Capítulo Dez

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Emanuelle...

O sol esta castigando, caminhar pelas ruas que seguiam até minha casa, era como andar num imenso labirinto, as vielas eram estreitas, nos lembrava uma imensa colmeia, com várias vielas interligando cada uma delas.
Não consigo conter um sorriso assim que a vejo. Eva estava com dois anos, logo completaria três, sinto um estar angustiado ao olhar nos olhos verdes da minha garota, sentir a culpa por pensar naquela loucura. Hoje eu vejo que ela foi meu Anjo de luz, foi onde busquei forças para seguir. Meu irmão Pedro, estava noivo de Sintia, depois que conseguimos ajuda com muito empenho dela e amigos, conseguimos completar o dinheiro para a cirurgia de nossa mãe. Agora, eu tenho um vislumbre daquela mulher forte e determinada, minha mãe ressurgiu das cinzas, disposta a cuidar de Eva, para que eu pudesse trabalhar.
Estou quase no último degrau, quando ouço aquela voz que insiste em me perseguir. Hugo Valdez, não desiste, ainda tenta me persuadir a casar com ele, se não fosse pela ajuda comunitária, eu quase teria feito, afinal, não tinha escolha, ele ofereceu pagar as despesas da cirurgia, em troca, teria que ceder. Meu irmão Pedro, não o engole e sempre reforça para manter a distância dele.

— Oi, princesa.

Tenho vontade de revirar os olhos, mas apenas respiro fundo e tento passar por ele, falho, pois, ele bloqueia o caminho.

— Porque a pressa?

Eu queria chuta-lo, mas me seguro.

— Minha filha, esta me esperando.

Ele curva o lábio num meio.

— Um dia, princesa, vou cuidar de você e da sua filha.

Argh! Cretino. Consigo me desvencilhar do ser pegajoso e me apresso até esta na diante da minha menina, ela ergue seus bracinhos gordos, e eu a pego, suas bochechas rosadas, olhos de um verde, que dó havia visto em uma pessoa, meu peito doí, rapidamente me forço a afastar qualquer lembrança.

— Oi! bonequinha da mamãe.

Ela abre aquele sorriso, fazendo meu coração encher de amor.

— Mamãe, princesa.

Beijo a pontinha do seu nariz arrebitado.

— Cadê a vovó?

Antes que ela pudesse responder, ouço a voz da minha mãe vindo na nossa direção.

— Estou aqui, filha.

Minha mãe estava com seu avental, lenço amarrado, no formato de um turbante, estava com um sorriso que fazia tudo se iluminar.

— O que vocês duas, andaram aprontando?

Pergunto, arqueando uma sobrancelha.

— Doces!

Eva diz erguendo os bracinhos. Sorrio e a coloco no chão, estava precisando de um banho urgente.

— Vou tomar um banho, depois ajudo a senhora.

— Pode descansar, tenho minha ajudante aqui.

Minha pisca para Eva, e ela não disfarça seu sorrisinho. Era em momentos como esse, que tudo valia a pena. Minha filha, não me deu apenas forças, deu um motivo para minha mãe sorrir, confesso que quando contei, que estava grávida, fiquei apavorada, esperando uma enxurrada de críticas, então, algo aconteceu. Minha mãe me abraçou e disse que estaria comigo, resultado, Eva trouxe alegria, luz para nossa família.
Corro para o banheiro, retiro minha roupa e ligo a ducha, a água alivia a quentura em minha pele, refrescante e aquela sensação de limpeza, era muito agradável, todo o peso de horas de trabalho, se esvaíram com o banho.

                       ********
Quando retorno, encontro minha mãe e Eva, rodeadas de fornada de biscoitos.

— O que é tudo isso?

Gesticulo em volta do exagero.

— Filha, se esqueceu que temos a feira cultural?

Claro que não havia me esquecido, a feira cultural, era um evento importante, regado por danças, apresentações, comidas típicas, resumindo, atraia muitos turistas.

— Claro que não, só não sabia que a senhora estava tão animada assim.

Gesticulo em volta da montanha de biscoitos. Minha mãe sorri.

— Eva esta animada querida, o aniversário dela é na semana que vem, no início das festividades.

