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Pov Carol

- Carol? - Escuto Rafael bater na porta do banheiro.

- Entra. - Falei e logo ele estava parado na minha frente.

- Por que está trancada aqui? E porque está chorando? - Ele perguntou secando algumas lágrimas que insistiam em cair.

- Tenho medo da reação dela.

- Reação do que? - Ele pareceu pensar por dois segundos. - Ah, entendi. Vai se assumir?

- Isso. - Falei e bufei frustrada por estar com medo.

- Mas é isso que quer fazer?

- Sim, Rafa. Eu não aguento mais me esconder. - Me levantei do chão e lavei meu rosto.

- Então ergue a cabeça e esteja pronta para qualquer tipo de reação.

- Eu tenho medo.

- Então não fala nada.

- Não! Eu vou falar. - Falei assim que terminei de secar o rosto.

Rafa segurou em minha mão e comentou.

- Você está até com a mão gelada. Precisa se acalmar antes de encarar essa situação. - Ele falou e saímos do banheiro, eu logo sentei em minha cama, ao lado do meu irmão.

- Eu estou com muito medo, tato. - Falei e logo desabei a chorar, de novo.

Quando eu consegui parar de chorar, Rafa me levou até a sala e meus pais, e Renan, me olhavam preocupados.

- A Carol precisa contar uma coisa, enquanto ela não terminar de falar, não falem, por favor. - Ele pediu e todos ali assentiram.

- Não sei como vocês vão reagir. Mas não tem outra maneira de dizer e eu nem quero ficar enrolando. - Falei sentindo minha garganta se fechar e o ar começar a fazer falta. - Já que é pra tirar o band-aid, que ele seja arrancado de uma vez, né? - Eu suspirei pesado. - É o seguite, eu sou lésbica e eu não aguento mais me esconder dentro de um maldito armário. Eu estou gostando de uma mulher e ela me faz muito feliz, como eu nunca fui antes. Eu também não aguento mais mentir pra vocês, fingindo achar algum menino bonito pra agradar vocês e coisas do tipo. Eu sei que quando o Rafa se assumiu vocês viraram a cara pra ele e até o expulsaram de casa. Mas ele mesmo me disse que não tem porque eu ficar me escondendo, eu já tenho minha casa e minha independência. Então é isso. Se alguém aqui for contra, peço que se retire da minha casa e não volte mais.

Rafael estava do meu lado com as mão em meus ombros me passando toda a confiança que eu não tinha, ele sorria orgulhoso de mim. Quando levantei o olhar, meu pai também sorria dessa forma, assim como Renan. Minha mãe tinha uma expressão neutra no rosto. Ela se levantou e eu tive a certeza que ela ia embora.

Abaixei minha cabeça, senti toda a minha visão escurecer por milésimos de segundos, mas foi o suficiente para eu me desequilibrar e cair sentada no chão, começando a chorar desesperadamente.

Que ótimo, perdi minha mãe! Ela nunca mais vai querer olhar na minha cara. Eu realmente tinha a esperança de que ela iria aceitar, afinal ela voltou a falar com o Rafa, certo?

No fim eu estava errada e ...

Senti alguém me abraçando, pensei ser o Rafa, mas os braços eram finos e delicados demais. Uma mão levantou meu queixo e minha mãe estava ajoelhada na minha frente.

- Levanta, minha filha. - Ela falou gentilmente e eu levantei com a ajuda dela e do Rafa, logo depois ela me envolveu em um abraço apertado. - Tenho orgulho de você minha filha. - Ela se desvencilhou do abraço e olhou para Rafa. - De vocês.

- N-Não vai b-brigar comigo? - Ela sorri e dá uma risadinha fraca.

- Foi difícil mudar, muito difícil, mas desde que voltei a falar com Rafael, ele me explica e me aconselha sobre estes assuntos. Acho que no fundo ele só estava preparando o território, para quando você quisesse se assumir. - Ela confessou e eu sorri. - Ele me fez mudar de opinião e me fez ver o quanto eu errei em relação a ele e que eu não poderia mais cometer o mesmo erro. Vocês já sofrem bastante lá fora e ainda tem que sofrer dentro de casa? Não mais, meu amor. - Ela deixou um beijo delicado em minha testa e secou algumas lágrimas.

Eu ainda chorava, mas agora era de felicidade.

- Obrigada, mãe. - Eu dei mais um abraço e logo senti que meu pai e meus irmãos abraçaram a gente.

- A garota que você está gostando é a que estava aqui outro dia? - Minha mãe perguntou curiosa, assim que sentamos no sofá.

- Uh. Por que a pergunta?

Como ela desconfiou?

- Você estava muito estranha e eu ouvi você falando que só queria beijar em paz, seu pai brigou comigo porque eu fiquei ouvindo atrás da porta.

- Sim, isso é muito feio, Rose. - Ele falou fingindo estar bravo.

- A senhora sabe desde aquele dia? - Perguntei levantando do sofá. Eu estava pilhada demais.

Fiquei todo esse tempo pensando em como contar tudo pra ela, pra ela já saber? Não é possível!

- Sim.

- E porque não falou nada? Sabia que eu fiquei madrugadas em claro, pensando em como te contar isso? Eu passei noites chorando, pensando que a senhora iria virar as costas pra mim. Eu ... Eu não acredito nisso. - Falei irritada.

- Minha filha, se acalma. - Meu pai falou indo para a cozinha, logo me entregando um copo de água com açúcar.

- Eu não falei porque não queria te pressionar. Queria que se sentisse à vontade para falar conosco. - Ela se explicou.

- Mãe eu estava quase tendo um ataque para falar com vocês. Eu estava com muito medo. Que saco!

- Medo do que fillha? - Meu pai perguntou e eu suspirei.

Às vezes acho que eles vivem em Nárnia. Eles não escutam o que eu falo, não?

- Não queria que parassem de falar comigo. - Falei e sentei no sofá.

- Eu sei que errei muito, mas isso mudou minha filha. - Minha mãe falou me abraçando de lado e em poucos minutos eu estava mais calma.

- Já dizia o tuiteiro, Rafael andou para que Carol pudesse correr. - Renan brincou fazendo eu e Rafa rir.

- Não entendi.

- É meme, mãe.

A tarde foi muito boa, eles acabaram ficando a tarde toda comigo, assistimos diversos filmes, conversamos muito e óbvio que rolou interrogatório sobre a Day.

- E ela te trata bem, filha? Sabe, o papai fica preocupado.

- Pai, relaxa que a Day é capaz de latir se a Carol mandar. - Rafa falou e eu concordei.

- Isso é verdade, mas sim, papai. Ela me trata super bem, ela me deu muita força e coragem pra falar com vocês.

- Dá pra perceber como gosta dela, seus olhinhos brilham. - Minha mãe comentou e Rafa completou.

- Eu disse.

- Bom, já está ficando tarde, nós vamos pra casa do Renan, de novo.

- Não querem mais ficar aqui? - Perguntei fazendo biquinho.

- Não é isso minha princesa, amanhã ele vai nos levar cedo pra casa.

- Tudo bem, papai. Boa viagem.

- Amo você.

Nos despedimos e logo eu estava sozinha ali. Não pensei nem duas vezes, peguei meu celular e liguei para Day.

The Interview - Au DayRol | ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora