MONSTRO À ESPREITA
Pouco ofegante eu senti um pulsar estranho por todo meu corpo depois das palavras dele, mas não era de medo. Muito longe disso... Era animador, talvez desafiante. Não me entendi. Estranhamente eu não era mais o mesmo ainda que estando conscientemente ali. Não era outra personalidade, eu tinha certeza.
Sim, eu estava naquele quarto com ele.
Apenas... Tudo em mim mudava quando estava junto a ele.
Vendo meu peito curvado sobre o encosto da cadeira ele se ajoelhou na minha frente. Ainda segurava o chicote com força em frente ao tórax, deixando à mostra as veias sobressaltadas das suas mãos. Eu me senti tão atraído por elas... Por quê? Que desordem maldita de pensamentos! Que bagunça o meu raciocínio... Ah, mas que lindos eram os seus dedos... Eu queria...
Eu queria cada um deles na minha boca.
Um por um.
Com sangue e suor.
Por que eu queria? Eu não sabia, e ele tratou de me afastar das inapropriadas reflexões com uma pergunta: "Sério, o que você quer?"; e eu senti vontade de rir, porque eu sabia o que queria, mesmo sem saber o porquê. Respondi no mesmo tom provocante: "Eu também quero saber..." Ele gargalhou alto e eu contemplei o seu sorriso.
Eu também queria aquela boca.
Seus dentes na minha carne.
Sua língua no meu...
"A verdade, Paul. Se mentir é pior." Disse ele me dando duas tapinhas no rosto.
Olhei atentamente para seu rosto sedutor e respondi meio exigente: "Quero o último momento que me deu no jogo." Ele se volveu sério e disse:
"A primeira vez pela segunda vez?... Creio que não." Encostou sua testa molhada na minha. "O quê? Você acha que eu penso igual ao meu avatar? Aquele que você mexeu nas configurações tendo acesso à minha vida, aos meus segredos e aos meus sentimentos? Acha que eu sou apaixonado por você? Hum?" Permaneci atento em silêncio. Ele se afastou um pouco e depois cuspiu no chão. Voltou-se venenoso: "Ei, vice-presidente: você será meu fetiche infame. Meu brinquedinho. A porra da minha puta mais suja, ouviu?" Recebi um terceiro tapa com mais força e mesmo assim olhei bem pra ele. Mordi o lábio e disse debochado:
"Você fala demais."
E merda, aquele nem foi o primeiro round.
♦♦♦
TREZENTOS SORRISOS SANGRENTOS
Lennon se levantou dali com uma ira sombria, olhando fixamente para as íris coloridas que naquele instante pareciam mudar de cor a cada centésimo de segundo; tomou nova distância dele -voltando para onda estava- imerso em um silêncio sepulcral. Sem proferir uma só palavra ele lançou o chicote contra aquelas costas que foram açoitadas havia pouco tempo. Mais um pouco de sangue espirrou pelo chão ao som de outro grito, este contido prontamente por um trincar de dentes.
Dez açoitadas se seguiram antes de dizer alguma coisa. E assim que falou, continuou flagelando o aprendiz com força descomunal, deixando-o se contorcer na cadeira a cada investida.
-Meu aprendiz acha... –Rugiu ofegante. –... que eu falo demais.
McCartney sentia a raiva do seu mestre abrir a sua pele em pequenos mas fortes cortes. Seu sangue escorria devagar por suas costas em tímidas gotas fazendo trajeto até a sua única veste, brilhando fortemente pela luz incandescente. Os pingos converteram-se depois em manchas maiores, que escorriam com mais fluidez e que acabavam se acumulando a ponto de atingir o assento da cadeira.
VOCÊ ESTÁ LENDO
FIXAÇÃO - Mclennon
RomanceJohn Lennon estava em busca do seu próximo aprendiz pelas ruas de Zerbiek. Ele seria um exímio assassino e conhecedor de todas as artes, ignorando limites e sensibilidades, ultrapassando o extremo de seus antecessores. Paul McCartney foi escolhido p...