-Pra mim, comer um sanduíche é a segunda melhor coisa do mundo, Smith.
-Qual seria a primeira coisa, mestre Lennon?
-Torturar filhos da puta.
Abocanhando o produto que acabara de comprar em um dos infinitos fast food espalhados pela capital da Linha Quatro, John Lennon passeava como um rei entre as ruas constituídas do mais resistente concreto já inventado pelo homem. A cidade era uma fortaleza indestrutível e impermeável.
Estava acompanhado de dois de seus sicários, um de cada lado, sempre vigilantes, atentos a qualquer movimentação suspeita que pudesse prejudicar seu mestre, que estava ali para mais uma de suas importantes missões.
-Sabe... –Continuou com a boca cheia. –Por mais que isso seja praticamente feito de plástico... O gosto está ótimo.
-Fiquei sabendo que a terra está ficando saudável e pronta para o cultivo em trinta anos. Mais um progresso do nosso continente.
-Quem liga? Até lá já terei tratado de pelo menos cinco tipos de câncer. –Deu de ombros.
Antes de poder responder àquela fala, viu seu mestre parando no meio da calçada de maneira repentina. Olhando atenciosamente para um ponto. Ainda segurava metade do sanduíche na mão.
Smith viu o que era a cidade perto deles quando pararam quase juntos. Muitos carros indo de um lado a outro com suas buzinas ativas e faróis embaçados. Pessoas passavam apressadas entre eles, preocupadas com seus horários: com tempo para chegar, sem tempo para sair, nenhum tempo para viver. Vestidas de maneira praticamente igual, numa moda monocromática absurda. Nada semelhante aos tempos dos seus pais, que um dia também foram aprendizes num mundo completamente diferente.
-Nesse tempo todo que eu venho selecionando vocês... –Disse Lennon ainda atento ao mesmo lugar. –Eu sempre fui a lugares cheios de pompa, repletos de pobres desgraçados intelectuais. Quão burro eu pude ser?!
-Porque diz isso, senhor?
-Veja. –Apontou para um homem sentado no chão.
O sicário avistou um mendigo. Estava em frente ao prédio chique daquela que veio a ser uma das maiores empresas telefônicas do Segundo Continente. Usava roupas esfarrapadas e se encontrava no meio do lixo, tendo nas mãos um prato sujo e amassado. Com seu cabelo desgrenhado e barba cheia, ele balançava o prato de um lado a outro, pedindo por qualquer coisa que matasse a sua fome. Tão magro que mal podia com o peso do próprio objeto.
As pessoas não notavam a sua presença ali, e se notavam, ignoravam, como se ele não fosse digno de viver entre aquelas almas corrompidas. Tinha o rosto encardido, que carregava um ferimento na testa e um inchaço terrível no olho direito.
Lennon se aproximou daquela figura sem que ele percebesse e agachou ao seu lado. O pobre rapaz reconhecendo aqueles ternos risca-de-giz, se apavorou. Não teve forças para se levantar e saiu a se arrastar pelo lixo em desespero.
-Por favor, não! Eu não fiz nada! –Tentou gritar quase afônico.
-Ei, rapazinho. –Lennon tentou acalmá-lo. –Eu não vou te machucar.
-Não! Vocês me disseram isso antes de me baterem! –Encolheu-se, tentando esconder a cabeça entre as pernas. –Vocês disseram!
-Quem fez isso com você? Pode me dizer?
-Um de vocês ontem! Era grande e forte!
-Smith... –Voltou-se para o sicário. –Descubra quem passou por aqui ontem. Veja as assinaturas nos livros e nas imagens das câmeras das duas ruas.
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FIXAÇÃO - Mclennon
RomanceJohn Lennon estava em busca do seu próximo aprendiz pelas ruas de Zerbiek. Ele seria um exímio assassino e conhecedor de todas as artes, ignorando limites e sensibilidades, ultrapassando o extremo de seus antecessores. Paul McCartney foi escolhido p...