Insurgência 3 - Subversão

89 6 35
                                    


-Meus benefícios, mestre. Estou curioso por eles.

Estas foram as frases proferidas por McCartney enquanto ele ainda ostentava seu grande sorriso bizarro. A expressão de Lennon era de raiva e surpresa misturadas a uma curiosa confusão. Havia sido uma atitude sagaz, porém inimaginável.

-Como deslocou o ombro sem fazer um único ruído? –Frisou o cenho com a pergunta. Ajeitou-se melhor na poltrona e se reclinou sobre os joelhos, prestando máxima atenção em seu aprendiz.

-Digamos que... A dor não faz mais sentido. –Olhou para a nítida anomalia. –Com licença... –Com o cotovelo pra fora ele girou o braço, levando o ombro de volta à respectiva articulação sem qualquer dificuldade. –Pronto. Novo em folha. –Fez um rápido movimento para o lado.

-Quem consegue deslocar um ombro e colocá-lo de volta como se estivesse mudando um objeto de lugar? –Perguntou interessado e ainda incrédulo.

-Alguém que pode ser muito interessante a outro. –Sentou-se por ali e lançou um olhar lascivo ao seu mestre. –Pode fazer o mesmo com os meus joelhos se quiser... Com os meus dedos... Minha mandíbula.

-Sim, muito interessante. –Suas expressões relaxaram. Levantou-se então da cadeira e foi até próximo a ele. –Não sei muito bem o que pensar. –Tratou de livrá-lo da corrente que o prendia pelo bíceps. O grilhão caiu barulhento no piso. –Ou talvez esteja pensando em muita coisa ao mesmo tempo.

-Podemos pensar juntos. –Disse subtil.

-Suas sugestões certamente envolveriam sexo. –Agachou-se bem ao lado do aprendiz particularmente interessado em sua resposta.

-Não só sexo. Violência. –Molhou os lábios aparentemente sedento pela proximidade. –Do jeito que só o senhor é capaz de fazer.

-Sim, claro... –Sorriu ao olhar de relance para baixo. –Porque de uma hora pra outra você virou adepto do sofrimento. Quer que eu realmente acredite nisso?

-Eu não sou mais o mesmo, mestre. –Voltou-se para ele dessa vez de joelhos e mãos no chão. –Nem o mendigo, nem o aprendiz e muito menos a pantera. –Atreveu-se a aproximar seu rosto do dele. –Agora sou superior a tudo que já fui.

-E quem é você agora? –Indagou com surpreendente parcimônia.

-Um titã, assim como você.

A aparente calmaria que tomava conta de Lennon era na verdade raiva extrema; algo que nem ele nunca tomou pleno conhecimento e muito menos poderia controlar. Tamanho ódio só foi sentido pelos seus autodeclarados inimigos. Todavia, dessa vez tinha uma pequena diferença que daria outro rumo à história de ambos.

Há uma linha tênue entre o amor e o ódio.

-Peito no chão agora, McCartney. –Rosnou baixo com um seu sorriso venenoso.

-Tudo que quiser, mestre. –Passou a língua pelo lábio superior, acatando a imediata ordem.

Deslizou fácil pelo piso, mantendo assim a parte da frente do corpo voltada para o mármore. Ouviu logo depois Lennon se levantar e ir até sua antiga penteadeira. Lá ele abriu uma das gavetas e retirou algo. O aprendiz escutou um tilintar do que pareciam ser finas correntes. Preferiu permanecer calado para que não houvesse quaisquer interrupções ali.

Só quando o mestre se ajoelhou ao seu lado pôde ver que eram cilícios: as cintas de anéis de ferro incrustadas com seus espinhos afiados; largas o bastante para dar conta de metade de sua coxa. Aquilo seria extremo. Deliciosamente extremo.

Seguindo em silencio, Lennon estirou bem as cintas no chão –uma de cada lado das pernas de McCartney– e fez com que ele as erguesse um pouco, arrastando assim os objetos perfurantes para baixo de suas respectivas coxas e depois abriu-lhe mais as pernas. O aprendiz sentiu a dor inicial de ter espinhos lhe cutucando a carne, mas este só havia sido o começo.

FIXAÇÃO - MclennonOnde histórias criam vida. Descubra agora