Capítulo vinte e seis

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Drake...

As horas voaram e o dia se foi. Estava na sala de espera algum tempo, minha mãe estava abatida e eu não sabia o que fazer para, acalma-la.

— Por que ninguém vem conversar conosco?

— Mãe, o doutor disse que os exames, levariam um tempo. Fique calma.

Era difícil aguardar, porém é necessário. Meu pai, havia passado muito mau, quando chegou ao hospital estava desacordado. Tudo indica que ele sofreu um Avc, mas os médicos pediram para aguardar, teriam uma carga de exames para fazer, só nos restava, esperar.
Mais alguns minutos longos, e finalmente o médico responsável surge. A gente nunca consegue desvendar a expressão de um médico, até ele iniciar a conversa com frases como, " Eu sinto muito", " Não tenho boas notícias ", e por aí vai.

— Doutor, posso pedir para cortar as frases feitas e ir direto ao assunto?

O doutor parece surpreso com minha atitude, porém, eu estava cheio de conversas com rodeios, isso só prolonga nossa angústia.

— Seu pai, sofreu um aneurisma, fizemos alguns exames, encontramos algumas alterações, isso pode ter contribuído a complicar a situação.

Minha mãe se afoga em lágrimas, preciso abraça-la tentando lhe passar segurança.

— Pode ser mais específico?

O doutor respira fundo e continua.

— As possíveis sequelas são as mais variadas possíveis, já que praticamente qualquer estrutura cerebral pode ser atingida. Mais frequentemente, notam-se déficits motores, déficits na fala e déficits cognitivos.

Meu mundo girou tão rápido, que precisei apertar minha mãe. Eu já não sabia mais, se era eu que estava dando apoio ou buscando.

— Então, está nos dizendo, que basicamente, precisamos aguardar?

— Eu sinto muito, mas, sim.

Meu mundo estava sendo devastado, deteriorado, e ver o estado da minha mãe, fez com que minhas forças se esvaissem.
Eu havia passado parte do dia e da noite no hospital, precisava dar um pulo até em casa, tomar um banho e ver como andam as coisas, contudo, não podia deixar minha mãe sozinha, eu não tinha a quem recorrer, senão, Jake.

— Eu volto logo, prometo.

— Não se preocupe, tome um banho e coma algo, vou ficar aqui, até você voltar.

Minha mãe estava relutante, não queria sair do lado de meu pai, mesmo ele ainda estando adormecido. Tentei convencê-la de ir comigo até em casa, mas foi inútil, por isso tive que pedir a Jake.

— Ela está irredutível.

— Ela só quer está ao lado dele, assim que ele acordar.

— Eu sei.

Após me despedir de Jake, corro até o estacionamento, tento ser forte ao entrar no carro, falhei miseravelmente. Um pânico que não sentia a muito tempo, me acertou em cheio, lembranças obscuras do meu irmão, toda aquela dor. Soco o volante tentando me livrar da dor, claro que foi em vão. Respirei fundo e dei partida.

*********

Estava tudo escuro em casa, apenas um silêncio assombroso, o cheiro do hospital estava impregnado em mim. Subi os degraus, quase que me arrastando, estava com o pé no último, quando algo me chamou a atenção. Eu havia passado o dia todo tão submerso, que não parei para ligar e o que me surpreendeu, foi que Molly, não havia me ligado, em momento algum, nem para perguntar sobre Drake.
Talvez os Anjos tivessem aliviado essa, da minha vida.
Empurrei a porta do quarto, estava tudo escuro, tentei não fazer barulho, me movi até a beirada da cama e acendi o abajur. Fiquei surpreso, ao perceber que a cama estava fazia. Eu estava tão perturbado que não notei a figura do outro lado, encolhida na poltrona.

— Anjo, que susto!

Acendo a luz, finalmente revelando seu rosto, o primeiro impacto, foi como levar uma facada, direto no coração. Emanuelle estava com os olhos vermelhos, distantes, senti um desespero me dominar, me movo rápido dando a volta na cama, congelo no lugar, com suas palavras.

