FIXAÇÃO - Mclennon

Lâminas

Há quanto tempo havia tido uma noite de sono?

McCartney não fazia a mínima ideia da última vez que havia dormido. Semanas? Meses talvez? A última recordação foi de um dia aleatório enquanto ainda estava na rua. Encontrava-se junto de sua mãe tentando aquecer aquelas mãos pequenas e maltratadas pelo tempo. Dizia para ela e para si mesmo que tudo ficaria bem, que era só mais uma noite. Mais uma de tantas.

Nos meses que esteve no LarNova não chegou nem a ficar cansado. Depois daquela vacina especial que eles o haviam dado, só se deitava na cama para pensar sobre os infinitos livros que lia todos os dias. Sua mente não parava e um súbito sentimento de agonia lhe acometia por diversas vezes durante a madrugada. Só nunca se deu conta que o Composto 99 também tinha "remédio" para isso, um antídoto anti-surtos –uma supressão de tormentos.

Um verdadeiro ser humano-máquina. Todos no LarNova eram máquinas que não paravam. Aquelas instalações eram a engrenagem do mundo. O relógio de pêndulo era um lembrete constante dentro do castelo. Enquanto a humanidade dormia, eles trabalhavam; correndo contra o tempo que tique-taqueava às pressas, como se avisasse por mais um apocalipse, mas que eram os mesmos tique-taques desde o surgimento dos ponteiros.

Sem saber eles eram a esperança do planeta.

Corriam para parar o tempo, para que os ponteiros do relógio estagnassem e os dígitos das máquinas travassem. Mas a areia da ampulheta corria fina por entre os dedos, absolutamente implacável. Irremediável.

O jovem olhou para o criado-mudo ao lado da cama e pegou o relógio que lá estava. Colocou no braço e viu as horas. 18:20h. Em seguida pegou os óculos V8 e pôs no rosto.

Automaticamente teve as íris escaneadas e o acesso parcialmente liberado. Era pedido o número e ele informou "6." Magicamente foi lançado dentro do jogo. Um campo aberto, florido, banhado pelo calor do sol. Sentiu estar em outro planeta e por um momento se perguntou se havia sido tragado por alguma máquina estranha. Mas logo reparou palavras e números ao seu redor, seguidos de uma voz robótica.

Olá, Paul! Bem-vindo ao V8. Alta tecnologia exclusiva NYCZ/LarNova. Eu sou a PYX e estou aqui para auxiliá-lo na sua mais nova jornada pelos caminhos deste maravilhoso universo. Deseja seguir o tutorial ou iniciar sua primeira luta?

As duas opções apareceram brilhantes à sua frente. Ele estendeu a mão e escolheu ir para o tutorial.

Levado para outro cenário –mais especificamente uma sala toda branca- ele avistou um homem aleatório a sua frente; não lhe era estranho naquele primeiro momento, mas em segundos se lembrou de que era um funcionário da NYCZ.

Aqui você está livre para escolher armas e efetuar quaisquer golpes dentro de qualquer arte marcial ou esporte de combate, como boxe ou savate; será necessário fazer apenas a seleção nas configurações ou deixá-las pré-definidas. Pode também ativar e desativar diálogos e comandos dos avatares e sistema. E atenção: todos os golpes do jogo serão sentidos de maneira real, sem efeitos colaterais na realidade do jogador.

McCartney "tocou" na opção de configurações em neon e uma lista foi mostrada. Ele fez todas as seleções e deixou salvo. Do outro lado ele pôde ver as configurações PYX e lá ativou o comando por voz. Achou ser mais prático.

-PYX, iniciar luta.

Nível Elementar, primeiro round: número 6 versus número 7815. Iniciar.

Ambos em posição de combate entreolharam-se de modo desafiador. McCartney fez o primeiro movimento com uma tentativa de soco, mas o avatar masculino se esquivou, afastando seu punho. Sem demora arriscou uma tática: esticou o braço para baixo, como se fosse socar-lhe a barriga, e quando viu o avatar mirar para baixo, jogou sua perna para cima, acertando-lhe em cheio a cabeça pelo lado direito.