Olho para minha menina, já se passará tanto tempo, três anos, era essa a idade que logo completaria.

— Eu sei, minha bonequinha esta crescendo.

— Então, a feira estará recheada de diversão, como vou estar na barraca, você pode levar ela, para se divertir.

Eu não tinha condições de dar uma festa para minha menina, todo o dinheiro que eu vinha ganhando, aplicava na casa, não era justo, minha mãe ter que lidar com todos os custos.

— Vamos nos divertir muito, né bonequinha.

Beijo a bochecha da minha menina, e acaricio seus cabelos de tom acobreado.

Passo os próximos minutos, ajudando a decorar e embalar os biscoitos. Quando o trabalho enfim foi concluído, começo a preparar o jantar dando uma folga para minha mãe, eu não gostava da ideia dela se esforçando tanto, mesmo apos dois anos da cirurgia bem sucedida, eu sempre pegava no pé para ela não se esforçar tanto.

Da janela da cozinha pequena, me pego olhando para o farol ao longe, meu coração se enche de melancolia ao me recordar de meu pai, às vezes, me pego imaginando em como seria se ele estivesse aqui, a risada de Eva, só reforça meus pensamentos, ele com toda certeza a levaria para um passeio no farol. Corto os legumes, ainda distraída, eu quero evitar minha mente de ir, vagar até Drake, mas era impossível, a lembrança dele, não estava cravada apenas em minha mente, havia Eva, o fruto que sempre me faria questionar, por onde ele anda, será que encontrou uma nova aventura depois de mim, ou será que esta, casado, feliz.

— Eu pagaria um milhão pelos seus pensamentos, mas sei que não é preciso.

Abro um sorriso para meu irmão petulante, sempre deslizando sem fazer o menor ruído.

— Sério, porque você não tem todo esse dinheiro.

O provoco, ele apenas sorrir.

— Então, o dia que resolvo jantar em casa, é você que vai para a cozinha.

Coloco os legumes para cozinharem no vapor e volto minha atenção para o molho a bolonhesa.

— Qual é, você adora minha comida.

Ele revira os olhos e se move parando diante do fogão.

— O cheiro, pelo menos é de algo comestível.

O ameaço com a colher de madeira, mas ele é salvo por Sintia, sua noiva e minha melhor amiga.

— Cunhada, não o deixe te irritar, ele fala a mesma coisa da minha comida, no final, lambe o prato.

Meu irmão descansa uma mão sobre o peito, tão dramaticamente.

— O que nós, não fazemos por amor.

Sintia da tapinhas em seu ombro se fazendo ofendida.

— Que tal colocar os pratos na mesa, enquanto falo mau de você para minha amiga.

Pedro mostra a língua, tão maduro, eu sei.

— Não se esqueça, que ela é minha noiva.

Ele fala enquanto vasculha os armários, aproveito quando ele se afasta e tento por a conversa em dia.

— Então, vai aproveitar essa feira cultural, para conhecer um bonitão?

Minha amiga fala empolgada.

— Não tenho tempo para um relacionamento, agora.

Eu venho repetindo essa mesma resposta há dois anos, Sintia, como meu irmão e minha mãe, nunca se convenceram.

— Ok, primeiro, por que exatamente você insiste em continuar fugindo?

Eu sempre desvio meus olhos, porque neles, revelam muito mais do que eu pretendo deixar se mostrar.

— Preciso cuidar da minha filha, minha mãe.

Ouço o suspirar dela.

— Isso ainda não é uma resposta muito convincente, afinal, todos estamos aqui, prontos para se ajudar.

— Eu sei, mas você e meu irmão, estão prestes a se casarem, vão querer construir a própria família.

Ela revira os olhos e cruza seus braços.

— Em primeiro lugar, vocês são a família do Pedro, e se tornou a minha, não vai simplesmente se livrar de nós, estaremos sempre por aqui.

A voz do meu irmão nos interrompe.

— Isso é verdade, mesmo que tenhamos que comer sua comida.

Eu poderia chuta-lo, mas em vez disso eu o abraço.

Mister PrazerOnde histórias criam vida. Descubra agora