Termos e condições

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McCartney piscou algumas vezes em confusão e espanto. Deu um passo para trás e mais parecia querer que o avatar falasse alguma coisa que não o deixasse preocupado. As últimas palavras proferidas confirmavam um problema.

-Por que a cara, Paul? –Sorriu inclinando a cabeça, pondo as mãos nos bolsos da calça. –Alguma coisa despertou aí dentro?

-Não posso continuar com isso. –Afirmou preocupado.

-Ora, por que não? Acho que estamos indo muito bem, sem pressões, sem conflitos...

-Não, não... –Sacudiu a cabeça. -Isso implicaria dizer que eu tenho alguma conexão imprópria com você; seria uma dinâmica diferente da que temos dentro da NYCZ. Isso não pode acontecer, é terminantemente proibido.

-Primeiro, eu não sou real; segundo, as regras se aplicam ao seu mundo lá fora; terceiro, nenhuma delas proíbe você de ter alguma conexão (mesmo que seja sentimental) com o seu mestre. O que está no manual é a isenção de emoções/sentimentos na execução de trabalhos, não no trabalho. Nas três situações você não desobedece nada e nem ninguém.

-O que você está sugerindo com isso tudo? –Franziu o cenho.

-Que você relaxe e aceite meus termos.

-Mas que termos?

-Nada diferente da ajuda que você me ofereceu. Só um upgrade. –Deu um passo a frente. Ficou ainda mais próximo do aprendiz, observando cada contorno daquele rosto galante. –Apenas de sermos livres aqui, de expandir nossos conhecimentos... –Retirou uma das mãos do bolso e levou até o lóbulo daquela orelha graciosa. Massageou delicadamente ali por alguns instantes. –Mostrar quem realmente somos, onde estamos e até onde podemos ir.

-Isso me parece muito arriscado. –Lançou inquieto, virando o rosto e saindo de perto do avatar mais uma vez. –Pode haver reflexos na minha realidade. Eu estou aqui, na NYCZ, para receber ordens e fazer meu trabalho em agradecimento. Servi-lo pelo tempo que precisar.

-Oh, quão agradecido é este garoto! E tão obediente! Palmas para ele, quase um anjo das antigas escrituras cristãs! –Sorriu debochado. –Você quer obedecer ordens? Tudo bem, por que não começa tirando a roupa?

-O que? –Indagou confuso.

-É, tira a roupa. –Apontou para as vestes do moreno com o indicador. –É uma ordem. Vai desobedecer?

-Não há sentido em obedecer ordens aqui.

-Por que não haveria? Serve como um belo treinamento. Você viu lá fora o que eu sei fazer. Jimmy recebe ordens, e Jimmy as obedece muito bem. Sabe qual a diferença entre vocês dois? É que eu ainda não reparei direito em você. Mas no dia que isso acontecer, senhor McCartney, você será parte do meu lúgubre espetáculo: com cordas, lâminas e... Fogo. Muito fogo.

O aprendiz ficou em silêncio. Deu as costas ao avatar e abraçou a nuca. Algo o impelia a continuar ali, e não eram os beijos, não mais. Seu coração batia forte, suas mãos suavam, mas nada voltava ao normal como das outras vezes. O corpo parecia querer tudo aquilo, diferente dos mal-estares anteriores. O que poderia ser? Logo o questionamento foi interrompido pela voz suave e marcante de seu mestre.

-E algo me diz que você quer ser protagonista nessa atração... Uh, eu escolhi bem a palavra! Atração. Duplo sentido. –Deu uma risadinha.

-E-Eu preciso pensar. –Saiu dali indo em direção à grande cama. Sentou-se em um dos lados e abraçou os joelhos. Os olhos coloridos miravam perdidos o horizonte. Sua cabeça estava a mil com as novas indagações.

FIXAÇÃO - MclennonOnde histórias criam vida. Descubra agora