O inferno dos reis - Parte 2

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FENDA

Gosto de quando ultrapassa todos os limtes...

De volta ao quarto depois de terrível esforço, John caiu de joelhos no mármore lustroso; com a cabeça baixa ele observou sua imagem debilitada no reflexo. Ainda pôde sorrir vendo tal estado no qual se encontrava. Seu corpo cambaleou para despencar, mas recebeu uma advertência carinhosa do seu exigente mestre:

-Nem pense em cair, John...

-Ou o quê? –Ergueu a cabeça. Sua voz saía cada vez mais cansada. -Vou estragar seus planos? Hm? –Deu de ombros. –Já estou fodido mesmo.

Assim permitiu-se tombar devagar, deixando todo o peso de sua carne se esparramar pelo chão. Só precisaria de alguns segundos daquela forma para que tivesse mais um par de horas com quaisquer que fossem as torturas que McCartney o submetesse.

E observando ele se aproximando com cuidado, pensou em qual seria seu próximo passo, tendo em vista que as opções dentro do quarto estavam cada vez mais limitadas. Ele não pensou sobre o elemento que os ligavam pelas entranhas: a imbatibilidade.

-Nada tão ruim que não possa piorar, não concorda? –A boca suculenta mexia graciosa de cima.

-Vai me fazer ver Deus, McCartney? Acho que já o vi quando você me lambeu da última vez.

-Gostou de vê-lo, John? –McCartney então se ajoelhou próximo ao corpo estirado dele.

-Ele é perfeito, pode apostar. –Lentamente seus olhos se fecharam e seu sorriso abriu escancarado. –Deve ser ótimo me ter assim, não é? –As íris âmbares encararam o mestre que estava em paz prestando atenção a tudo.

-Assim como?

-Completamente. –Voltou-se sério, hipnotizado.

-Não. Completamente ainda não. –O aprendiz acariciou a cabeleira ruiva de Lennon que estava suja e bagunçada, depois, acariciou ambos os lados de seu rosto abatido com as costas da mão. –Mas garanto que será muito em breve.

Aquela tranquilidade unida àquela frase deixou Lennon temeroso por um instante. Chegou a se perguntar qual seria o próximo extremo do jovem McCartney naquele perigoso jogo. Qual seria sua pior tortura? Haveria alguma? Ele não obteve resposta; na verdade não houve tempo para pensar em uma.

McCartney pousou seu polegar no meio da testa de seu mestre e pressionou levemente fazendo um movimento preciso de uma meia lua. Ele então viu Lennon desacordar sem fazer qualquer som.

O resultado daquele movimento viria horas depois.

Lennon abriu os olhos assustado, recordando do que havia acontecido da última vez que estava consciente. Deitado e devidamente coberto, estava acima dele uma luz branca que encandeava tudo. Encolheu as vistas para se acostumar com a claridade repentina e olhou para os lados. Reconheceu não somente o lugar como também a pessoa que estava sentada ao seu lado direito da cama.

-Bom dia, John. –A voz macia de seu aprendiz preencheu a sala.

-Olá, flor do dia. –Sorriu cínico. –Pode me explicar por que estou na enfermaria?

-Apenas para te deixar melhor para uma próxima rodada. Não gostou?

-Não precisava disso. Com certeza eu poderia aguentar. –Suspirou relaxando a cabeça no travesseiro.

-Claro que suportaria. –McCartney atestou. Mas o tom que havia usado não era irônico. Ele estava realmente concordando. Mas o que estava errado? Havia sim algo de errado e desconfiado daquilo tratou de se certificar mais uma vez.

FIXAÇÃO - MclennonOnde histórias criam vida. Descubra agora