A outra face

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Tyrup, fronteira de Zerbiek e Horrb.

Os olhos assustados de McCartney vez ou outra cruzavam com os de Lennon. Este que a todo instante parecia querer tirar alguma coisa daquele que possuía somente os pedaços de pano que chamava de roupa. Tomou um leve susto quando o escutou fazendo uma pergunta:

-Quando foi a última vez que vimos o sol, Paul? –Cruzou as pernas e apoiou as mãos no banco.

-Acredito que foi há cinco anos, senhor.

-Você acha que essas nuvens um dia nos darão trégua novamente?

-Talvez não estejamos vivos para ver isso acontecer... –Olhou a paisagem pela janela do carro. Árvores mortas e imensos hectares de terras inférteis. As nuvens cinza que um dia foram indicativo de chuva, passaram a ser um lembrete constante da ignorância humana para com o meio ambiente.

-Eu costumava dizer que essa terra era amaldiçoada. –Desviou o olhar e passou também a observar a morte pela janela. –Amaldiçoada por trazer tanta devastação. Mas em pouco tempo eu percebi que ela nunca teve culpa de nada, e só revidou à altura. –Suspirou, ajeitando a impecável gravata. –Cada um de nós merece este inferno diário.

-Tínhamos que aprender do pior jeito.

-"Se não por amor, que seja pela dor." Já dizia Stuart.

-Quem é Stuart?

-Stuart foi meu mestre há muitos anos. A melhor pessoa do mundo, que teve um fim trágico. Éramos as duas grandes cabeças comandando um império.

-O que aconteceu com ele? –Perguntou intrigado.

-Suicídio. –Ergueu mais a cabeça com a resposta. Seus olhos pareceram marejar de descontentamento.

-Meus sentimentos...

-Não há problema. –Disse firme. –A empresa continua aí, precisando de mais um auxílio. E espero que você se encaixe, senão será apenas mais um sicário.

-Farei o que estiver ao meu alcance, senhor.

-Espero que depois do treinamento você faça até mais do que isso.

Em poucos minutos já avistavam de longe um castelo gigantesco. Branco, imponente, e sozinho no meio daquele ambiente devorado pelo apocalipse químico de décadas.

McCartney tentava a todo custo controlar a sua respiração, mas sempre era atrapalhado pelo chiado que seu peito emitia. Lennon escutou bem aquilo e apertou os olhos em análise, mas poupou comentários. Não falou nada até chegar em frente ao que considerava ter sido sua melhor ideia.

Saíram todos do veículo e o moreno –impressionado- ficou boquiaberto com o tamanho daquela instalação.

-Bem-vindo ao LarNova. –Disse o mestre entusiasmado.

-Magnífico... –Sorriu em admiração.

-Vamos. Preciso te apresentar a alguém importante.

As imensas portas brancas de madeira fizeram uma primeira saudação aos seus visitantes. Eram ainda mais majestosas do que a própria instalação, um espetáculo à parte. Continha maravilhosos desenhos talhados de diversos animais, brindados com detalhes dourados que sem dúvida alguma eram de ouro. Elas automaticamente se abriram com a presença deles.

Bem atrás daquela monumental entrada estava uma mulher; socialmente bem vestida; em pé, bem fincada em saltos finíssimos, e ostentando duas tranças negras enormes que caíam elegantemente sobre os seus ombros. Foram recepcionados com um sorriso amistoso.

FIXAÇÃO - MclennonOnde histórias criam vida. Descubra agora