O inferno dos reis - Parte 1

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O que havia sido aquele recente espetáculo? Eles não saberiam dizer.

Envoltos em uma nuvem de devassidão inacreditável eles pareciam alcançar o impossível –incluindo a comutação de poderes, a influência sobre os corpos um do outro, uma relação de reciprocidade em sua totalidade. Deixaram-se permitir mais.

A morte era o limite.

Ou talvez não...

-O que tem em mente, McCartney? –Indagou rente à boca de seu aprendiz. A pergunta saiu como um cochicho sedutor, acompanhado de um tocar de lábios estalados. Ainda estava sentado sobre a penteadeira com ele preso entre suas pernas. McCartney o segurou pelos fios acobreados, fazendo-o sutilmente pender a cabeça para trás.

-Primeiro colocá-lo em meu lugar... –Sua boca farta escorregou pela linha do maxilar de seu mestre até a orelha. –Deixá-lo prostrado. –Completou com uma arfada e uma mordiscada no lóbulo.

-Fazer as mesmas coisas que fiz com você? –Seus olhos reviraram antes de fechar. Tentou soar prepotente, mas só conseguiu dar-lhe a certeza de sua influência sobre si naquele momento.

-Muito pior, mestre. –Seus lábios seguiram para o pescoço, fazendo lá um trabalho prazeroso.

-E depois? –Mordeu o canto da boca.

Ao interromper dos beijos McCartney lentamente foi ao encontro do rosto embevecido de Lennon. O presidente abriu os olhos ainda sob um sentimento hipnótico, se perguntando do porquê ele havia parado.

-Fazê-lo implorar por mim, da mesma forma que implorei por você. –Retrucou manso. Seus dedos soltaram os fios ruivos e pousaram na nuca de seu mestre. Seu semblante era um misto de dor e querer, absurdamente confuso.

-Como pensa em fazer isso? –Sorriu incrédulo e sedutor. Claramente duvidou de tamanha façanha.

-Primeiro um desafio. –As íris multicores passearam pela face irresistível de Lennon.

-Faça-o. –Deu de ombros.

-Beije-me de olhos abertos.

Fazendo pouco caso da situação, Lennon segurou o queixo de seu aprendiz e lhe trouxe a boca para perto da sua, sorriu rente a ela e em então prosseguiu com o beijo.

Grande, faminto, abrasador, provocante em último nível. De olhos abertos, atento aos que estavam a sua frente. Sem pressa, que já cantava vitória durante toda aquela permanência, ditando o ritmo e guiando até que... Um instante de desnorteio. Seu controle havia sido sobrepujado por uma cadência simples, que degustava sua boca como o mais fino prato. Explorador, de falsa timidez, tão estimulante quanto sua voraz empreitada; de equilibrada e magnetizante respiração; inédito, que o desarranjou, deixando-o à mercê de seu até então inexperiente aprendiz.

E assim, inevitavelmente, ele fechou os olhos.

Alguns tantos segundos se passaram até perceber tudo, e separou-se imediatamente quando se deu por si. Foi uma derrota curiosa.

-Droga... –Lançou ofegante e meio atordoado, levando as mãos até as nádegas de seu aprendiz. –Vamos, me coma de novo, filho da puta. –Tentou ainda assim manter a concentração ao mirar novamente as íris coloridas.

-Você não conseguiu. –Sorriu convencido, triunfante. –A sua confiança transparece no beijo, mestre.

-Pecado gravíssimo. –Ironizou. Sorriu nervosamente, esperando que ele lhe tomasse como da última vez.

-Mas respondendo à sua ordem... –Arrancou-lhe um beijo rápido. –Eu vou te comer sim, do jeito que você quiser, em qualquer lugar. É o que eu mais desejo agora, acredite. –Suas unhas cravaram nas coxas de Lennon, levando-as ao redor de sua cintura e arrancando-lhe assim uma excitante arfada baixa. –Mas antes eu vou fazer a sua boca rogar pelo meu nome e pedir desesperadamente pelo carinho que recebeu hoje.

FIXAÇÃO - MclennonOnde histórias criam vida. Descubra agora