sabendo de uma festividade popular, aqui em Salvador, pensei que poderia ser um ótimo começo, haverá muitos empreendedores no lugar.

Movo a cabeça, em resposta a Jake.

— Você parece bem distraído, algo o incômoda?

Ele pergunta, com uma sobrancelha erguida.

— Só estou cansado.

Minto, esperando que ele aceite a resposta curta.

— Você me parecia, empolgado com essa viagem, o que mudou?

Claro, que seria pedir demais, Jake insiste em questionar minha súbita mudança de humor.

— Nada mudou, só estou realmente cansado.

Volto minha atenção para a paisagem que passa pelos meus olhos. Era a primeira vez que vinha ao Brasil, já estava impressionado com a mudança rápida nas ruas.

— Sabe, Drake, eu sei que essa decisão de ajudar nos negócios de seu pai, foi uma mudança trágica, inesperada, mas você esta fazendo um ótimo trabalho, não se cobre tanto.

Sorrio.

— Diga isso, ao meu velho, você sabe como é importante essa busca pelo investidor perfeito, recuperar o título do melhor cultivo de café, é como uma missão da sua vida inteira.

Jake sorri, mas concorda.

O carro finalmente para de frente a um hotel luxuoso.
O nome Fasano, toma conta da fachada luxuosa.

— O hotel, foi bem recomendado.

Jake diz, enquanto nossas malas são carregadas, há uma escada que dá acesso a grande entrada. O prédio era impressionante, possuía sete andares, as paredes em granito, davam o ar imponente, havia dois lustres majestosos, que complementam o ambiente, algumas madeiras escuras, refinam mais o lugar.
Já no meu quarto, aprecio a vista do imenso mar, não possuía aquela cor azul que eu estava acostumado, porém, era fascinante, seu tom era quase como uma tela pintada, em tamanho realista. Tudo que eu queria, era tomar um banho e tentar relaxar um pouco.

                                                           ******

            Acordo arfando como das outras vezes, meus sonhos sendo invadido por ela, acredito que o fato de esta no mesmo País e na mesma cidade, estava me afetando mais do que esperava. Esfrego meu rosto e salto da cama, o dia estava começando a clarear, e logo Jake estaria me ligando. Durante o banho, tentei relaxar, mas minha mente estava confusa, assim como minha vida, como seria assim que eu retornasse, a convivência com Molly, estava totalmente fora de cogitação, contudo, havia meu sobrinho Dean, como eu conseguiria manter a distância, eu era a única figura masculina, a qual ele considerava e tinha uma grande admiração, próxima a ele. Me enrolo na toalha ainda irritado com toda a situação que minha vida se encontrava.

Me arrumo, pronto para o primeiro compromisso, quem sabe assim, eu conseguiria me esquecer de tudo.

Jake me cumprimenta assim que me vê.

— Bom dia. "Mister".

Reviro meus olhos em resposta.

— Você não precisa me chamar assim, não aqui.

Ele arqueia uma sobrancelha e sorri.

— Ai, é que você se engana, esse título é muito propício para os negócios, impõe confiança.

— É esnobe.

Jake sorri.

— Isso depende de quem o possuí.

Outra revirada de olhos, em resposta a sua tentativa de ser engraçado        

                    *******

O primeiro dia foi tranquilo, tivemos um bom aproveitamento em nossas visitas, o que deixará meu pai feliz. Hoje, Jake estava muito animado com o tal festival, foi muito instigado por um de nossos contatos, então, mesmo que eu diga não, ele ainda insiste. Após repensar nas horas que teria que ficar ali, com minha mente confusa, decido enfim me juntar a ele.
A praça, no centro, fora tomada por uma iluminação impressionante, várias barracas decoradas com pessoas sorrindo, fiquei apenas observando o quão a felicidade, era algo genuíno entre o povo brasileiro. Podia se notar os vários turistas em meio a multidão.

— Veja, o lugar esta realmente, lotado, parece que o festival, é bem popular.

Pelo número de pessoas, não precisava ser um gênio para concluir isso.

Jake parece muito interessado em tudo a sua volta e quando digo tudo, percebo a troca de olhares entre ele e uma moça na barraca, que parece ser de alguma categoria de jogos.

— "Mister", se não se importar, vou ficar um tempo por aqui.

Arqueio uma sobrancelha, o encarando duramente.

— Se for para evitar que me chame assim, pode ficar onde quiser.

Digo, já me afastando. Sigo em meio a multidão, desviando das pessoas que andam distraídas. Sou atraído pela grande roda girando, há uma grande fila, incluindo crianças.

Há um grande agito nessa parte da festa, creio que tenha a ver com os brinquedos. Passo em meio a grande fila tentando chegar a um ponto silencioso, distante de toda a agitação, mas paro, sendo atraído por uma silhueta, seus cabelos tinham aquela cor de terra, sempre que a refletia, parei sentindo a tensão me invadir. Eu devia esta imaginando coisas, até ela se virar.