— Drake, pare!

Meus olhos desviam rapidamente até as
malas ao lado da poltrona. Aliviado, claro, era somente a viagem até o Brasil, então, porque esse ar frio, distante.

— Anjo, eu deveria ter ligado, desculpe...

Comecei a me desculpar, tentando explicar, mas novamente sou pego de surpresa.

— Você mentiu para mim...

Havia acontecido algo, ela estava distante.

— O que houve?

Ela solta uma risada, fazendo calafrios percorrerem por todo meu corpo. Esse dia estava cada vez mais estranho.

— Anjo, do quê está falando?

Tento me aproximar, mas ela novamente me barra.

— Pare!

— Por favor, quer me dizer o que aconteceu?

— Você dormiu, com ela?

Minha cabeça estava girando e o cansaço fez com que meus sentidos se embaralhassem, não fazia o menor sentido, tudo que ela estava falando, até a porra da minha mente, processar tudo.

— Cadê o Dean?

— A mãe dele, sua cunhada, amante, seja lá o nome que queira dar para essa merda, esteve aqui mais cedo.

Fechei meus olhos, senti meu estômago embrulhar. Talvez os Anjos, estivessem pouco ligando para a merda da minha vida. Julgo que todos estivessem reunidos zombando da minha vida sendo totalmente arruinada.

— O que ela te contou?

Emanuelle fica de pé, se aproxima me olhando friamente.

— Tudo que você não me contou. Dos anos que dividiram, ah, claro, do filho que está esperando...

As palavras de Jake, nunca fizeram tanto sentido, mas agora, o estrago estava feito, tudo que me resta é contar a ela, o que exatamente aconteceu.

— Perdeu a fala, ou não tem uma boa mentira no momento, aliás, aposto que estavam rindo de mim, juntos até agora.

— Eu estava no hospital, com a minha mãe...

— Claro!

Doeu, ver que ela já tinha um julgamento formado, que meu amor não era suficiente, mesmo todos esses dias, quando a olhei nos olhos e repito que a amo.

— Você ouviu Molly, posso ter o direito de contar a verdade, mesmo sabendo que não adiantará, preciso fazer.

— Não preciso das suas mentiras, Drake, isso foi um grande erro.

Aquilo atravessou minha alma, dilacerando-a.

— Vou contar, do mesmo jeito, porque estou cansado de ser julgado por todos.

Ela cruza seus braços e eu respiro fundo antes de começar.

— Descobri, estar sendo drogado, durante esse último ano, nunca percebi nada, porque sempre achei que meus sonhos, que eram preenchidos por você, fosse a vontade que eu tinha de encontra-la. Eram sempre reais e eu acordava ofegante. No último fui surpreso, acordei com Molly...Ela...estava com meu pau na boca. Eu devia ter me livrado dela, naquele dia, mas ela usou o Dean, não tinha como explicar a ele. Então viajei para o Brasil. Ela insiste em dizer que está grávida, mas não há exame para comprovar, eu e Jake estamos tentando fazer tudo pelo meio legal.

Respiro fundo, tentando acalmar meu coração. Seus olhos permanecem duros, sem uma única palavra, eu estava exausto e precisando de um banho quente. Me viro para seguir até o banho, mas falo, antes de prosseguir.

— Ah! Passei o dia, numa sala de espera, tentando controlar as lágrimas da minha mãe. Meu pai teve um aneurisma, até agora não fazemos ideia das sequelas. Deixei minha mãe com Jake, porque precisava chegar aqui, receber um abraço e me permitir sofrer, claro que você pode ligar para o Jake e confirmar toda a história, já que meu amor, não parece ser suficiente.
Me apresso até está na segurança do banheiro e tranco a porta, me permitindo, chorar feito uma criança, encolhido no chão daquele banheiro frio.

*********

Mister PrazerOnde histórias criam vida. Descubra agora