O vento se chocava contra minhas bochechas, senti como um beijo cálido de algum Deus gentil. Pela primeira vez eu não estava com medo e sim em plenitude enquanto deslizava por entre as flores rubras e graciosas. Meu vestido negro se arrastava em uma caminhada lenta entre o que parecia ser uma floresta, estava frio e minha pele se ouriçava a cada passo que eu dava para algum lugar, ou lugar nenhum.O sussurro frio batia em minhas costas nua como a palma aberta de algum ser da noite, aqueles que encontro apenas em livros e contos infantis para crianças irem dormir com paranóia e medo de que algo esteja debaixo de suas camas.
Já faz algum tempo que não o vejo em meus sonhos, seguem sendo solitários desde que cheguei no colégio, completamente sozinha em meio às imagens criadas como quadros de pinturas aflitas em uma galeria falida. Segui caminhando em direção ao desconhecido, como se estivesse sendo testada em uma nova realidade que buscava me instigar a descoberta de algo, quando dei por mim, não havia mais uma longa floresta pela frente, e sim, um bosque vazio com uma descida íngreme que me causou um escorregão ao tentar caminhar mais além. Quando finalmente consegui deslizar pelo local com a mesma graça e tranquilidade de antes, ao passar por uma árvore, lá estava eu em um labirinto.
A cor verde e vermelha era predominante no local, com folhinhas minuciosas nas paredes e rosas no chão, seguindo uma fileira até várias e várias curvas distintas. Cada vez que eu virava para procurar uma saída, as cores das rosas se modificavam e pareciam ficar cada vez mais escuras como se isso fosse possível.
Até então, eu não senti o medo me engasgar com as duas mãos vivas e trêmulas, ainda que estivesse um tanto ansiosa como um ratinho pedindo para escapar de sua tortura psicológica. E a cada passo mais perdida eu estava, como a Alice ao chegar no país das maravilhas, no fim, não era tão maravilhoso quanto pensava ser, ainda não tinha encontrado o meu chapeleiro maluco, apenas vazio e somente o sussurro do vento respondia aos meus clamores mudos e obsoletos, beiravam-nos ao ridículo e eu tinha plena consciência disso.
Mas o medo veio somente quando em meus ouvidos a sinfonia de uivos se destacou aos demais sons ou a falta deles, o medo voltou a preencher-me de forma que eu não conseguia escapar ao beliscar a minha própria pele e pedir e implorar para acordar ou buscar uma saída para de volta ao bosque. Fui calada pelo ar que me faltou ao cometer a plena estupidez de me virar para trás em busca do som.
Todavia, não havia nada, o que fora deixado para trás resultou apenas em um arrepio persistente em minha nuca, no entanto, quando voltei a olhar para frente, a imagem de um enorme lobo negro me encarava. Ao dar passos em minha direção, senti meu coração saltar dois pulos e me arrancar uma respiração fora do ritmo, condenando a mim mesma por sentir tanto medo de algo que não existe. A pelagem negra da enorme besta brilhava e voava junto a briza. Creio que ele pensava em me encurralar e só então me devorar com a fome que toma seus olhos vermelho vinho, brilhante, como a bebida em uma taça enfeitada e bem servida.
Me encolhi em meus ombros a cada passo que ele dava em minha direção, perscrutando todo o meu corpo com as enormes orbes imprevisíveis como um animal faminto e assassino. Ele me cercou e andou em volta de mim, de perto vi seu focinho mexendo como se degusta-se o cheiro de seu alimento apenas com o olfato.
Minha pele se arrepiou quando de repente o animal chacoalhou a cabeça e se sentou na minha frente. Meu coração antes fervido de tão rápido a velocidade de seu retumbar, voltou a se regularizar aos poucos, em um reflexo pela tranquilidade da besta ao minha frente, sua enorme língua estava para fora e parecia tranquilo demais.
O que percebi, ser um erro meu ao pensar que não se importava com minha presença. Descobri mais cedo do que pretendia, que na verdade, ele estava me guardando para algo maior que se escondia nas sombras. Notei a presença quando o animal sentado chiou em um choro estranho, e quando dei por mim, minha cabeça já estava no chão e uma enorme fera em cima do meu corpo.
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É você?
RomanceEm busca de um novo cenário para mudar sua vida, Sakura sai do orfanato para mudar de cidade e se internar em um colégio na cidadezinha pacata de Konoha. O que ela não entendia, era que pelas suas costas, existia um mundo sobrenatural, repleto de s...