Meu coração se apertou de uma forma, que senti necessidade de me curvar. Não havia ar suficiente para meus pulmões, porque diante de mim, estava ela, a razão da minha insônia. Três anos, não foram suficientes para arranca-la de dentro de mim. Me movo, ainda sentindo meu corpo estremecer, minha alma sendo sugada, a cada passo que dou na direção dos olhos verdes arregalados.

— Emanuelle!

Seu suspirar e o modo como seu lábio inferior, se prende conforme ela morde, me faz ficar alerta. Palavras não surgem nos minutos que se passam, contudo, a dor era gritante em seus olhos. Eu estava prestes a abrir minha boca, quando uma vozinha esbaforida, rouba minha atenção. Ao me virar, senti que minha alma fora arrancada, olhinhos verdes me encaravam com curiosidade. Naquele momento, senti meu peito se afundar, não sabia o que estava acontecendo, mas a onda de sentimentos que me tomou, fora como um grande "tsunami".

— Mamãe?

Eu não entendia o que a garotinha falava, só conseguia ver a agitação, o modo como seus olhos brilham ao olharem para Emanuelle e o mesmo se via nos olhos de Emanuelle, um cintilar, uma adoração.

— Bonequinha, vamos embora.

Ela segura na mão da garotinha que continua me olhando, havia algo naqueles olhos que me fascinam.

— Emanuelle!

Ela se move, segurando a criança que agora protesta.

— Emanuelle, quer parar um segundo.

Ela para e me lança um olhar carregado de raiva.

— Não tenho nada para falar.

Ela tenta se afastar, eu não estou disposto a facilitar, seguro seu braço a fazendo parar.

— Por favor, espere!

— Esperar?

— Preciso falar com você.

— Falar comigo, esta um pouco atrasado.

Ela se livra do meu toque, mas não de mim.
A menininha volta a falar.

— De quem é essa criança?

— Não é da sua conta.

Para minha surpresa, a garotinha fala, mas agora, consigo entender perfeitamente.

— Quem é você?

Ergo uma sobrancelha a encarando surpreso.

— Sou um amigo da Emanuelle.

Ela abre um sorriso.

— Amigo da mamãe.

Em choque, eu a encaro. Estava perdido na última frase, girando na minha mente como um redemoinho. Me viro para buscar algo que faça sentido, olhando nos olhos aflitos dela.

— Mãe?

— Isso, não é da sua conta.

Ela pode, está magoada, me odiando profundamente, em partes ela tinha todo o direito, mas porra, eu passei esse tempo todo, sendo assombrado por todas as minhas escolhas. Quando não era meu irmão, era ela, sempre ela.

— Por favor, me dê uma chance.

Meu desespero era evidente, encontra-la aqui, em meio a multidão, tinha que ser um sinal. Vejo a incerteza em seus olhos, quando olha de mim para a garotinha.

— É o aniversário dela, prometi uma noite divertida, não vou estragar isso.

— Aniversário?

Emanuelle solta um suspiro longo, parece cansada.

— Sim.

Fico em silêncio observando a garotinha, cada traço em seu rosto, seus olhos expressivos, os cabelos tinham um tom mais acobreado, não conseguia dizer mais nada, inerte enquanto fazia minha minuciosa busca, quando ela sorriu para mim, notei uma covinha, minhas pernas voltaram a falhar, e mesmo estando ao ar livre, estava impossível respirar.

— Qual a idade dela?

Emanuelle desvia seus olhos, isso é como um soco certeiro em meu estômago.

— Emanuelle?

Insisto impaciente.

— Três anos, ela está completando hoje.

Cambaleio para trás, observando meu mundo todo virar uma tremenda montanha-russa, confuso, assustado.

— Por que ela consegue me entender?

— Ela não entende tudo, só o básico.

— Qual o nome dela?

— Eva, mais alguma pergunta?

Podia sentir a raiva destilada em suas palavras. Eu tinha muitas perguntas, muita coisa para se falar, mas havia algo que começava a me sufocar, apertando minha garganta, a tal ponto de queimar.

— Eu..eu...nós, digo, ela é...

Emanuelle olha para a garotinha que continua sorrindo.

— Ela é minha filha.

Isso ainda, não respondia a minha pergunta.

— Não foi isso, que perguntei.

Um pouco irritada, ela solta um suspiro, agora percebo uma certa melancolia.

— O que exatamente você quer saber?

Ela estava dando voltas, isso só aumentava minha frustração.

— Você sabe onde quero chegar, Emanuelle.

— Não vou ter essa conversa aqui, nem hoje.

Esfrego minha testa, sentindo a raiva ferver, então volto a atenção para a garotinha, ela está me olhando com a testa franzida.

— É o aniversário da minha filha, não vou estragar isso para ela.

Agora sou eu, que respiro fundo, tentando resgatar meu bom-senso.

— Tudo bem.

Digo, tentando manter a calma. Emanuelle se vira, e eu a sigo, ela para e me encara com a sobrancelha levemente arqueada.

— O quê?

Gesticulo com as mãos.

— O que esta fazendo?

— Eu disse que deixaria a conversa para depois, não que a deixaria.

Ela revira os olhos, mas sua carranca logo se transforma num sorriso direcionado a garotinha.

— Ela é linda.

Digo, sentindo meu coração se aquecer.

— Sim, é meu orgulho.

Vejo o brilho em seus olhos, o orgulho evidente em seu sorriso.

— Ela quer ir ao cavalinho, vou comprar as fichas.

Franzo a testa.

— Eu compro.

— Não precisa.

Eu paro e cruzo meus braços a encarando.

— Eu disse, que compro.

Ela continua me lançando mil farpas, conforme me encara.
Ignoro e sigo até a fila, depois que compro as tais fichas, sob o olhar de Emanuelle, volto ao seu lado.

— Eva!

Digo o nome, por algum motivo bobo, não consigo conter um sorriso.

                      ******

Durante todo o tempo, me peguei olhando para às duas, o modo como Emanuelle, ainda era aquela jovem linda, ao mesmo, tempo, tão madura, segura de si. O som das risadas das duas vinham diretamente ao meu coração. Estávamos diante de uma roda formada por pessoas, batendo palmas ao som de um instrumento que nunca vi antes.

— Vai começar a roda de capoeira.

Me lembro sobre algo, que ela mencionou sobre isso.

— Isso, é a luta?

Ela sorri, mas logo murcha, seus olhos estão vidrados em algo, sigo a direção e paro em um, cara alto, ele tinha cabelos presos num coque, olhos que me incomodam ao olharem para ela, estava com um sorriso que provoca raiva. O modo como ele esta encarando Emanuelle, faz meu sangue ferver de raiva.

— Quem é aquele, cara?

Minha mente começava a criar imagens, teorias malucas.

— Não é ninguém.

— Ele está te olhando, não me parece que seja alguém desconhecido.

— Isso não importa.

E lá esta ela fugindo novamente, mas eu a sigo.

— É ele?

Ela para e se vira para me olhar.

— Ele quem?

Cruzo meus braços e movo a cabeça em direção da garotinha, os olhos de Emanuelle, ficam úmidos.

— Esta querendo saber, se aquele cretino é o pai da minha filha?

Movo os ombros, como se fosse óbvio. A reação a seguir, me faz sentir um completo idiota, a primeira lágrima corre pelo seu rosto. Um, cara se aproxima, havia uma moça ao seu lado, ele olha de mim para Emanuelle, seu rosto se endurece conforme ele caminha apressado na minha direção.
Ele para e olha, depois fala algo, que não consigo entender, mas sua raiva, era algo que não tinha como confundir. Ele pega a garotinha e segue com a moça ao seu lado, seus olhos me lançam ameaças antes dele seguir.

— Quem é ele?

— Meu irmão.

Ela limpa seus olhos, sinto um idiota por faze-la chorar.

— Me desculpe, por...

Ela ergue sua mão, num (tapa) certeiro, fazendo muitos rostos se virarem na nossa direção.

— Ela é sua, seu cretino.

Não sabia, que palavras podiam doer tanto, até agora. O tapa, que ela me deu, não havia causado tamanha dor. Não vou mentir, claro que essa possibilidade, foi a primeira que passou pela minha mente, havia algo nos olhos daquela garotinha, que fazia meu coração transbordar, mas ver aquele, cara, sorrindo para ela, despertou ciúmes em mim, ele podia ser o namorado dela, já se passara, três anos.

— O quê?

Ela se vira, seguindo apressada pela multidão, mas isso não havia acabado, não agora que todas aquelas sensações ao olhar para a garotinha, despertará em mim, agora eu conseguia entender o que eu via ao olhar nos olhos dela, era eu.
Alcanço ela antes dela chegar a uma espécie de Praça.
Eu podia ouvir sua respiração falhando, ao se virar, vi as lágrimas com toda dor estampada em seus lindos olhos.

— Por quê?

Sinto meu peito se afundar, foram anos sonhando com essa mulher, em todas as minhas fantasias, eu a encontrava a beijava, fazia amor, mas estava tudo diferente.

— Desculpe, eu só quero entender.

— Entender o quê, Drake?

Sinto vontade de puxa-la contra meu peito.

— Emanuelle?

— Entender que você foi embora, não se despediu, não voltou...

Ela solta um soluço, que corta meu coração.

— Entender, que te entreguei muito mais que meu corpo, para depois você se livrar, entender que tive que vim embora, encarar uma cirurgia de risco da minha mãe e logo depois, descobrir estar grávida, sozinha, apavorada...

— Eu tenho uma filha.

Digo em meio as lágrimas e um sorriso bobo.

— Parece que enfim entendeu.

Começo a caminhar de um lado a outro, sentindo uma grande explosão no peito.

— Ela não sabe nada sobre você, ninguém na minha família sabe, nunca contei o que aconteceu.

Eu estava prestes a revelar para ela, tudo, quando a voz de Jake, soa atrás de mim.

— Mister, Cadman, esta tarde.

Emanuelle me encara confusa.

— Ainda não, Jake.

— Drake!

— Eu preciso de mais uns minutos.

Ele concorda, embora possa ver sua expressão intrigada de mim para Emanuelle, então se afasta. Agora só havia eu e ela, com muitas questões para resolver.

Mister PrazerOnde histórias criam vida. Descubra agora